quarta-feira, 23 de maio de 2018

Veremos...


É TEMPO DE BANIR AS CLAQUES

«1) A Juventude Leonina abriu um inquérito interno e a própria organização viu – tarde, mas viu – o Sporting retirar-lhe o apoio até à conclusão das investigações do que aconteceu na Academia de Alcochete. 

A Juventude Leonina tem centenas, talvez milhares, de membros e há muitos justos no mesmo bolo dos pecadores. A Juventude Leonina não é caso único. Veremos quantos dos que estão agora detidos pertencem à claque e, sabemo-lo bem, nos últimos anos houve mortos, feridos, invasões, ameaças físicas a jogadores e árbitros, cânticos que são uma vergonha, escoltas policiais como se o futebol fosse a antecâmara permanente de uma batalha. 

Perante todos esses evidentes sinais, a polícia cumpriu as suas tarefas imediatas, mas as autoridades fecharam os olhos. O Governo, desde logo, e as entidades que estão na sua dependência. Nalguns casos emitiram mesmo comunicados risíveis, como o fez IPDJ em relação ao Benfica.

No plano desportivo, Federação e Liga alertaram repetidamente para o clima de ódio e de intimidação – Fernando Gomes foi o mais ativo, esteve no Parlamento – mas sem consequências. 

Há mais de um ano escrevi nestas páginas um texto a apelar à intervenção do Presidente da República e fi-lo porque sabia que muitas pessoas tinham a mesma visão. Marcelo Rebelo de Sousa, que tem tido um notável mandato, não tem poder executivo, mas, possuindo uma magistratura de influência, nunca considerou este tema uma prioridade. Erro. É uma prioridade pelo imenso impacto social que tem. 

O que sucedeu em Alcochete terá sido, pelo choque e brutalidade, um acontecimento extraordinário com causas que conhecemos e que decorrem de um clima onde – é o que penso – o presidente do Sporting tem responsabilidades, não como mandante, mas pela sua actuação dos últimos meses. Mas o que sucedeu é sobretudo o resultado de um clima de impunidade que há muito grassa no futebol em Portugal e ao qual é preciso cortar o mal pela raiz. As medidas de coação aos 23 indiciados pelo ataque de Alcochete (já agora onde estão os outros?) são um poderoso sinal. Os advogados ficaram "chocados", mas, lendo os depoimentos dos jogadores, conseguimos imaginar o horror daquela tarde. 

Por que esperam as autoridades para proibir de vez as claques e os grupos organizados de sócios, obrigando os clubes a uma política de ‘ficha limpa’? O futebol precisa de respirar melhor. 

2) Hoje, como há uma semana, continuo a defender que a saída de Bruno de Carvalho é, neste momento, a melhor solução para o Sporting. Mas acho que o desfile rotativo de ‘notáveis’ na TV – em particular os que só aparecem nestas alturas – é um espectáculo penoso. E, sim, também considero que há muita informação feita sem cumprir os preceitos básicos do jornalismo que tem atingido o presidente do Sporting. Ora, tanta ligeireza conjugada com tanto afã em vê-lo pelas costas, não o abate, só o reforça.

Inácio, uma solução de recurso

Augusto Inácio, um sportinguista com provas dadas – no plano profissional e na sua devoção ao clube – regressa de novo a Alvalade. Não é exactamente uma novidade, mesmo que ele tivesse mostrado reservas quanto às últimas acções do presidente. Noutro contexto seria uma boa escolha, no actual é uma solução de recurso e nem sequer está em causa a relação com Jorge Jesus. Em primeiro lugar, não é nada líquido que o treinador continue no clube, em segundo, e após anos de costas voltadas, os dois fizeram as pazes quando Jesus entrou no Sporting e Inácio foi sempre um dos seus maiores defensores no espaço público durante estas três épocas. Talvez não sejam os melhores amigos e, o mais certo, é não haver química entre ambos, mas não seria impossível trabalharem juntos. A questão é que Augusto Inácio, muito importante por exemplo durante o processo de Marco Silva, entra agora demasiado colado a Bruno de Carvalho e isso retira-lhe autonomia e, no mesmo sentido, autoridade.»
(Nuno Santos, Ângulo Inverso, in Record)

Desejaria que as palavras Nuno Santos em relação às claques não passassem disso mesmo: palavras que inexoravelmente acabarão por cair em "cesto rôto", quer na esfera governamental, quer no restrito campo de acção do Sporting Clube de Portugal. Veremos...

Deixando para o fim o ponto 2) e  no que diz respeito a Augusto Inácio, sendo minha convicção que o seu assentimento ao convite que Bruno de Carvalho lhe dirigiu, só terá acontecido depois de estabelecida uma plataforma que lhe garantirá a autonomia que Nuno Santos entende lhe estará retirada à partida. Veremos...

Finalmente no capítulo do momentoso problema do Sporting, em que Bruno de Carvalho se assume como epicentro da tempestade, julgo que o dia de amanhã trará novidades que porventura ultrapassarão a posição de Nuno Santos...

Veremos...

Leoninamente,
Até à próxima

1 comentário:

  1. Caríssimo Álamo:
    Esqueceu, Nuno Santos, de perguntar pelas famosas sessões de esclarecimento que o presidente, no seu Monólogo do Vaqueiro de sábado passado, prometeu fazer nesta semana.
    Na verdade, aquele discurso talvez ainda venha um dia a ser analisado, para se saber quantas mentiras nele foram ditas. E podem, os seus indefectíveis adeptos, ter uma surpresa má.
    Concordo com Nuno Santos em quase tudo.
    Faltou dizer que uma SAD é hoje uma empresa. E, na actualidade, os gestores de uma empresa são avaliados não só pelo seu desempenho quanto aos objectivos, como pelos comportamentos, versus colegas, parceiros, clientes. BdC falha nesse ponto há pelo menos dois anos. Numa empresa normal, estaria já despedido.
    Aqui, o tíbio Marta Soares, como também tem interesses nisso, vai-lhe dar a hipótese de sair a bem e de se voltar a candidatar para poder ser reeleito. E quem se vai lixar é o Clube.
    Grande Abraço
    José Lopes

    ResponderEliminar