Jorge Silas escolhe entre José Mourinho e Jorge Jesus e explica a sua opção
Treinador do Sporting recorda os técnicos que mais o influenciaram
Treinador do Sporting recorda os técnicos que mais o influenciaram
«Jorge Jesus é o homem do momento no futebol brasileiro e Silas percebe bem a razão do 'fenómeno'. Em entrevista à Sporting TV esta quarta-feira o treinador do Sporting revelou a influência que JJ teve na sua carreira e não hesita: "é, realmente, um treinador excepcional". Também Mourinho "conseguiu sacar o melhor" de Silas que completou ainda a lista de 'notáveis' com Cruyff, Guardiola ou Pochettino.
O treinador que mais o influenciou: Todos os que apanhei ajudaram, mas depois temos algumas referências nacionais como o Jorge Jesus que tive duas épocas desportivas completas e é realmente um treinador excepcional. E também o Mourinho, só que o Mourinho foi menos tempo, foram quatro meses que deram para aprender muita coisa também. Se tivesse de escolher um entre os dois seria o Jorge Jesus pois passei mais tempo com ele, mas são os dois muito similares a nível de exigência e de capacidade. Depois apanhei outros treinadores muito bons, a minha melhor época como jogador foi o Cajuda, ele conseguiu sacar o melhor de mim, e eu acho que isso é muito importante. O Mourinho também estava a sacar o melhor de mim mas tivemos pouco tempo, eu acho que se tivéssemos passado uma época completa podia ter sido melhor, mas os números são números e o que sacou o melhor de mim em Portugal foi o Manuel Cajuda. Tenho alguns referências que não estão entre nós, a nível internacional estão mas o Menotti já não treina há muito tempo, o Cruyff, Guardiola é incontornável, e depois tento ir buscar ideia diferentes e aí podemos falar do Conti que tem ideias muito boas a nível defensivo, foi dos primeiros treinadores a resgatar a linha de 3 defesas que nós usamos muito e o Conti foi dos primeiros na Juventus e é um treinador que sigo muito. Depois há treinadores menos conhecidos, quem gosta de futebol conhece, como o Gasperini da Atalanta que também usa muito a linha de 3, há o Pochettino. Na realidade gosto de todos, acho que consigo apanhar coisas de todos, mas referências dois ou três, o Jorge Jesus e o Mourinho estão claramente entre eles.
Jesus disse que Silas e José Pedro iam dar treinadores: Quando apanhei o Jorge Jesus pensei que podia ser treinador pois aprendi tantas coisas com aquele homem, e tive pena de não o apanhar antes: todos os dias o treino era um desafio à minha inteligência e ele exigia muito de nós. Comecei a ver o futebol de uma maneira diferente depois de apanhá-lo. Ele tinha uma particularidade que era o diálogo com os jogadores, ele fala muito com os jogadores sobre futebol. Falava muito com ele, às vezes de acordo e outras vezes em desacordo, mas na nossa relação falávamos muito. Eu tinha muita liberdade, havia jogadores que não gostavam e não falavam, mas eu gostava. Essa troca de ideias originou esse pensamento de que podíamos ser treinadores. Já disse várias vezes que ele despertou ainda com mais força esse lado em mim.
Como se define enquanto técnico: Quando jogava aprendi a ajudar os colegas e a ser ajudado, não dava só instruções, também as recebia. Acho que isso é muito importante e vejo cada vez menos jogadores assim, e é uma pena, e uma das nossas guerras enquanto técnicos é essa, pedir mais comunicação e mais liberdade para tomarem decisões por eles próprios. Muitos treinadores pensam que mandam no jogo, mas nós não mandamos nada, quem manda são os jogadores pois eles é que decidem o que querem fazer. Nós podemos dar algumas indicações, mas na realidade na hora de decidir quem decide é o jogador. Eu enquanto jogador era muito assim, não numa perspectiva de querer ser jogador mas para ajudar quando antecipava que alguma coisa podia acontecer e então falava com os meus colegas. No Chipre já tinha acontecido isso uma ou outra vez pois o treinador estava castigado e pediu-me para dar uma ajuda desde o banco e eu ajudava. Ele pediu pois sentiu essa capacidade em mim e os meus colegas confiavam muito em mim, e foi por isso que alguns jogadores no Chipre assistiram a esse episódio, mas foi muito uma ideia conjunta, o treinador é que me pediu. É claro que já tinha ideias minhas, e com essa idade no Chipre, já fui para lá com 34 anos, e já tinha muitas ideias, e já as trabalhava em casa, pensava em muitas coisas, e sempre que podia ajudar ajudava.
A primeira vez na porta 10 A: O que sente uma criança a vestir a camisola do clube do coração? A primeira vez que vim à porta 10 A estavam ali 300 ou 400 miúdos, até cheguei a ter uma fotografia disso e depois não sei onde a meti. Nunca imaginei que pudesse ser um dos escolhidos, e é uma coisa que mexe muito connosco. Depois o facto de sermos escolhidos e podermos jogar no nosso clube que era e continua a ser o do coração, mas então vibrávamos mais com isso como miúdos. Depois somos profissionais e vivemos de maneira diferente.
Memórias guardadas: Esta foi a minha primeira equipa [mostra fotografias], o treinador era o César Nascimento e o adjunto era o Osvaldo Silva. No ano a seguir o principal era o Osvaldo Silva. Este colega que estava sempre ao meu lado ainda hoje é um grande amigo meu, é treinador e continuamos a falar muito de futebol. Isto era no antigo estádio e só de pisar esta relva era um sonho; víamos a equipa principal a treinar e íamos apanhar bolas pois nós jogávamos no pelado em frente à 10 A. Só de pisar a relva já era um sonho, então se pudéssemos jogar ou treinar era uma sensação incrível. Olho para isto com alguma nostalgia pois foi há 30 anos....Acho que é 87/88 e 88/89. Já nem sei bem (mostram-lhe medalhas). Estas foram de campeão distrital de Lisboa em 87/88 e depois ganhámos também a Taça de Portugal pois não havia campeonato nacional. Era o único título de infantis que havia. Era uma grande equipa, eu era infantil primeiro ano, era a melhor equipa do escalão, nós ganhávamos tudo e são medalhas que guardo passados 30 anos. Há pouco tempo o meu filho também foi campeão distrital e eu mostrei-lhe estas quando tinha a mesma idade e disse-lhe para as guardar pois é o que fica, são as medalhas e a amizade pois no futebol arranjamos muitas amizades. A maior parte dos meus amigos tem uma ligação ao futebol, ou jogaram comigo ou foi o futebol que nos aproximou. A amizade é um dos sentimentos mais fortes que podem existir e o futebol dá-nos isso tudo.
Chegar a treinador do Sporting aos 43 anos: Começar a treinar há muito pouco tempo e chegar a um clube com a dimensão do Sporting já é um feito assinalável, mas para mim que já joguei no Sporting e tinha o sonho de jogar nos seniores, um sonho que não concretizei, ser treinador é ainda mais especial. Neste sítio com o peso da história tenho de pensar na grande responsabilidade que é ser o líder da equipa sénior da Sporting, e isso é algo com que vivo bastante bem pois gosto muito de desafios. É claro que é especial ser treinador do Sporting em tão pouco tempo. Sonhava que um dia podia chegar, mas tão depressa… Se calhar não pensava que seria tão depressa.
Depois de ter sido jogador e treinador de futsal e futebol e comentador, o que falta? Prefiro jogar a treinar, naturalmente. Gosto sempre de falar de futebol, mas das coisas que eu fiz é aquela que eu gosto menos pois como comentador há ali uma linha entre o comentário e a crítica que é difícil não ultrapassar, e eu não gosto muito dessa parte da crítica pois às vezes parece que estamos a criticar um colega que pode ser nosso amigo, e é difícil conseguir distinguir uma coisa da outra por isso é que não gosto tanto como de jogar ou treinar pois pode deixar-me um bocadinho mais desconfortável.
Quantas horas lhe toma o futebol: Não sei precisar as horas, mas até a sonhar, e às vezes as melhores ideias surgem quando estou a sonhar, naquela fase em que estou quase a acordar. Até a dormir sonho com o futebol mas em 24 horas, contando com o sonho, talvez umas 18.
Quem ficou mais orgulhoso de vê-lo chegar a treinador do Sporting: O meu pai pois foi a pessoa que mais me acompanhou de todos. Alguns amigos de infância com quem me dou hoje também estão muito orgulhosos, mas o meu pai é que ia comigo todos os dias para os treinos em Alvalade, saímos daqui às 23h00, e não imagino ninguém mais orgulhoso… Se calhar nem eu: é mais ele do que eu.
Que dizia o Silas 'jovem' ao treinador? A primeira imagem que eu tenho do Sporting é em 1982, foi a primeira vez que vim ao Estádio José Alvalade e lembro-me da frente de ataque que era Oliveira, Jordão e Manuel Fernandes. O Oliveira era um grande jogador, o Manuel Fernandes foi meu treinador e não me posso esquecer disso, mas o Oliveira era incrível. Eu sempre pensei um dia quero ser como o Oliveira, tinha esta ideia pois a primeira imagem que eu tive de um grande jogador do Sporting foi a dele. Até há pouco tempo não me passava pela cabeça ser treinador, há uns sete ou oito anos é que pensei em ser treinador, mas nunca pensei que pudesse treinar o Sporting em menos de dois anos; no fundo ainda não tenho dois anos completos, tenho temporadas. Nem sei o que dizer neste sentido pois há imensa gente que treina sete ou oito anos até chegar à 1ª Liga, e outros estão a vida toda sem poder chegar a um clube como o Sporting, e eu em dois anos consegui-lo é um feito assinalável, mas é também uma grande responsabilidade e eu se calhar passo 18 horas por dia a pensar em futebol pois sei a responsabilidade que tenho, e sei o peso que tenho em cima de mim, e depois não gostamos de defraudar as pessoas que gostam de nós e os sportinguistas.
Dois anos depois de disputar o último jogo como jogador estava a treinar o Sporting: O que disse a alguns amigos, e um deles é o Miguel Garcia, é que quando começasse a treinar em dois anos iria estar na 1ª Liga, não sabia era quando é que começava a treinar. O Sporting é que nunca me passou pela cabeça pois havia a questão dos cursos, 1ª Liga sim. O Miguel Garcia, que também é sportinguista, é testemunha disso, mas o Sporting é um desafio diferente que exige o melhor de nós. Não é que não pensasse que não estava preparado, mas dificilmente pensamos que vamos ter uma oportunidade tão depressa. Ela surgiu e nesse aspecto somos sortudos, sem dúvida alguma.
Há quem diga que com o Silas o Sporting contratou uma ideia de futebol: Eu concordo. O Belenenses contratou alguém que ninguém conhecia e não sabia o que ia sair dali. O Sporting já não, o Sporting contratou um treinador que já tem um trabalho de quase duas temporadas e já viu alguma coisa. O Sporting quando pensou em nós pensou no futebol que praticavámos e nos jovens que lançámos, nos jogadores transferidos do Belenenses e que melhoraram a sua vida… Em 20 meses foram à volta de 16: portanto o Sporting quando pensou em nós já sabia o que queria, não foi uma aposta no escuro. Mesmo não tendo nós o 4.º nível o Sporting pensou que era isso que queria pois nós já tínhamos uma ideia de jogo da qual não abdicamos. Podemos adaptar no princípio pois chegámos a meio e tivemos de nos adaptar, ainda nos estamos a adaptar, mas depois com o passar do tempo a nossa ideia vai passar muito por aquilo que tínhamos feito anteriormente. Queremos uma equipa a tentar controlar todos os jogos com bola, a tentar mandar no jogo com bola pois é nisso que nós acreditamos. Já acreditávamos nisso enquanto jogadores, eu já acreditava nisso aos 19 anos como treinador de Futsal, e mesmo como jogador dentro de campo…São coisas em que acredito, e eu não consigo transmitir coisas em que não acredito. Eu sei que é preciso defender e jogar sem bola, e quando digo jogar sem bola é defensivamente, mas se eu poder encurtar esse tempo e puder passar mais tempo com bola sinto-me muito mais confortável… quando não tenho bola sinto-me desconfortável por isso temos de tentar ter a bola o mais tempo possível e depois tentar concretizar, não basta ter bola, é preciso criar ocasiões de golo e fazer golos. Mas neste momento estamos melhores pois temos mais qualidade individual, e o nosso trabalho é fazer com que eles cheguem à frente e depois eles que resolvam, mas nesse aspecto temos jogadores com muita qualidade.
Análise à actual formação do Sporting: A grande diferença que há em relação ao meu tempo é o futebol de rua que se perdeu. Os treinadores estão mais preparados e é mais natural que estejam, mas os jogadores a nível técnico perderam, estão preparados a nível táctico e no conhecimento do jogo, mas aquilo que eu acho que é mais importante que é a parte técnica estão menos preparados. Havia muito melhores jogadores a nível técnico na minha altura e ainda alguns anos depois, mas agora vai-se perdendo pois os jovens não têm a possibilidade de jogar na rua, de driblar 4 ou 5 se quiserem, e é preciso olhar para a formação nesse aspecto, e é preciso encontrar um espaço mesmo no treino onde os jovens possam driblar as vezes que quiserem. Há clubes que fazem, o Sporting é um deles pois acompanho muito a formação pois tenho dois filhos a jogar, e já vi alguns treinos da formação do Sporting: até uma certa idade dão muita criatividade. Se formos à Holanda vemos que dão essa liberdade aos jovens e fazem-nos jogar em vários pisos, na praia, nos parques de estacionamento, em campos normais, sintéticos, e isso é muito importante porque conseguem adquirir e absorver muita coisa até aos 10-12 anos, depois começa a ser mais difícil, sobretudo a nível técnico. É a partir daí que as pessoas se devem preocupar mais com a parte táctica, até lá é deixá-los evoluir e driblar. Noto muito que precisamos que um jogador drible dois ou três e ele não adquiriu isso vai ser difícil. A parte técnica resolve muitos problemas, eu posso estar mal posicionado, mas se a bola me chegar e eu conseguir driblar dois ou três jogadores ganho uma vantagem enorme. A formação tem de pensar muito nisso também, os treinadores estão muito bem preparados, mas muitos deles querem ser mais treinadores do que devem… É preciso deixar os jovens jogar à vontade até uma certa idade e, a partir daí, meter mais cunho pessoal no sentido táctico e ainda pecamos muito a nível de formação.
Aposta na formação é o caminho: Tem que ser valente e acreditar que se pode apostar em jovens jogadores, mas é preciso tempo e paciência para os ensinar. Nenhum jogador com 18/19/20 anos sabe tudo, não teve tempo de aprender tudo, é impossível! Mesmo jogadores com 30 têm muito para aprender, é preciso paciência e gosto, e isso é muito importante num treinador. Depois não podemos ter medo de metê-los. É preciso prepará-los para a oportunidade e depois apostar neles. Posso falar sobre isso à vontade pois alguém apostou em mim, e se não me tivesse dado a oportunidade nem estaria aqui, tinha seguido outra coisa, e como me deram a oportunidade acho que eles também merecem essa oportunidade. Se eles não corresponderem não podemos tirá-los logo, é preciso continuar a trabalhar e dar outra oportunidade, isso é muito importante, o pior que pode acontecer é dar a oportunidade a um jovem, ele não corresponder logo e não voltar a dar-lhe, isso não é dar uma oportunidade, é jogar à sorte. Oportunidade é apostar e se ele não corresponder ver onde falhou e voltar a dar uma hipótese, no meu ponto de vista mandá-lo lá para dentro e esperar que corresponda não é uma oportunidade.
Análise aos sub-23: Hoje em dia os treinadores estão muito bem trabalhados, há ideias tácticas muito boas. No caso dos sub-23 que é a equipa que está mais próxima da nossa há ideias muito boas a nível táctico, mas olhando aos jogadores acho que há muitos deles que ainda podem melhorar a nível técnico. Já a nível táctico têm de adaptar-se às minhas ideias. Eu gostei muito daquilo que vi e, nestas últimas duas semanas, tivemos sempre 8 ou 9 jogadores dos sub-23 connosco. Temos tido uma ajuda fantástica do Leonel que está sempre em contacto connosco, é alguém com quem mantemos uma relação muito boa. Ele ajuda-nos muito, o Emanuel Ferro que também tinha um grande conhecimento, também é uma ajuda muito grande e, nesse sentido, tenho uma vantagem grande pois conhecem-nos melhor que eu e estão sempre a dizer-me este é isto, este é aquilo. Nesse sentido é bom para mim e para os jovens pois quando eles vêm treinar comigo já os conheço, não em profundidade, mas já conheço muito daquilo que podem fazer ou não. Estou a lembrar-me de um que é extremo e eles me disseram que também já jogou a lateral, o Leide. Temos ali outros jogadores que fazem outras posições, e se eu estivesse a chegar agora não sabia, assim são chamados. Adoro jogadores que possam fazer várias posições pois como nós mudamos muito o sistema, a maneira de marcar é diferente, e se tivermos jogadores com essas características… Estou a lembrar-me do Miguel Luís que jogou contra o LASK a lateral direito e jogou muito bem, correspondeu muito bem, e se precisar um dia vai jogar ali pois há certos movimentos que o lateral tem de fazer como se fosse um médio, e o Miguel pode fazer isso perfeitamente. Sei que vou ter de trabalhar o Miguel pois já tive a idade dele e havia posições que não gostava de jogar, e com idade aprendi a desfrutar de todas, mas eu percebo que o Miguel tenha alguma resistência, não é que tenha visto algum sinal dele, mas sei que poderá vir a ter alguma resistência a jogar ali, mas se ele é bom e pode fazer. Estou a falar do Miguel como um exemplo, e se eles tiverem essa abertura vão ter muito mais oportunidades pois vão jogar em vários sistemas e isso é muito importante e é o futuro do futebol, mudar de sistema de jogo para jogo, e até no próprio jogo. Ter jogadores como o Miguel e o Neto que também fez isso, uma posição diferente, e nós damos muito valor a isso. O Neto foi substituído, não porque estivesse a jogar mal, muito pelo contrário, dos três era o que estava melhor, mas quisemos fazer coisas diferentes, e optámos por ele em função das características do adversário. O Miguel e o Neto estavam a ser dos melhores, e um dia mais tarde vamos utilizá-los novamente ali, mas já com mais trabalho da nossa parte que não tivemos nesse jogo com o LASK, nós gostamos de jogadores de mente aberta que não se agarrem a uma posição, um sistema ou um movimento. A minha ideia de jogo tem muito a ver com isso, muita diversidade da forma como atacamos, na maneira como defendemos e pressionamos pois não jogamos sozinhos e temos de adaptar-nos muitas vezes ao adversário, e preferimos jogadores que possam fazer várias posições. Nesse aspecto a ajuda do Leonel é muito boa.
No primeiro treino disse para agarrarem a oportunidade mas não darem tudo: Não é não darem tudo, não estava à espera que eles fossem contar… Não é não darem tudo, é não estarem ansiosos e quererem dar tudo no primeiro dia pois eu conheço-os. Aquilo não era uma avaliação para eles, o facto de chegarem a um treino meu, e poderem não atingir as expectativas pessoais não quer dizer que não tenham atingido as minhas. Eu disse-lhes que iam voltar muitas mais vezes e encararem a situação com normalidade. Não quero que o jogador vá ali e um treino não lhe corra bem - a mim aconteceu-me tantas vezes - e que saia dali… A chamada para o treino tem que ser uma motivação, não tem que ter um efeito contrário por terem feito um mau treino e saírem dali pior psicologicamente do que entraram, a ideia não é essa. A ideia foi dizer-lhe que não se preocupassem se um passe saísse mal pois não estou a avaliá-los... Falhei milhares de passes, e nesse sentido eles podem estar tranquilos pois estão perante alguém que cometeu mais erros que eles até pela idade: joguei até aos 40 anos por isso de certeza que cometi mais erros do que eles. É isso que eu quero, que não tenham medo de cometer erros ou estarem demasiado ansiosos, a ansiedade é boa na medida certa. A ansiedade a mais já deixa de ser boa. Tento passar tranquilidade e, se eles falham, eu percebo porque falham pois ou estão mal posicionados e aí chama-os e explico. Eles assim vão percebendo que não estão perante alguém que está para os criticar, estou para ajudar e corrigir. É a nossa maneira de trabalhar.
Que balneário encontrou: Encontrei um balneário… Acho, pois ainda não os conheço bem, que são muito chegados, é gente brincalhona e eu gosto muito disso, gosto de ver um bom ambiente no treino. Mesmo quando se perde não temos que olhar para a derrota como um tragédia, às vezes com as derrotas também se aprende. É um plantel que começa o treino com um jogo que chamamos ‘pataleca’ e eu gosto muito disso. Depois encontrei um balneário com vontade de aprender, com vontade de trabalhar e dar a volta à situação negativa pela qual estavam a passar. Embora eu achasse que nos últimos jogos estavam a jogar bem faltava o resultado, faltavam os golos, mas as derrotas tiram sempre confiança e geram desconfiança. Acho que eles estavam a desconfiar um bocadinho do seu valor, e é normal quando não se ganha pois desconfiamos de tudo. Também os encontrei com vontade de dar a volta e temos dois jogos e duas vitórias, sobretudo por eles pois nós não tivemos a oportunidade de trabalhar absolutamente nada, foi mais a vontade deles ganharem. Foi isso que encontrámos, um plantel realmente com vontade de dar a volta à situação, e abertos a ouvir as nossas propostas pois o que trazemos são propostas, e temos tido sorte por eles estarem abertos a propostas novas e, se calhar, diferentes.
Estreia na Vila das Aves: Antes? Não senti coisas muito diferentes de outras que sentia em bancos de outros clubes, só estava a pensar no jogo. Sou muito objectivo, os meus sentimentos estão muito focados naquilo que é o jogo, só penso se eles fazem o que nós podemos fazer… Não foi muito diferente daquilo que tínhamos apanhado em outros bancos. A assinar o acordo e na apresentação, como a minha cabeça não estava no jogo, senti-me um bocadinho mais ansioso, mas antes do jogo não, já estou a pensar em movimentos e coisas desse género. A situação foi similar à de outros jogos.
Importância dos adeptos: Jogadores nesse momento precisam muito do apoio dos adeptos pois numa fase negativa eles estão mais atentos ao que acontece fora de campo. Quando estamos bem e a ganhar, não, mas quando estamos numa fase negativa estamos mais atento a isso. Não fizemos um grande jogo, errámos muitos passes, mas o facto dos adeptos apoiarem e não assobiarem ajudou-nos muito pois o jogador está atento a isso, eu sei. Nesse aspecto foi uma ajuda grande, no jogo em Alvalade também, foi uma ajuda grande pois quando estão numa fase negativa precisam muito mais dos adeptos. Quando ganhamos constantemente não se precisa tanto pois a própria vitória já nos traz para cima, quando se está mal é que precisamos. Foram muito importantes para nós e vão continuar a ser. Acho que vamos começar a jogar muito melhor: vamos fazer muito melhor do que nos dois jogos anteriores e, quando uma ou outra vez não corra tão bem, que nos apoiem como nos apoiaram pois ajuda bastante.
Tempo para trabalhar sem jogadores: Procurámos passar uma ideia colectiva aos que estavam, procurámos analisar e experimentar alguns jovens em posições específicas e movimentos específicos, para perceber se os conseguem fazer, mas foi sobretudo potenciar os que ficaram. A outra face da moeda é essa, num clube como o Sporting sabemos que temos os melhores, e os melhores vão para a selecção. Mas os que ficam também são bons e se calhar, no futuro, alguns dos que ficaram, estarão bem e também irão à selecção. No Belenenses tínhamos alguns mas não tínhamos tantos, e aqui vamos queixar-nos de quê? De ficar sem jogadores? Se são muito bons têm que ir à selecção e temos de ficar sem eles. Seria pior tê-los todos pois isso queria dizer que eles não são tão bons e não são seleccionáveis. Aceitamos com alguma naturalidade e no fundo, queremos ter menos jogadores para treinar pois é bom sinal.
A maior preocupação, o trabalho defensivo? Preocupámo-nos bastante com isso e em criar alguns automatismos que nós acreditamos que nos vão dar consistência defensiva, automatismos que já usámos na nossa carreira e que nos deram bons resultados, e então procurámos passar algumas ideias para não sofrermos tantos golos. A nossa ideia é uma ideia muito ofensiva, mas não queremos sofrer golos, e queremos ter uma das melhores defesas do campeonato pois isso também dá muita estabilidade. Um 0-0 não é a mesma coisa que estarmos a perder 0-1, e muitas vezes um golo sofrido deita-nos muito abaixo. Como já disse temos uma ideia de jogo muito ofensiva e vamos chegar com muita gente à frente e com muita bola, mas quando não tivermos a bola temos de defender bem e ainda vamos ter que melhorar muito.
Amanhã, na Taça de Portugal, já há equipa à imagem de Silas? Sim, mas vamos defrontar um grande adversário. Eu já os conheço, já os defrontei num jogo-treino, conheço muitos jogadores deles, o treinador é um bom treinador, e eles colectivamente são muito fortes, têm bons valores individuais que rapidamente se vão ver em ligas superiores, e não vai ser um jogo fácil. Ainda bem que tivemos este tempo para trabalhar porque o Alverca tem um nível superior à competição em que está neste momento. Sem ver todas as equipas esta é uma das mais fortes do Campeonato de Portugal. Vamos ter que estar a um nível bom e preocuparmo-nos com partes defensivas e partes ofensivas, com tudo aquilo que é o jogo. Se tivesse duas semanas melhor ainda… foram quase duas mas se fossem duas com todos os jogadores melhor. Já não foi mau ter este tempo para trabalhar.
As suas ideias têm em conta as características dos jogadores ou o sistema? É mais a ideia. A ideia é podermos atacar e ter mais tempo de posse bola pois se a tivermos não nos fazem golo, e criar situações. Há vários sistemas que eu gosto, na realidade gosto de quase todos tirando um ou dois que já não gostava como jogador, mas gosto de quase todos. O que me preocupa é olhar para os jogadores que tenho e ver se posso utilizar certo sistema... O foco é o jogador e o adversário, tenho que pensar se o sistema serve para este adversário pois há adversários que penso este sistema é o ideal e temos de ver se podemos ou não fazê-lo. Para já temos de nos consolidar num sistema e a partir dai, quando dominarmos esse sistema e alguns movimentos que estamos a trabalhar, podemos meter variantes. Eu acho que aqui é capaz de ser mais fácil até.
O Sporting vai jogar no risco a sair de trás a jogar? Sim, vai ser possível e vamos ver muitas vezes. Precisamos de trabalho, no Belenenses tivemos duas pré-temporadas, os jogadores do Belenenses já estavam connosco desde o primeiro dia, aqui não tivemos esse tempo. Quando o tivemos muitos jogadores foram para as selecções, no Belenenses não tivemos esse problema, tínhamos praticamente todos excluído um ou outro que ia à selecção, e tivemos muito tempo para trabalhar. Depois era jogo de domingo a domingo, ou quase sempre, tínhamos no mínimo seis dias para trabalhar e aqui não… Aqui temos um ou dois dias, depois há muita recuperação, e não podemos fazer algumas coisas que queríamos como no Belenenses em que tínhamos semanas completas, e dava para trabalhar muito mais. Aqui precisávamos de uma pré-temporada, mas depois temos jogadores que a nível técnico são superiores e assim ganhamos tempo.
Modalidades que acompanha: O futsal, estou muito ligado ao futebol, naturalmente. Eu gostava muito de jogar e, quando era miúdo, até gostava mais de jogar futsal que futebol. Gosto muito do hóquei, lembro-me que ia para a nave do antigo estádio ver os treinos pois eles treinavam antes de nós. Também gosto muito de desportos colectivos pois são muito bons para os jovens, é aquilo que mais gosto, vólei, basquete, hóquei… Sou muito mais virado para o desporto colectivo que o individual embora perceba que no desporto individual há uma capacidade de sacrifício ainda maior. Gosto de râguebi, muito mais do que de futebol americano, e acho que temos que aprender com a modalidade. Vejo um pouco de tudo, mas aquela que estou mais próximo é o futsal.
Saía dos treinos para jogar futsal. É verdade? Era a paixão. Eu queria era jogar e para mim o futsal era um complemento pois a nível técnico dava uma capacidade enorme que depois aproveitava e tirava partido no futebol. É verdade, eu passava o dia todo a jogar futsal ou futebol, não havia um dia em que não jogasse, por isso muitas vezes acabava o treino no Atlético e ia a correr jogar na minha equipa do bairro em futsal, e ao contrário também era verdade. Gostava muito, eram duas coisas gostava de fazer e tinham muitos amigos que gostavam do mesmo que eu.
Vai ao Pavilhão? Temos muito pouco tempo. Quando era futebolista nunca imaginei que tivesse tão pouco tempo enquanto treinador. Como futebolista tinha uma vida de lorde. Treinava uma hora e pouco e ia para casa, se quisesse ia ver um jogo ou outro, mas agora há muito pouco tempo. Depois há a família e eu tenho dois filhos que tenho de acompanhar e também jogam, e eu sei o que sentia quando o meu pai me acompanhava portanto…Naturalmente irei uma ou outra vez, mas não tenho tempo suficiente para acompanhar tudo. Às vezes queremos fazer tudo mas não é possível pois ser treinador toma-nos muito tempo, há imensa coisa para fazer apesar das ajudas que temos. Eu sou muito assim… Temos um departamento de análise muito bom, mas eu tenho de analisar também. Os meus ajudantes e colegas são muito bons, mas eu tenho de ver também porque gosto de controlar essas situações e ver tudo o que podemos fazer.
E o futuro: A nossa ideia é ir passo a passo. Primeiro é recuperar os jogadores animicamente, e as vitórias trazem isso, depois é implementar a ideia que temos porque acreditamos que é essa ideia que nos pode levar ao mais alto nível. Em seguida, o treinador do Sporting tem que pensar em títulos. Não há hipótese! Não se pode ser treinador do Sporting sem pensar em ganhar títulos. Eu já sonhava em ganhar títulos no Belenenses, imaginem aqui! Acho que os títulos são importantes para a nossa carreira de treinadores, para o Sporting muito mais importante do que para nós. O objectivo final é levar o Sporting a conquistar títulos e o grande sonho é fazer aquilo que o hóquei fez, vencer títulos internacionais que são muito mais difíceis para clubes portugueses do que para outros clubes de outros países com outro poderio financeiro. O nosso grande sonho são títulos nacionais, pois são uma obrigação de um treinador que esteja no Sporting, e depois o grande sonho são os títulos internacionais.
Sporting precisa de entreajuda entre todos: de jogadores a adeptos? Sim, acho que é muito importante até por tudo o que o Sporting passou. É importante podermos unir-nos. A união não é um discurso que use muito, pois parto do princípio que deveríamos ser todos um, só isso faz sentido, não faz sentido o contrário. Podemos ter opiniões diferentes, eu na minha equipa técnica quero opiniões diferentes da minha, mas não vou criar guerras por isso. Vou ouvir, vou pensar e logo decido. Tem que ser assim em todos os departamentos. O nosso grande objectivo tem que ser um Sporting mais forte, nunca pode ser um Sporting mais fraco. Vamos precisar de toda a gente em todos os momentos, não é só quando perdemos ou quando ganhamos. Se estivermos todos podemos chegar a um sítio que nos orgulhemos todos. O nosso objectivo é criar uma equipa que os sportinguistas se orgulhem.
Usa mais o nós do que o eu… Não trabalho sozinho, nunca joguei sozinho também. Muito do sucesso que possamos vir a ter depende sobretudo dos meus jogadores e das pessoas que estão a trabalhar connosco. Dos adeptos também, eu acho que não faz sentido falar no singular, mas sim no plural. Aquilo que vemos no campo é um trabalho de muita gente. Na Academia somos imensa gente e não há ninguém que seja mais importante… O nós é algo que sai naturalmente, não penso só em mim.
Como gostava de ser relembrado? Nunca tinha pensado nisso. O que queremos é criar uma equipa da qual os sportinguistas se possam orgulhar e sei que o orgulhar é jogar bem e ganhar títulos. Esse é o nosso grande sonho"
Até à próxima
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