Dúvidas e árbitros
«No Benfica subsistem algumas dúvidas. Não sobre o valor de Bruno Lage, pois ele já provou que é um bom treinador, de linguagem simples e que sabe explicar o futebol para gáudio das audiências. Porém, enquanto Jorge Jesus não arranjar um novo clube para trabalhar, continuará a pairar como assombração para o setubalense, porque toda a gente sabe quem era a primeira escolha de Vieira. Mas é injusto que se esqueça que foi Lage que manteve os encarnados na luta pelo campeonato, recuperando jogadores estupidamente enterrados nas catacumbas como Samaris e Gabriel e lançando prodígios que se valorizaram à estratosfera como Ferro, Florentino e João Félix.
Contudo, é engraçado ouvir o presidente afirmar que nenhuma pérola vai sair quando num prospecto de novo empréstimo obrigacionista se vinca a necessidade de vender, bem como se lê na notícia do Record que há 8 jogadores com passes penhorados. Para lá disto, uma coisa é a lógica do vendedor que ouve tubarões virem bater à porta de carteiras recheadas, outra, é todos sabermos que o Benfica não pode pagar as fortunas salarias com que os emblemas dos "Big Five" podem seduzir os atletas e, isso, quer queiram quer não, mexe com a cabeça dos jovens e traz intranquilidade ao balneário. Algo que pode condicionar o futuro a curto e médio prazo.
No Sporting regressou Rogério Alves. Muitos meses passou num silêncio táctico quando a direcção precisava dele, pois como Luis Paixão Martins, o maior especialista em comunicação português, disse bem, «o presidente comunica mal», algo que sempre mencionei, e o reconhecido causídico podia nos momentos mais difíceis ter ajudado mais. No entanto, fez-se de morto renascendo agora que há a miragem dos leões terem uma das melhores épocas dos últimos anos se conquistarem a Taça apanhando o barco a tempo. O presidente da MAG leonina tem uma atracção por microfones inata e uma capacidade inaudita de comentar Justiça, Maddie McCann, futebol e até vão ver que comentará com delícia uma qualquer modalidade de bacalhau à Gomes de Sá. Porém, na Sporting TV salientou que a direcção não tinha qualquer interesse na divulgação de uma auditoria que foi anunciada como forense e que agora está transformada numa auditoria de gestão. Assim nasce-me a dúvida, será que Rogério Alves se lembra que na conferência de imprensa do balanço dos seis meses de mandato, Varandas olhando para o computador a iniciou revelando pormenores da mesma auditoria? Convinha que se organizassem e conversassem mais.
Outrora os árbitros eram uns carolas que ao domingo iam apitar jogos. Hoje, estes senhores recebem salários não ao alcance da grande maioria dos portugueses e a eles se deve pedir o máximo rigor e exigência. As suas decisões valem milhões e hoje os meios tecnológicos estão aí – por vezes com erros inexplicáveis – para sustentarem as suas sentenças. Mas há um mistério: se as competições profissionais estão sob a alçada da Liga por que motivo a sua tutela está na área de jurisdição da FPF? É altura de se rever a situação com a integração na Liga ou com supervisão de uma entidade independente séria que contribua definitivamente para a transparência do nosso futebol. Enquanto tal não acontecer, nunca haverá sossego.»
(Rui Calafate, Factor Racional, in Record)
Partilho inteiramente as dúvidas e as convicções que Rui Calafate nos traz em mais uma das suas brilhantes crónicas. Contudo, julgo que ele me permitirá deixar-lhe por aqui apenas três pequenos reparos, partindo do pressuposto de que "é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha", que:
1 - Ouvir a verdade de um 'beduíno' vendedor de banha-de-cobra;
2 - Desejar equilibrio entre o silêncio e a palavra de uma 'picareta-falante' com agenda própria;
3 - Pretender transparência e sossego no futebol português, enquanto coutada de 'pedreiros livres do estado lampiânico', bem acolitados por tantos outros 'pedreiros' do mesmo ou ainda mais nojento e inconfessável calibre.
Mas, ainda que convictamente racionais, a utopia serve para isso mesmo...
Para que não deixemos de caminhar!...
Leoninamente,
Até à próxima
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