Domingos não acusou o golpe e tratou de olhar à sua volta. Arregaçou as mangas e atirou-se ao tremendo trabalho de manter o funcionamento, o rendimento, a eficácia e a segurança que a equipa vinha revelando e que começavam a estar enraizados na heterogeneidade do plantel, resultantes dos extraordinários atributos de Rinaudo, cujo previsivel longo afastamento severamente comprometia.
Em pouco tempo de treinos e jogos, avaliou e testou uma extensa série de soluções. Hoje, a solução que parece ter encontrado em Daniel Carriço, afigurar-se-à aos olhos de muitos como fácil e óbvia. Mas é verdade que, como Domingos Paciência gosta de dizer, a sorte, o fácil e o óbvio, dão muito trabalho a conseguir e requerem a inteligência de um sobredotado e a constância de um predestinado para a função.
Daniel Carriço entrou, pé ante pé, numa equipa já entranhadamente habituada à extraordinária categoria e, mais ainda, ao sangue, suor e lágrimas de Rinaudo. Mas, jogo após jogo, a escolha de Domingos Paciência, está a conseguir levar ao extremo o que o argentino oferecia à equipa: o posicionamento, o rigor e, sempre que necessário, aquela dose suplementar de músculo. Ainda não será tão evidente em campo como Rinaudo, nem mostra a sua disponibilidade para ter a bola, mas vem revelando a qualidade de cometer metade das faltas e é emocionalmente mais equilibrado, pelo que estará sempre mais distante de terminar com advertências, amarelos e até vermelhos.
Carriço não terá o carisma de Rinaudo, nem o dom de entrar de chofre no coração dos adeptos. Não se envolve em grandes correrias, não aparece ainda tanto na frente. Mas a sua presença e o seu posicionamento permite libertar outros jogadores. João Pereira e Insúa, antes de todos, mas também os colegas de linha, Schaars e Elias. Carriço assiste calma e serenamente ao desenvolvimento da maior parte dos ataques da equipa, ancorado na sua zona. Raramente oferece a participação e a voluntariedade de Rinaudo, mas tal não será, com muita margem de certeza, resultado das suas características, que de forma nenhuma o impediriam. Provavelmente, a tranquilidade que Domingos Paciência pretende para já na equipa, balizará por certo o seu comportamento em campo.
A Daniel Carriço sempre foram entregues, desde a sua entrada na formação do Sporting vindo do Estoril-Praia, funções no centro da defesa. Mas a sua passagem a senior veio revelar algumas lacunas no desempenho dessa função específica, que a sua passagem pelos escalões inferiores não deixavam adivinhar. Domingos Paciência estará agora, por circunstâncias até há bem pouco tempo inimagináveis, a colocar Carriço na posição que os seus atributos mais recomendariam. Com todo este rápido desenvolvimento de acontecimentos e mercê dos azares e da fortuna que a vida teima em estabelecer para cada um, quem sabe se a Daniel Carriço não estará reservada a carreira que já poucos lhe vaticinariam como defesa central. Teremos neste prometedor desempenho a antecâmara do futuro trinco da selecção nacional, tão carenciada na posição?!... O futuro dar-nos-à a resposta, mas em Domingos Paciência parecem restar poucas ou nenhumas dúvidas!... A palavra caberá naturalmente a Daniel Carriço, mas todos nós, sportinguistas, estamos a torcer por ele!...
Leoninamente,
Até à próxima
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