quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Muito interessante este texto de Malheiro!...


As novas unhas de Rúben Amorim

«1] Sem fintas e sem subterfúgios, Rúben Amorim, com a sagacidade e a ferocidade comunicacional que lhe são profusamente reconhecidas e enaltecidas, não metamorfoseou a contratação de Slimani numa matéria tabu, conferindo-lhe, nas duas últimas conferências de imprensa pré-jogo, dados sumarentos e inabituais na análise de um reforço por parte de um treinador, ao ponto de se não inibir a efectuar autocrítica. Todos tínhamos percebido que, no passado, o treinador do Sporting declinara o regresso do ponta-de-lança argelino, por não se emoldurar no perfil de reforço para o futuro que defende para o seu projecto nos leões. Um aspecto que também serviu para tonificar a fidúcia em Paulinho – o avançado associativo que definiu, dentro do modelo de jogo que perfilha, como referência, levando o Sporting a investir, a 31 de Janeiro de 2021, 16 milhões de euros por 70% do seu passe, e que não se cansa de exaltar, considerando-o publicamente, por mais do que uma vez, o melhor português na sua posição – e em Tiago Tomás, que, por ser refém do assalto à profundidade para ser acutilante no assalto ao último terço e menos dado a estabelecer ligações através do passe, foi perdendo espaço como alternativa, e até passou a ser mais utilizado a partir do banco como um dos apoios ao avançado, abrindo campo à utilização de Tabata ou de Sarabia como falsas referências ofensivas. Ficamos a perceber, pela comunicação de Rúben Amorim para o exterior, que o progresso do exercício levou-o a mudar de ideias, fazendo dissipar a hipotética tese de uma imposição presidencial a que nunca anuiria.

2] O que terá feito Rúben Amorim mudar de ideias? As exigências que os antagonistas têm colocado aos leões – mais vezes obrigados a acomodarem-se com bola no meio-campo ofensivo e com menos tempo e espaço, salvo raríssimas excepções, para agredirem de forma contundente a profundidade – têm sido distintas, até porque a ratificação da firmeza do modelo de jogo leonino fica bem perceptível nas diversas formas como se procuram adaptar ao jogar preconizado por Amorim, sempre com o fito principal de subtrair espaço entre a linha defensiva e o guarda-redes. Por isso, em momento defensivo, há adversários que recorrem a últimas linhas compostas por seis – com os médios-ala a funcionarem como segundos laterais, o que permite aos laterais posicionarem-se num espaço mais interior – ou cinco – tanto com três defesas-centrais, como com um médio a baixar para a linha defensiva, principalmente para um corredor lateral, permitindo que o lateral desse lado se posicione mais dentro, mas também com um médio-centro a colocar-se entre os dois defesas-centrais – unidades. Sim, é verdade que o Sporting, em virtude desse facto, joga mais subido do que no exercício anterior, como também que a dependência do jogo exterior para chegar a zonas de finalização se tornou maior, até porque o estabelecimento de conexões entre Pote, Sarabia e Paulinho, principalmente em espaços reduzidos no corredor central, não se tem revelado tão reiterada e deliberativa como podia ser. Assim, a aposta em Slimani, referência ofensiva de perfil dissemelhante ao de Paulinho, o que não os torna inconciliáveis (bem pelo contrário), faz sentido, enrijecida pelo histórico de 57 tentos em 112 partidas pelos leões, o que lhe permitiu avassalar o coração dos adeptos. O argelino, que Rúben Amorim debutou na fase final da partida ante o Famalicão, assim que recuperar os índices físicos ideais, até porque não competia desde 22 de Dezembro de 2021, e apenas somou 815 minutos de utilização – o que não o inibiu de apontar 4 tentos – pelo Lyon em 2021/22, e dilatar o conhecimento dos movimentos e das acções padrão dos seus colegas, poderá ser uma mais-valia inequívoca, mesmo nos momentos, à partida mais frequentes, em que não será titular.

3] Aos 33 anos, Slimani continua a ser um carro de assalto a abordar zonas de finalização, perscrutando, em inúmeras situações, as desmarcações no limite do fora-de-jogo, o que lhe permite dar sequência a cruzamentos através de definições com a cabeça ou com os pés: é destro preferencial. Além disso, não perdeu belicosidade no ataque à profundidade e a mobilidade que sempre o caracterizaram, nem a aptidão para se impor em duelos e para ser audaz na pressão. E mesmo não detendo o perfil associativo de Paulinho, arguto a oferecer apoios frontais e com predicados distintos no capítulo do passe, o internacional argelino evoluiu como futebolista com a sua expedição europeia, que o conduziu também ao Leicester City, ao Newcastle United, ao Fenerbahçe e ao Mónaco, e está bem longe de ser o avançado limitado no capítulo técnico e com lacunas evidentes na combinação que aterrou em Alvalade, em Agosto de 2013, oriundo do Belouizdad, a troco de 300 mil euros. Assim, as bases de um novo plano B, com Slimani como referência ofensiva, estão lançadas, passando a incursão de Coates pelo centro do ataque ao patamar C, em que poderá ser arquitectada uma perigosíssima aliança aérea uruguaia-argelina. Mas será, seguramente, uma coligação à qual Amorim não quererá recorrer, pois significará a procura ainda mais desesperada de um volte-face num resultado adverso. E se há memórias venturosas, de vários golos apontados nos derradeiros instantes das partidas, na sequência de lances de bola parada laterais ou através de um futebol directo, com Coates no centro do ataque, também subsistem as amarguradas remanescências da derrota caseira ante o SC Braga, um embate que o Sporting perdeu por tanto o ter procurado vencer, e que dilatou para 6 pontos a desvantagem em relação ao líder FC Porto. Curiosamente, o próximo adversário para o campeonato, num jogo em que o triunfo extramuros é quase obrigatório para relançar a candidatura à (re)conquista do título nacional, objectivo que escapa aos leões desde a década de 1950, e que surge na sequência de 4 triunfos consecutivos, o que também valeu uma alentadora conquista da Taça da Liga diante do eterno rival Benfica.

4] Ao mesmo tempo que Slimani acordou o regresso a Alvalade, o Sporting concluiu, após uma extensa novela condenada a um epílogo feliz, a operação mais ansiada por Rúben Amorim para o mercado de inverno. Marcus Edwards, extremo canhoto oriundo do Vitória de Guimarães, transferiu-se, a troco de 7,67 milhões de euros – acrescida da cedência definitiva do excedentário Bruno Gaspar e da temporária do moçambicano Geny Catamo – para os leões, e, dois dias depois, debutou, como suplente utilizado, na deslocação vitoriosa ao Jamor para defrontar a Belenenses SAD. Formado nas escolas do Tottenham, o internacional inglês em todos os escalões entre os sub-16 e os sub-20 será, no curto prazo, uma arma de peso como jóquer ofensivo, ao mesmo tempo que se preparará para lutar, na próxima estação, pela vaga que Sarabia deixará em aberto, rematado o seu empréstimo pelo PSG, com quem tem vínculo contratual até Junho de 2024. Talhado para actuar a partir do corredor direito, Edwards, um canhoto veloz, acelerativo e ágil, diferencia-se pela superior qualidade técnica, pela audácia a assumir acções de condução, e pela sumptuosa capacidade para criar desequilíbrios no um contra um através do drible, mesmo que se desmodere em iniciativas individuais. Os progressos na tomada de decisão e na definição, aspectos em que terá que continuar a labutar para se tornar ainda mais consistente, serão fulcrais para vingar num patamar competitivo mais elevado, assim como a de obsequiar uma maior disponibilidade e agressividade no trabalho sem bola.»

Muito interessante este texto de Malheiro!...

Leoninamente,
Até à próxima

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