«Os gregos chamavam-lhe Têmis, entre os romanos era conhecida como Justitia, a deusa responsável por manter a ordem social e que se apresentava vendada ao mundo, não por ser cega, mas por conseguir assegurar sempre a imparcialidade. Na passada quarta-feira, horas antes do Sporting CP entrar em campo com a constelação de estrelas do Manchester City FC, na primeira mão dos oitavos-de-final para a Liga dos Campeões, o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, anunciou ao mundo castigos e processos relacionados com o famigerado jogo do Dragão, entre o Sporting CP e o FC Porto.
Ficámos a saber que para o CD, um pontapé de Agustín Marchesín é menos grave que uma estalada de João Palhinha: o internacional argentino foi castigado com dois jogos, o internacional português com três (falhando por isso o confronto com o FC Porto para a Taça de Portugal). Este é o mesmo CD que castigou Uribe com apenas um jogo quando este agrediu violentamente Ricardo Esgaio com uma cabeçada no nariz. Ou seja, uma cabeçada violenta deu direito a um jogo de suspensão, um pontapé a dois jogos, já a estalada corresponde a três jogos (o triplo da cabeçada de Uribe digna de um filme de Steven Seagal).
O expedito CD também anunciou que Matheus Reis – o mesmo jogador que foi agredido por mais do que uma vez por elementos dos coletes azuis e cor de laranja – tem um processo disciplinar “por gesto incorrecto executado no decorrer do jogo, amplamente divulgado na comunicação social e que não foi relatado em relatórios oficiais”. Certamente que o CD achou normal e recomendável o comportamento de Otávio que, em directo, insultou e desafiou consecutivamente Bruno Tabata para um duelo nos balneários. Recordemos também um jogo do ano passado, no mesmo estádio e com as mesmas equipas, quando este CD já estava em funções, e onde o filho do treinador do FC Porto cuspiu na direcção de Pedro Porro, insultando a mãe deste. Foi aberto processo? Não. Aliás, os nomes que se chamam aos familiares dos jogadores servem apenas para abrir processos aos jogadores do Sporting CP, Nuno Santos que o diga. O mesmo jogador que foi suspenso em tempo recorde por um gesto descrito em relatório que as imagens de jogo desmentem.
As imagens também desmentem de forma escandalosa o amarelo que vai retirar Sebastián Coates do próximo jogo com o Estoril. No mesmo lance, Taremi não só pisou de forma grosseira o central uruguaio, como conseguiu voar posteriormente, rebolando no chão cinco vezes sobre si próprio, tal era a dor provocada pelo pisão… que deu. A injustiça decorrente deste lance caricato e revoltante, que marcou o jogo e possivelmente este campeonato, e que foi amplamente divulgado na comunicação social, segundo este Conselho de Disciplina é para manter. Coerência, acima de tudo: que a verdade objectiva das imagens não se sobreponha a erros clamorosos dos homens do apito ou a descritivos subjectivos de um qualquer relatório.
Uma palavra ainda para os nossos Sócios e adeptos e para o final do jogo que acabou com uma pesada derrota por 0-5 com o Manchester City FC:
“É dia de Jogo, toda a gente sabe que eu vou
Andar nas rulotes e cafés
O Sporting apoiar no estádio a cantar
E p'ra semana cá estou outra vez”.
Depois do resultado em causa, ver mais de 45 mil pessoas a apoiar a equipa daquela forma só está, de facto, ao alcance da melhor massa associativa do mundo. Arrepiante.»
***
Faltam dois anos para o final do mandato dos actuais Corpos Sociais da FPF, de que faz parte esse abominável Conselho de Disciplina, liderado pela excelsa, mui prendada e indefectível adepta dos lampiões e sempre complacente, também e nas horas vagas, dos "morcões lá do Norte", a inefável Dona Xepa.
Desde 1989, com o fim do mandato de Silva Resende, e já lá vão mais de três décadas que a cadeira da presidência de FPF vem sendo sucessivamente ocupada por personalidade afectas ou ao SL Benfica, ou ao FC Porto! Será da mais elementar justiça que se aproxime a hora de ao Sporting voltar a assistir o direito de colocar nesse importante lugar outra figura da estirpe do saudoso Silva Resende, em nome da competência, da isenção, do equilíbrio e de um verdadeiro fim da impunidade que há mais de trinta anos tomou de assalto o futebol português...
Tudo começará por aí. E só não acontecerá, se Sporting CP e SL Benfica não quiserem. Nesse ponto - e só nesse ponto, depois de extirpados todos os restantes e inconfessáveis objectivos! -, Rui Gomes da Silva terá razão na "carta aberta aos adeptos do futebol (e não da impunidade)"!...
À atenção de Frederico Varandas!...
Leoninamente,
Até à próxima
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