quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Ainda há muito bons jornalistas em Portugal!!!...


A canção do bandido e a bala perdida


«Na visão artística e simpática da coisa, os últimos acontecimentos no futebol português davam um inesquecível bolero de faca e alguidar. Mais bolero do que tango. A música desta canção do bandido é mais maviosa do que dramática. Podíamos chamar-lhe a canção do bandido e a bala perdida. No palco da canção do bandido, a propaganda sempre foi anti qualquer coisa. Marchou-se contra os mouros, contra Lisboa, contra o centralismo, contra o fisco, contra as retretes penhoradas, contra os clubes da segunda circular, contra os jornalistas de quem não se gosta, contra as ovelhas tresmalhadas.

Foi uma receita de sucesso em 40 anos de triunfos. O cimento demagógico empurrou os compositores e intérpretes pelos caminhos da glória. Criou uma ânsia mimética nos rivais, que também criaram os seus boleros de amor e traição. Um deles acabou preso e a oficiar missas na cadeia. Outro imitador grosseiro acabou na gaiola das malucas televisiva, de onde saiu por estes dias com a justiça à perna, sem a protecção da velha guarda pretoriana que lhe garantia as vitórias nas assembleias gerais. Por fim, o mais esperto dos imitadores triunfou, mas sem a longevidade do criador da obra original e originária. Encontrou o caminho da sua caverna de Ali Babá e dos mesmos esquemas de ensacar a fidelidade dos homens do apito. Simples. Sempre repetindo a velha receita. Juiz reformado, controla juiz novo, que é como quem diz, macaco velho apascenta os macacos novos, numa paixão eterna pelo vil metal. O macaco velho acompanha a vida, as celebrações, amores e desamores do macaco novo e de toda a família. Sabe as datas certas para as prendas habituais.

Para o fim, a coisa não correu bem e nem o rei dos frangos lhe valeu. O velho crocodilo ficou a reinar ainda mais no pântano fedorento, onde os pequenos jacarés, alguns disfarçados com coletes azuis, já se dão ao luxo de brincar com os velhos códigos da mafia, as balas perdidas e essas coisas. Muito mais espertos do que as toupeiras gorduchas. Num panorama destes é simples. Se as instituições que ainda têm um pingo de dignidade não reagirem, com firmeza e actualidade, acabarão por afundar-se na javardice colectiva de um pântano que desautoriza toda e qualquer narrativa de sucesso e modernização do futebol português.»

Faltava este último fascículo daquele compêndio capaz de oferecer aos alunos finalistas dos cursos de jornalismo que por aí pululam, a possibilidade de, uma vez por todas, poderem alicerçar a distinção a que porventura poderá conduzir o aturado trabalho e empenho com que enfrentaram  o desafio da preparação para uma profissão ímpar, nobre  e recompensadora. Atento, solidário e altruísta, Eduardo Dâmaso acaba de compôr as últimas estrofes desse poderoso guião. Assim o saibam aproveitar os futuros jornalistas que entenderem dedicar-se à causa do Desporto e, muito em particular, ao futebol que vamos tendo por cá!...

Como seu habitual, atento e interessado leitor, esta feliz crónica de Eduardo Dâmaso, deixou-me extasiado e recompensado perante tanta e tão desprezível quanto  irrelevante subserviência com que amiúde sou confrontado por aí. 

E mais, permitam-me acrescentar. No final da leitura desta "bendita crónica", creiam que senti saudades - não daqueles tempos tenebrosos, vá de retro satanás!  -, mas do fino recorte, argúcia e inteligência com que muitos jornalistas na minha juventude sofrida e reprimida, "fintavam a podre censura" que durante tantos anos sustentou o regime do "antónio da calçada"! Ai que saudades dos velhos, entre muitos outros, Primeiro de Janeiro, República e Diário de Lisboa! Eduardo Dâmaso, em tempos de liberdade, por razões que só ele conhecerá e de que nunca terá de dar satisfações seja a quem for, usa com requinte, erudição, inteligência e, se calhar com orgulho, exactamente os mesmos "truques" dos seus velhos e desaparecidos companheiros. Bem haja por isso, por ser como é e por escrever como escreve!... 

Ainda há muito bons jornalistas em Portugal!!!...

Leoninamente,
Até à próxima

5 comentários:

  1. Será que os talibãs do Canal Porto e os Baldaias deste País, leram este texto? Tenho dúvidas....

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    1. Que terão lido, não duvidarei! Mas também não duvido da resposta que deram aos seus botões: "cantas bem, mas não me encantas"!...

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  2. Os compadres do Altis a lavar roupa suja em público! Lá está, zangam-se as comadres...
    O que vos une a todos é apenas o ódio e a inveja. Ides acabar mal!

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