quinta-feira, 7 de março de 2019

E como custa neste caso reconhecer razão em quem a tem!...


Um presidente de transição?

«Há algo de altruísta que se tem de respeitar naquela conferência de imprensa marcada por colchões, mobiliário e o "sr. Orlando" que foi pouco relevado e eu muito valorizo: o momento em que o presidente do Sporting deseja que quem venha a seguir a ele encontre uma situação melhor do que aquela que herdou. Ora, aqui reside o busílis da questão, pois todos os que se apresentam a um cargo devem conhecer no mínimo a realidade para a qual se candidatam e a situação, efectivamente, não era fácil nem se previam águas pacíficas para o timoneiro de uma nau a precisar de amplas reparações e apaziguamento da tripulação.

Varandas estava no clube, conhecia o futebol e a Academia e em campanha ungiu discurso de união e estabilidade, garantindo um rumo de sucesso e soluções para os problemas existentes. Eu desejei e desejo muitas felicidades, tal como desejei aos anteriores presidentes, pois as suas vitórias são as de todos os sportinguistas. Passados seis meses temos, porém, um clube permanentemente dividido em quezílias, ódios de estimação, egos de salto alto, modalidades a mostrarem a sua raça, dúvidas sobre a competência de Marcel Keizer, melhorias na Academia, desgraça comunicacional que é um pecado de décadas e uma situação financeira que voltou a ser tristemente tema diário como nos paupérrimos tempos de Godinho Lopes.

Contudo, há ainda algo mais preocupante. O esmorecimento e distanciamento da massa adepta, uma enorme ausência de carisma e empatia de Varandas que não consegue comunicar, mobilizar ou apaixonar a mesma e o surgimento de uma série de lobos que já sente o cheiro da carniça. Em seis meses, o presidente não conseguiu meter no bolso ninguém nem solidificou a sua aura de poder, subsistindo a imagem de um comandante tíbio, apagado, frágil, à mercê de qualquer derrapagem, permitindo conspirações que não contribuem para a paz do clube e bem que ela era necessária. Mas isso é demérito dele e da sua inexperiente equipa. Importa portanto lembrar uma reflexão que aqui escrevi sobre os ciclos de poder. É que depois de líderes longos e duradouros vem sempre um líder curto e de transição, ensina-nos assim a história política portuguesa, bem como no Sporting. Vejamos: após 1974, os três presidentes mais longevos na cadeira do poder foram João Rocha (e seguiu-se Amado de Freitas, curto e de transição), Sousa Cintra (e veio Santana Lopes que durou dez meses) e Bruno de Carvalho. Cabe agora a Varandas mostrar se consegue contornar o estigma dos ciclos de poder, se tem estofo e dimensão para romper com este paradigma ou se está a prazo.

"Estamos equilibrados na ponta de uma espada e a mínima oscilação em qualquer direcção…", retratava assim a sobrevivência da "Fundação" o visionário livro de Isaac Asimov que se aplica como uma luva à situação actual dos leões, sem dinheiro, sem Champions League, sem influência, em ebulição, enfim, novamente para o seu mal no fio da navalha. Não se questiona um deus, o problema é que Varandas nunca teve esse estatuto, por inépcia própria, junto dos sportinguistas. E é certo e sabido que ser presidente do Sporting está como o cargo de treinador do Real Madrid: "tem mais pretendentes que a Julia Roberts".»
(Rui Calafate, Factor Racional, in Record)

Não me surpreende a clara posição hoje assumida por Rui Calafate na sua habitual crónica "Factor Racional! Depois do fim abrupto do apreciado programa da Sporting TV, Pressão Alta, onde pontificava ao lado de Samuel Almeida, em vários dos seus textos havia deixado a promessa de acrescentar algo mais do que nas entrelinhas foi deixando antever. O que verdadeiramente me surpreendeu terá sido a forma superior e elegante de fugir da vulgaridade da dureza do dedo apontado ao erro, preferindo, com o seu habitual e leonino altruismo, apontar, apenas e tão só, a nudez do rei...

E como custa neste caso reconhecer razão em quem a tem!...

Leoninamente,
Até à próxima

7 comentários:

  1. Na verdade, o Sporting é ingovernável! Tem uma infinidade de adeptos bem falantes, mas que na prática só servem para provocar instabilidade no clube. É fácil botar prosa e faladura bonita, quando não se têm que enfrentar as agruras concretas do dia a dia. Eu, que nem fui a favor da chegada ao poder deste presidente, pergunto: o que é que o SCP ganha com estas bonitas palavras do "enorme e inigualável" perito em comunicação Rui Calafate? Estará ressabiado pelo fim da tribuna/tacho na Sporting TV?... Irra, que estes "nojáveis" leoninos não deixam nenhum presidente do Sporting trabalhar com um pouco de paz! Um presidente é porque fala muito; outro é porque é tíbio e um desastre em comunicar!... O grande problema e ancestral deste clube são estes pavões de ego inflado. Nas atuais e dificílimas circunstâncias do clube, o que ganha este mesmo clube com os ataques ao presidente?! Por favor calem-se! E deixem-se dessas tretas de comunicação... Deixemo-nos de aparências e ataquemos as essências. Estão a criar o clima para que estejamos, brevemente, noutro período eleitoral! Pode ser é que o clube não suporte o outro período eleitoral! E, depois, vão-se acabar, de uma vez por todas, as tribunas para estes pavões prejudiciais darem largas à sua jactância desmesurada. O melhor ato de amor ao clube, neste momento, independentemente, dos seus dirigentes, seria dar tempo e paz ao clube. Mas bem sei que esta gente bem ataviada precisa de ir ganhando a sua vidinha à custa de ser um "nojável" do clube. É por causa do Sporting ter esta casta de "intelectuais" que vive há décadas nesta guerra civil. Deixem o homem cumprir o mandato, e, no fim, fazem-se as contas.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Calafate e Samuel Almeida não recebiam nada e foram convidados pessoalmente por Frederico Varandas devido exactamente a sua frontalidade e independência.
      E não frequentam tribunas nem fizeram parte de qualquer lista ou grupo dentro do Sporting.

      SL

      Eliminar
  2. Que incoerência! Este discurso megalómano é o mesmo discurso feito desde sempre pela nação lampiónica! Quando é feito pelos encarnados é um discurso otimista e de valorização da marca; agora, que é feito por um dirigente leonino já merece a maior censura! Este tempo das redes sociais é implacável para quem governa alguma coisa, porque se é preso por ter cão e por não ter! No futebol, ao contrário do que nos querem convencer, a comunicação não interessa nada. Só interessa quando não se obtêm resultados. Vieira é um comunicador sem igual...

    ResponderEliminar
  3. Varandas, se for inteligente, não deixará de aproveitar as críticas para aprender e melhorar.
    SL

    ResponderEliminar
  4. O problema é falta de dinheiro! É a falta do dinheiro da L. dos Campeões, que BdC e JJ falharam. Toda a crise nasceu nesse falhanço. Imaginem o que seria o Porco sem essas verbas!... Aguardo, ansiosamente, que Portugal fique sem acesso a essa competição maldita, que só serve para cavvar um fosso sem fim entre uns poucos clubes e todos os outros. O dia que isto acontecer, ver-se-á como as crises se vestirão igualmente de outras cores. Que tenhamos a coragem, de uma vez por todas, de tornar o clube com um orçamento que não supere as receitas. >Deixemo-nos de orçamentos ao nível dos outros dois e resultados parecidos com Braga e Moreirense. Seria completamente aceitável um Sporting com um orçamento pela metade do atual, mas com um modelo sólido. Provavelmente, não seria campeão, mas poderia semear alguma coisa para colher no futuro, de forma sustentada. Por que será que não se faz esta aposta racional? Deixemo-nos desta coisa: de que para o ano é que é... Criemos os alicerces para poder ganhar naturalmente e não de forma esquisofrénica.

    ResponderEliminar