quinta-feira, 2 de maio de 2019

Viva a inteligência!...


Futebol a mais

«Do jogo da Pedreira, para lá dos inúmeros casos que originaram dezenas de horas de televisão e milhares de caracteres que marcaram o confronto Braga- Benfica, fica-me na retina algo que António Salvador tem de ponderar. Ninguém olvida o trabalho de infra-estrutura e de gestão desportiva que o presidente conseguiu realizar, porém, salta à vista de todos que existe ainda um comportamento não uniforme no relacionamento com adversários que cheira a tacanhez de mentalidade.

Com o Sporting, tanto ele como o "professor" Abel, batem na mesa, mostram os dentes, são vigorosos nas declarações. Com outros passam da couraça de "rotweillers" para a pele de caniches e metem o rabo entre as pernas. Se Salvador quer ser grande não pode tergiversar no seu perfil comunicacional, não pode dar mostras de cobardia ou de um acantonamento táctico perante clubes que com ele se dão melhor. No domingo, os bracarenses tinham todo o direito de libertar as suas frustrações e reclamar da arbitragem, contudo, vimos o líder calado e o treinador a branquear tudo com o «estofo de campeão» do adversário.

É certo que o Benfica de Lage é uma águia pujante e não o passarinho com medo de voar de Rui Vitória, tem classe e qualidade, e não contaria com a escorregadela dos dragões em Vila do Conde. O Porto que ganhou a Youth League, com um naipe de inúmeros talentos que convém não desperdiçar como fez com outros no passado, mostrou nessa competição que apesar de ainda não ter uma Academia continua a formar jovens com mentalidade e estofo de campeões que nada temem, algo que faltou aos seniores nos minutos finais contra o Rio Ave. Sérgio Conceição tem também essa alma e sangue de quem quer ganhar tudo, no entanto, parece-me pouco provável que repita o gigantesco feito da época transacta. Os azuis e brancos patinaram diversas vezes, os encarnados recuperaram e galvanizaram os adeptos. E é o momento que decide tudo.

Tenho por hábito de muitos anos ir tirando apontamentos para cadernos. Como diria uma personagem do escritor nicaraguense Sergio Ramirez, «um filósofo da vida deve deitar sempre mão à caneta, porque não tem o direito de desperdiçar os seus pensamentos. Caso contrário, transforma-se num pensador inofensivo, num leão que perdeu os caninos e não há coisa pior do que um leão obrigado a um regime vegetariano». Desta semana registei quatro situações:

1- Depois da renovação de Salvio e da aquisição de dois jovens ao Leixões. Paulo Gonçalves, segundo notícia Record, é o empresário mandatado para negociar com o Benfica o jogador Cádiz. Então mas na SAD encarnada não se tinham já esquecido dele?; 
2- A herança para Varandas de Sousa Cintra em poucos meses de uma Comissão de Gestão é de 17 milhões. Onde andam as aves raras do jantar de homenagem e que avançaram com a hipótese dele ser presidente honorário?; 
3- Uma enorme vitória na Champions de futsal do Sporting que tem dois responsáveis: Nuno Dias e Miguel Albuquerque;
4- Iker Casillas é mais do que um jogador de futebol, é uma lenda. O homem com maior palmarés que passou pelos relvados portugueses resistiu a um susto que consternou todo o globo. Que bom que era que os mais simples e nobres sentimentos do mundo expressos por tanta gente conhecida e anónima se impusessem às pulsões mais irracionais e descabidas que gravitam em redor do desporto-rei.»
(Rui Calafate, Factor Racional, in Record)


Depois de uma semana confrontados com pouco mais que ligeiras nuances de jornalismo - quase sempre fretes subservientes e/ou alienações convenientes! -, sabe bem ver chegada a hora de ler Factor Racional de Rui Calafate, um sportinguista capaz de olhar à sua volta com olhos de ver e intocável e irrepreensível honestidade intelectual.

Viva a inteligência!...

Leoninamente,
Até à próxima

3 comentários:

  1. Tudo certo mas a herança de Sousa Cintra (supondo que se refere à tal de 17 M€ que parece custar muito a aceitar a muito filósofo da bola) foi o preço a pagar pelos regressos de Bas Dost (21 golos está época e com duas lesões prolongadas pelo meio), de Bruno Fernandes (28 golos e a época não acabou) e de Battaglia. Estes jogadores por junto devem valer nesta altura cerca de 100M€ a preços de mercado. Com uma herança destas ainda há quem não queira ser herdeiro. Se calhar era melhor te-lós deixado ir embora e estar agora a chorar pela perda total , como se chora quando um acidente nos destrói o carro e o mesmo vai para a sucata e não temos seguro. Há autores para a teoria mas do autor deste artigo espera-se que não pague para um peditório que já não está aí a recolher donativos.

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    1. Vejo com uma boa margem de razoabilidade o comentário de João Gil. Mas julgo que Rui Calafate não terá pretendido "pagar para o peditório" que refere. O libelo que deixou nas entrelinhas do seu artigo, não o vejo dirigido a Sousa Cintra, que ainda ontem reconheceu ter feito apenas o que pôde, nas circunstâncias difíceis que todos reconheceremos. O que RC terá pretendido destacar, terá sido o exagero das louvaminhas que rodearam o jantar de homenagem, com a cereja no topo do bolo que terá constituído a ideia peregrina do lançamento da hipótese de o promover a presidente honorário.

      Sousa Cintra fez o que pôde. Coisas bem feitas pelas quais devemos estar-lhe gratos. Mas também cometeu alguns erros, de que destacarei o maior, que considero o facto de ter abdicado de Badelj, apenas porque o jogador desejava um contrato de quatro anos, em favor de Gudelj que viria a custar uma pipa de massa, quando a qualidade de um e de outro jamais será comparável.

      Mas entendo como profundamente salutar esta divergência de opinões que possa existir entre sportinguistas. Maus mesmo e profundamente desnecessários, serão outros espinhos com que nos vemos obrigados a conviver actualmente no universo sportinguista...

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    2. Errado, caro João Gil. Nos 17,3 milhões, para ser mais exacto, não estão os custos do regresso de Bast Dost e de Battaglia. Os 1,5 milhões para o empresário de Bruno Fernandes sim, estão nas contas tornadas hoje públicas pelo Record.
      SL

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