quarta-feira, 8 de maio de 2019

Lá saber eu sei, mas não digo, por enquanto!...



A tremenda prova de vida do goleador

«Quando saiu do banco para o aquecimento, Bas Dost parecia um miúdo de 16 anos a quem se abria a hipótese de estreia na equipa principal do clube que representa. As bancadas sublinharam o momento com entusiasmo evidente e o jogador correu para trás da baliza de Renan como se estivesse a festejar um golo. O instante revelou um lado oculto do temperamento do holandês, mais emocional, a confirmar que os quase dois meses longe dos relvados deixaram marcas também no seu estado de espírito. O clima prosseguiu na exaltação colectiva da entrada em campo e na explosão pelo golo, menos de um minuto depois de ter entrado, que foi o relâmpago magistral na histórica tempestade de um 8-1 fora de contexto na Liga – e ainda atirou ao poste pouco depois. No fim, BD elevou o momento que Marcel Keizer definira como simples etapa de recuperação: demonstrou que não capitulou ao infortúnio e que a paragem não diminuiu a vontade de jogar, muito menos a motivação de recuperar ritmo, saúde e um lugar na equipa.

Por trás da aparência distante, que reprime o sorriso, está um homem orgulhoso da profissão que abraçou e um jogador comprometido com os valores do clube que representa; um avançado que, ao contrário da indiferença sentimental que exprime, de acordo com os traços próprios de quem nasceu, cresceu e viveu sempre no norte da Europa, quer cuidar com esmero do império de golos e afectos que construiu em Alvalade; um futebolista que, passada a tormenta da lesão e do afastamento, continua à procura de ventos fortes para reviver o vendaval de felicidade que tem sido a carreira de leão ao peito – esqueçamos por ora os acontecimentos de Alcochete, nos quais foi uma das principais vítimas. O dia do regresso mostrou, afinal, que atrás dos trovões que lhe tiraram saúde e afectaram a esperança de um futuro risonho houve sempre uma luz de ternura que despertou a intuição nata para ser feliz. Em vésperas de chegar aos 30 anos, BD está pronto para assumir a luta contra os estragos da lesão e do tempo. A aparição no Jamor constituiu uma tremenda prova de vida saída dos escombros de quase dois meses no estaleiro.

As suas acções mais estrepitosas têm sempre a área como palco, o tiro como gesto de preferência e a pontaria como virtude principal da função que desempenha. A extravagância do seu futebol de traços estritos mas objectivos, circunscritos a um espaço geográfico delimitado, dá-lhe protagonismo como especialista do momento mais decisivo do futebol: o golo. BD diminuiu presença, regularidade, influência e peso relativo na equipa; o senso comum aponta para uma época abaixo do habitual, mas essa conclusão empírica é contrUm excelente texto ariada por números que não mentem: 22 golos (!) em 32 jogos. 

O holandês é hoje um ponta-de-lança mais abrangente, processo para o qual muito contribuiu Jorge Jesus, que lhe acrescentou argumentos na movimentação, na participação no jogo e na utilidade na cerimónia que antecede o último toque. Numa equipa em permanente ataque posicional, é um avançado mortífero, porque desenvolveu o instinto assassino que identifica os melhores. Nos momentos de maior tensão, a ele baixam-lhe as pulsações, pensa melhor e decide com a frieza de quem parece não ser daquele filme.

A técnica cristalina, a inteligência futebolística e os elementos tácticos entretanto acrescentados ao reportório conferem-lhe um estilo bem definido; a estatística impressionante de três épocas (92 golos em 122 jogos) é um alerta para a importância que tem na equipa. O Sporting tem agora a palavra: encara-o como fenómeno imprescindível para o futuro imediato; potencial negócio milionário ou peso incomportável na folha salarial. O momento de tomar decisões não tarda mas ainda não chegou. O futuro é que não pode esperar eternamente..»
(Rui Dias, De pé para pé, in Record)


O excelente texto de Rui Dias, na linha a que há muito nos habituou, sendo uma magistral contribuição para a definição da personalidade, talento e importância no Sporting actual, desse homem e futebolista de eleição que é Bas Dost, reflectirá porém uma certa corrente de 'preocupação' que, estimulada ou não por interesses distantes do Sporting, parece recrudescer ciclicamente - o que não deixa de ser 'preocupante' do ponto de vista do universo leonino -, envolvendo quase sempre o futuro próximo dos activos mais importantes do Clube.

Rui Dias aparece-nos pois, muito particularmente no remate da sua crónica, extremamente 'preocupado' com uma eventual decisão tardia - "o futuro não pode esperar eternamente..." do Sporting sobre a curiosa dicotomia que se estará a abater sobre os responsáveis leoninos: "encarar Bas Dost como fenómeno imprescindível para o futuro imediato, ou (ponderar profundamente sobre um) potencial negócio milionário ou peso incomportável na folha salarial"...

Se nos lembrarmos da 'quase alucinada preocupação' de muitos dos seus companheiros de redacção e de outras redacções concorrentes, sobre as iminentes saídas - dizem ou inventam eles! - de Bruno Fernandes, Sebastian Coates, Jéremy Mathieu, Acuña e até Raphinha, teremos 'pintado' o quadro completo da 'desdita' a que Alvalade parece estar condenado, no qual Rui Dias também parece não enjeitar 'dar umas pinceladas'!...

Ora, perante o facto incontornável de, nem Frederico Varandas, nem nenhum dos seus pares ter vindo até agora admitir qualquer desses cenários estapafúrdios - ao que se sabe as sua posições estarão, rigorosamente, nos antípodas de toda a ficção jornalística! - começa a ser difícil de entender o que fará correr toda esta gente?!...

Lá saber eu sei, mas não digo, por enquanto!...

Leoninamente,
Até à próxima

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