terça-feira, 28 de maio de 2019

Nunca mais quero pensar sequer neste filme!...


Do inferno ao céu


«O filme começaria com as lágrimas de Bruno Fernandes antes de entrar para o jogo da final da Taça de Portugal no sábado. Apenas alguns segundos. De seguida aparece o mesmo Bruno Fernandes em lágrimas na final do ano passado contra o Aves.

O que se passou entre uma e outra serve de fio ao argumento. A cena seguinte começaria com as imagens da turba de homens encapuçados, grandes e largos como armários, a correr para a entrada da Academia de Alcochete. A imagem pura do terror.

A entrada abrupta nas instalações, o tumulto nos balneários, Bas Dost a ser agredido na cabeça, Jorge Jesus a tentar travar os agressores e a ser ele próprio atingido. Imagens rápidas, o som dos gritos, o espetador expectante até ver os homens da claque a saírem da Academia deixando um rasto de destruição.

Nova analepse. Imagens de uma derrota. Um actor no papel de Bruno de Carvalho ao telemóvel a enviar mensagens para os jogadores e "posts" para o Facebook . Outro jogo, mais mensagens, mais tensão, a corda a esticar e a romper-se numa reacção pública de contestação aos jogadores. Veríamos as conversas entre eles, enfrentar ou não o presidente. Os líderes do balneário, Rui Patrício, Adrien Silva ou William Carvalho a pesarem as consequências e ainda assim decidir fazê-lo. A mensagem fracturante a ser escrita nos "smartphones".

Segue-se a ira de Bruno de Carvalho, despeitado pela afronta. Nova mensagem deixada no FB para os "menimos mimados" e a ameaça da suspensão. "Ora tomem", diria o actor. Conversas com os líderes da Juve Leo, estes a falarem entre si, os bastidores do ataque, com as dúvidas de uns, mas a pressão do grupo a levar a melhor e a levá-los até Alcochete.

De volta aos jogadores, já agredidos, em casa com namoradas, esposas e filhos. O desejo de largar tudo, mas ainda assim ficar. O campeonato perdido, mas uma taça para conquistar.

Jamor, um dia quente de Maio. O ambiente é tenso e a tensão lê-se no rosto dos jogadores do Sporting à medida que a câmara passa por eles. Do outro lado uma equipa à espreita de fazer história. É o que lhes diz o treinador.

O primeiro golo do Desportivo das Aves, depois o segundo golo numa arrancada pela direita. Montero reduz a diferença, mas a taça segue para Santo Tirso. A festa é dos vermelhos e brancos, a frustração e lágrimas dos verdes e brancos.

As próximas cenas são de uma crise em crescendo, a rescisão dos jogadores, os dilemas dos que escolhem romper e dos que escolhem ficar, um clube em dissolução, um presidente também ele em rutura emocional.

Eleições. Imagens da campanha e dos debates passam aceleradas. Promessas e troca de acusações. Bruno de Carvalho impedido de participar. Frederico Varandas eleito. Há um novo treinador, mas a crise não desaparece.

A fita segue com a emissão obrigacionista, o clube com a corda da bancarrota na garganta, as reuniões com os bancos, o desespero para conseguir fazer uma operação que caminhou demasiado perto do abismo. Mas que se fez.

O tom do argumento muda. Bruno de Carvalho a ser detido para interrogatório, depois expulso de sócio. As imagens seguintes aceleram para a final da Taça da Liga, o Sporting a bater o FC Porto nos penáltis e a festejar. De novo para o Jamor, outra vez os penáltis. Luiz Phellype bate Vaná e ajoelha-se. A festa explode atrás dele. Fim.»
(André Veríssimo, Linha de Fundo, in Record)


Que me perdoe o 'realizador', cujo soberbo trabalho aplaudo de pé, mas vou colocar o dvd no fundo falso e sob espessa camada de cotão, de um baú qualquer que andará lá em cima perdido pelo sotão...

Nunca mais quero pensar sequer neste filme!...

Leoninamente,
Até à próxima

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