quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Saudações desportivas para Nuno Encarnação!...


A queda de um anjo


«Camilo Castelo Branco escreveu um belíssimo livro com este título. Nele, retratava um transmontano, que chegado a Lisboa para exercer o seu mandato como Deputado, se deslumbrara com o brilho, com o cheiro a poder e tudo o que a "profana" Capital e o exercício do cargo à época proporcionavam.

Bruno de Carvalho não veio de Trás-os-Montes, nunca foi anjo, mas chegou ao futebol com uma ambição enorme de o mudar. Transfigurou o Sporting, colocou-o aparentemente maior, como há muitos anos não se via, mas no final mudou-se sobretudo a ele próprio. No início socorrera-se de alguns notáveis de Alvalade para ganhar credibilidade, pedindo mesmo a sua bênção, mas, no espaço de 5 anos, conseguiu ser excomungado por cada um deles. 

Os notáveis e os comentadores batiam-se por ele o mais que podiam. Os pontos conquistados pelo clube mantinham o febril estado da conquista de um título. Os barões de Alvalade tornavam-se os maiores defensores das injúrias de BdC no Facebook ou nas Assembleias Gerais do clube, justificando-as como uma questão de estilo e não como uma falta de educação.

Quanto mais poder tinha, mas exigia ter. Era um eterno insatisfeito. Os aplausos foram muitos, a histeria colectiva era comparada à de uma igreja maná, mas a sua maquilhagem derreteu perante o calor de tantos holofotes. 
O poder de Bruno foi absoluto, mas a gula provocou-lhe uma congestão democrática letal. BdC subiu a pulso no clube, mas os pulsos rebentaram. Não estavam preparados para tanto poder. Ficaram fracos, desfizeram um homem forte, e torceram até quebrar. Hoje, assistimos a um ser humano humilhado na sua "siamesa" detenção com um líder de uma claque. 

Não fico indiferente à queda deste homem, nem ao sofrimento da sua família e ao das suas filhas. Terão o legítimo direito de acreditar na sua inocência e de a defender de unhas e dentes. 

Mas, durante estes anos, raramente o defendi. Disse várias vezes que iria acabar mal e que esse mal iria destruir o Sporting. Destruiu um plantel, perdeu três dos melhores treinadores Nacionais, sem que nenhum tivesse o sucesso devido e assistiu impávido e sereno à "terraplanagem" da academia de Alcochete.

Há 152 anos, quando Camilo escrevia o livro que evoquei, jamais imaginaria que a sua personagem Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda reencarnasse num tal de Bruno Miguel Azevedo Gaspar de Carvalho. Elói fora Deputado, Bruno acabou "deportado" do mundo do futebol. O poder de facto não é para todos!»
(Nuno Encarnação, Porto, Porto, Porto, in Record)


A minha homenagem ao insuspeito autor deste excelente texto. Nuno Encarnação é um dragão convicto. Daqueles que apenas derrubado e imobilizado permitirá o mais leve ataque ao seu "Porto, Porto, Porto"! Compreendo-o e respeito-o. Uma vida inteira tenho sido assim, com o meu Sporting!...

Hoje acaba de publicar um trabalho que nem todos se atreveriam a construir. É preciso possuir dimensão. Ponto final.

Que todos os sportinguistas nesta hora difícil para o Clube, saibam entender a mensagem de Nuno Encarnação. Acredito que talvez tenha sido esse mesmo o seu propósito...

Saudações desportivas para Nuno Encarnação!...

Leoninamente,
Até à próxima

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