A importância de ser estável
«O Centro Internacional de Estudos do Desporto de Neuchâtel, criado em 1995 num esforço conjunto da FIFA, da universidade daquela cidade suíça e de entidades públicas locais, tem dado um contributo relevante para a compreensão do fenómeno desportivo e em particular do futebol, usando uma abordagem multidisciplinar.
Este ano o CIES tem dedicado uma atenção especial à questão da estabilidade dos plantéis e ao seu impacto na competitividade das equipas e dos campeonatos. Sem surpresa, este tem sido um factor-chave e Portugal não faz boa figura.
O CIES analisou a percentagem de novos jogadores nas equipas da divisão principal de 31 federações da UEFA entre 2009 e 2017. A primeira conclusão é que a rotação tem vindo a aumentar. Se no primeiro ano as equipas tiveram menos de 37% de caras novas, no último foram 45%.
Imagine o leitor que perto de metade dos seus colegas de trabalho mudava a cada ano. Certamente não haveria monotonia, mas será que existia um forte espírito de equipa e coesão? São laços que precisam de tempo.
A instabilidade do plantel em Portugal é a segunda mais elevada entre os países europeus considerados (52%), melhor apenas que o Chipre (57,7%) e pior que a Bulgária (51,3%).
Há casos piores. O recordista, o Diyarbakirspor da Turquia, mudou 96,4% da equipa em 2009. No fim da época desceu de divisão. No extremo oposto está o finlandês FC Honka, que manteve o plantel igualzinho em 2010. Terminou em quarto.
O estudo do CIES indica que as equipas com os plantéis mais estáveis têm também melhores resultados desportivos. Os campeões nacionais apresentam em média uma rotação de 34%, menos 7,2% que os restantes clubes.
Outra abordagem usada é o tempo médio de permanência dos jogadores na primeira equipa dos clubes. Nesta época só três passam os cinco anos: Real Madrid (5,84), Barcelona (5,36) e Bayern Munich (5,26): todos de primeira água. No top 20 estão essencialmente equipas espanholas, alemãs e inglesas.
São as ligas com maior poder financeiro e logo com maior capacidade de reter os melhores por mais tempo. O que, por sua vez, contribui para os seus elevados índices competitivos. Outra vantagem é a possibilidade que isto dá de planear a longo prazo.
No ranking nacional o melhor posicionado é o Benfica, com 3,01 anos, depois o Porto (2,35), seguido pelo Portimonense (2,31). O Sporting está bem mais distante, com 1,07 anos, um registo agravado pelas rescisões. Há clubes onde a média não chega a um ano: é o caso do Aves, Setúbal, Belenenses e Moreirense.
A questão financeira é determinante. Para os clubes portugueses é difícil conseguirem números próximos dos melhores da Europa porque a venda de passes é fundamental para compor as contas e não agravar os enormes desequilíbrios acumulados.
O dinheiro, sempre o dinheiro. Casos há, e isso é salientado no estudo, em que a elevada rotação de jogadores se deve à corrupção, sendo uma forma de possibilitar a distribuição de comissões.
O caminho é claro: criar condições para ter plantéis mais estáveis e, por isso, mais competitivos.
Nota final: a investigação do CIES também mostra que os treinadores que mais mexem na composição das equipas ao longo da época tendem a ter piores resultados.»
(André Veríssimo, director do Negócios, Linha de Fundo, in Record)
Como diria o saudoso Fernando Pessa...
E esta, hein?!...
Leoninamente,
Até à próxima
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