Os salteadores do futebol perdido
«O FC Porto-Benfica desta noite é mais do que um mero desafio de futebol, no qual estão em jogo 3 pontos. É claro que o desfecho terá um efeito imediato na parte desportiva — se o Benfica não perder dará um passo de gigante em direcção ao título; se o FC Porto vencer diminuirá a diferença para o seu rival dos últimos anos e o campeonato ganhará um pouco mais de interesse. Também por isso o jogo desta noite é uma final para o Benfica e uma finalíssima para o FC Porto.
Há, contudo, 3 outras razões — para além das competitivas — para se considerar que este clássico tem uma importância suplementar e inusitada:
1 O MOMENTO DO FC PORTO - As recentes declarações de Sérgio Conceição visaram a coesão da estrutura e os constrangimentos financeiros, chamando a atenção para uma realidade que estava mais ou menos adormecida. Havia sinais claros de potencial ingovernabilidade e de dissonâncias só confessadas em surdina e em círculos mais ou menos fechados, mas as declarações de Conceição foram a cal viva atirada para cima de uma artificial mansidão. São declarações que vão acompanhar os próximos tempos da vida do FC Porto, antes e depois de eleições. É tão preocupante a situação financeira portista, cuja necessidade de resposta em regime de intervenção urgente foi sucessivamente adiada, à espera que um troféu, sobretudo o de campeão nacional, mitigasse o impacto dessa realidade cada vez mais difícil de camuflar, que um eventual inêxito frente ao Benfica daria pouca margem de manobra aos situacionistas e aos amigos dos paninhos quentes.
Foi por causa dessa situação de ameaça de queda de regime que me levou a considerar que o jogo desta noite é, para o FC Porto "tão ou mais importante do que a final de Viena". Logo vieram os basbaques do costume a criticar a asserção, uma vez que o seu fito é não apenas desviar as atenções de outras imundícies mas também tentar lançar o descrédito sobre quem não se deixa capturar. Toda a gente percebe que a final de Viena foi — como expliquei — muito importante para a afirmação do FC Porto, nacional e internacionalmente; da mesma maneira, e no sentido oposto, uma derrota frente ao Benfica provocará imensas ondas de choque, uma vez que o desgaste da (velha) estrutura é evidente e o regime ficaria ameaçado.
2 PINTO DA COSTA ACOSSADO - Num eventual cenário de não vitória no clássico desta noite, Pinto da Costa — mais do que Sérgio Conceição — fica muito exposto. A gratidão tem limites. Os sócios e adeptos do FC Porto sempre toleraram a não conquista de títulos numa dinâmica de alguma alternância, mas a verdade é que nas últimas épocas a hegemonia do Benfica foi-se consolidando e não há sinais de regeneração da estrutura portista. Acresce que a capa da revista Sábado, segundo a qual FC Porto e Pinto da Costa são suspeitos de fraudes e lavagem de dinheiro e alvos de oito inquéritos que visam negócios milionários com vários jogadores, também não ajuda nada. O estado de graça está a transformar-se em estado de desgraça, na recta final do longo reinado de Pinto da Costa. A pior conclusão a que os adeptos e sócios do FC Porto poderiam chegar estaria em linha com a ideia de que os gestores e o próprio Pinto da Costa, depois de terem feito o mais difícil num país centralista, arruinaram o clube. A ruína depois da glória.
3 VIEIRA TAMBÉM ACOSSADO - A questão é que a matéria da Sábado também coloca (ou volta a colocar, melhor dizendo) o presidente do Benfica , Luís Filipe Vieira, sob suspeita. E, se a capa da magazine poderia ser observada como uma almofada para muitos benfiquistas, a verdade é que o seu conteúdo — revelado precisamente na semana do clássico — não deixa de ser também um reforço de preocupação para a comunidade encarnada, na sequência das investigações e dos processos que já se sabia estarem em curso. A questão é que esses processos estavam numa espécie de lume brando e a supremacia desportiva do Benfica, ao longo deste campeonato, vinha sobrepondo-se nos últimos dias a qualquer outra questão relacionada com a actualidade benfiquista. E este dado reforça também a importância do clássico para o lado do Benfica. Não são apenas os 3 pontos. Um eventual desaire, não apenas diminuiria a desvantagem para o FC Porto, como voltaria a colocar as suspeitas sobre Vieira em ponto de maior destaque. Por isso, e embora não se devam misturar questões tão díspares quanto investigações e resultados de futebol, a verdade é que, no desporto-rei, mais do que em qualquer outra actividade, a emoção tolda a razão.
A matéria da Sábado coloca em causa afinal os pilares em que assenta o negócio do futebol: o jogo representa muito pouco. Eu pergunto: em que ponto ficam os contribuintes que andam há anos a pagar estas obscenidades, na banca e no futebol? A purga é necessária para isolar os salteadores.
NOTA - Sérgio Conceição diz que ‘ninguém me cala!’ Pimba: soma e segue!
O CACTO - Vingadores e vingados
Não obstante a má época desportiva do Sporting, continuo a achar que movimentos de destituição são um disparate, até pela banalização que começa a tomar conta deste (irresponsável) mecanismo. O Sporting transformou-se num clube de vingados e vingadores e, numa espiral tão vertiginosa quanto esta, ninguém tem razão, ninguém merece respeito — e o clube é que paga. Para acabar a espiral é preciso mudar os estatutos, porque considerando o passado, mais ou menos recente, NINGUÉM sobrevive a este catastrófico rodízio. O actual presidente já começou a explicar, aqui no Record, as razões por que esteve mais susceptível ao erro e, considerando a herança, é preciso um pouco mais de tempo para se inverter o rumo. Não é uma questão de desculpabilização; é uma questão de realismo e também de se perceber que só se deve mudar de presidente em pleno mandato por questões substantivas. Não há nenhum clube no mundo que tenha passado o que o Sporting já passou e não há nenhum clube que mude de presidente como quem muda de camisa. Há uma frase da primeira parte da entrevista concedida ao Record que deveria fazer muita gente reflectir: "Não permito negócios debaixo da mesa. Nunca se vão entregar envelopes com notas nos escritórios do Sporting ou ver transferências investigadas na PJ". O Sporting tem muitos assuntos sérios para resolver, mas o futebol tem um maior: não se deixar tomar pelos salteadores. Os pilares do negócio também precisam de ser refundados — e, para isso, precisamos de estar todos conscientes de que é preciso eliminar alguns vícios…»
Aqui do meu canto, concordo em absoluto com Rui Santos: o Sporting tem vindo a revelar-se nos últimos anos um terreno demasiado fértil para o maior de todos, entre tantos vícios 'semeados' em Alvalade que será, não perceberem os sportinguistas que "só se deve mudar de presidente em pleno mandato, por questões substantivas"!...
A saga terá começado há sete anos atrás, com Miguel Paim e André Patrão a liderarem o processo, tendo Godinho Lopes, por razões nunca divulgadas na sua essência, antecipado o desfecho com a sua demissão, com a MAG e em particular o seu presidente, a quem caberia a última palavra, a serem poupados a uma apreciação e decisão sempre difíceis.
Veio depois Bruno de Carvalho que, tendo sempre recusado seguir as pegadas de Godinho Lopes, resistiu a todo o processo e obrigou Jaime Marta Soares que, reconhecendo a razões de 'justa causa' apresentadas pelos subscritores, decidiu avançar para a convocatória da AG, onde o presidente acabou demitido por larga maioria. E a moda pegou. Hoje já ninguém quer saber de substantivos ou adjectivos, de justas ou menos justas causas: alguém embirra com o presidente e zás, assembleia geral de destituição em marcha! É fácil, é barato e... para alguns, poderá até dar milhões, muitos milhões!...
A 'batata quente', como nos anteriores processos, encontra-se agora nas mãos de Rogério Alves que, por razões que apenas ele saberá mas que não estarão a deixá-lo bem na fotografia, entendeu prolongar a 'novela' para além dos limites que o bom senso recomendaria. Porém, o cerne da questão residirá, ao fim e ao cabo e tão só, do arcaísmo de uns estatutos que tal permitem e há muito tempo deveriam ter sido alterados. Óbvias culpas próprias para Rogério Alves e Frederico Varandas que tiveram mais do que tempo suficiente para evitar esta 'rebaldaria', não restando agora aos sportinguistas outro remédio que não seja, por todos os meios e no mais breve prazo...
Eliminar este novo vício!...
Leoninamente,
Até à próxima
Mas então, e pergunto-lhe a si que é Sportinguista, o que raio fazemos com estes incompetentes que estão a transformar o nosso Sporting num clubezinho irrelevante, que não é respeitado por ninguém e é diáriamente alvo de chacota??
ResponderEliminarMais oportunidades?? Mais tempo? Mais paciência??? O homem continua a achar que Hugo Viana é uma mais-valia, por amor de Deus!! O homem não aprendeu nada!!
Diga-me por favor se sou eu que estou a ver mal a questão!!
PS- o que Rui Santos diz, entra-me a 100 e sai a 200!E é curioso que todos os cartilheiros lampiões são fervorosos apoiantes de Varandas e adeptos desta "estabilidade"!! Curioso!!
SL
Estimado Sportinguista Rinaudo, começo por lhe recordar a expressão "Dura lex, sed lex", que certamente conhecerá, bem como o seu significado. Ela refere-nos a necessidade de se respeitarem as leis em todos os casos, até mesmo naqueles em que ela eventualmente seja demasiado rígida e rigorosa.
EliminarA nossa vida colectiva no Sporting é regida pelos Estatutos e neles está prevista a convocatória de assembleias gerais destitutivas, desde que satisfeitos determinados requisitos que à excepção de um único, facilmente se cumprem com, em meu entender e não estarei só, 'demasiada' facilidade. Nesta condição, qualquer grupo de gente 'mal intencionada', que também a há no Sporting, poderá com extrema facilidade apresentar uma petição à MAG nesse sentido. A única salvaguarda contida nos Estatutos e que defende o Sporting de ter eleições, por absurdo, trimestrais, é que se torna necessário apresentar provas inequívocas de 'justa causa' que suportem, tanto a decisão imediata e favorável do PMAG, quanto a decisão de um eventual tribunal de recurso a que os subscritores terão o legítimo direito de recorrer, se acaso o PMAG julgar improcedente a petição, por alegada ausência de 'justa causa'. Tudo claro, tudo simples, para quem assim estiver disposto a entender.
Retorquir-me-à com a argumentação deste seu comentário. E eu serei obrigado a recordar-lhe, que sendo eu um homem de esquerda em termos políticos, vi-me no passado obrigado a suportar com o credo na boca, a raiva no coração e muito cotão nos bolsos, anos e anos a fio, governos de Aníbal Cavaco Silva e Pedro Passos Coelho. "Dura lex sed lex", meu caro e... sempre de sorriso nos lábios!...
Li com muita atenção a argumentação apresentada pelo grupo de associados do Sporting que requereu agora esta AG Destitutiva e orgulho-me de conhecer suficientemente bem a língua do torrão onde nasci. Pois bem, se eu estivesse investido nas funções de Rogério Alves, teria informado no dia seguinte à recepção dos documentos, da improcedência do requerimento, por ausência clara e inequívoca de qualquer 'justa causa'. Não sei o que irá na cabeça de Rogério Alves, mas ando preocupado, muito preocupado...
Julgo ter respondido à sua questão. Eu até nem votei em Frederico Varandas. Os meus nove votos foram para José Eugénio Dias Ferreira. Mas, na minha opinião, enquanto não houver 'justa causa' para destituir Frederico Varandas e a sua gente, até ao fim do mandato, será o legítimo Presidente do SCP. A menos que para além da incompetência que eventualmente continue a revelar, cometa algum 'crime' que suporte 'justa causa', suficientemente bem explícitos nos Estatutos.
Quanto a Rui Santos, com o devido respeito pela sua opinião, considero-o um dos melhores jornalistas da nossa praça. Ambos, o Rinaudo e eu próprio, teremos igual legitimidade de apreciação. O que seria do vermelho se todos gostassem do verde?!...
SL
Caro Álamo, mais uma vez e após a leitura (mais uma vez) dos Estatutos, estou em discordância consigo!! A delibrtacao6da justa causa é para ser deliberada em AG!! Simples! Não encontro em lado nenhum a prerrogativa do PMAG ser o decisor da existência ou inexistência da referida justa causa!!
EliminarComo tive formação (incompleta) em Direito, acho que sei interpretar os Estatutos, e também tenho o "latim" suficiente para entender o "Dura lex..", mas pouco mais, confesso!!
SL
É natural que aconteçam interpretações diferentes sobre uma mesma disposição de qualquer instrumento legal. Em torno de qualquer caso em qualquer tribunal, haverá uma 'parafernália' de juristas a prová-lo, com metade do lado da acusação e a outra metade do lado da defesa, com opiniões muitas vezes antagónicas. Daí a existência de instâncias de recurso que, terminando por cá no Tribunal Constitucional, muitas vezes se revelam insuficientes e vejamos amiúde os processos avançarem para tribunais europeus.
EliminarMas mantenho que, no meu entendimento, ao PMAG caberá a última palavra sobre a avaliação em causa. Que tenhamos todos muita saúde para voltarmos a comprová-lo mais uma vez. E se assim não acontecer, em tese, as dúvidas permanecerão no espírito de cada um.
SL
De qualquer modo, gostava que o caro Álamo me dissesse em que parte dos Estatutos se baseia para a fundamentação da sua opinião!!! Pode estar a escapar-me algo!!
EliminarSL
Meu caro Rinaudo, a minha apreciação é baseada, essencial e especificamente, no disposto no Artº 50, nº 1, alíneas c) e d). Porém, como quaisquer estatutos, os Estatutos do Sporting terão sempre de ser interpretados e valer, pelo seu todo, pela sua letra e pelo espírito com que foram construídos.
EliminarTenho lido por aí quem defenda que a 'justa causa' deverá ser apreciada pela própria AG e pergunto-me se, sendo competência do PMAG a admissão de candidaturas e a verificação da sua regularidade em todos os importantíssimos processos eleitorais (Artº 47, nº 4), como poderia perder essa competência perante um simples requerimento de associados, incorrendo necessariamente numa clara violação do disposto na alinea d) do atrás referido Artº 50, nº 1, que apenas prevê, exclusivamente, a votação, sem mencionar quaisquer debates prévios e muito menos considera a análise e decisão da 'justa causa'? Que outro orgão então, que não seja o PMAG, deverá fazer a imprescindível análise do requerimento dos associados e tomar a concomitante decisão?!...
SL
Mas lá está, compete ao PMAG fiscalizar as assinaturas e informar os requerentes dos custos da realização da AG!! Não leio em lado nenhum que tenha de ser ele a decidir a existência dou não dá justa causa!!
EliminarRepare Álamo, a ser asim, nem se justificava a realização da AG, seria uma decisão da Mesa da AG e ponto!!
Por isso eu perguntei, a quem caberia a decisão?! Ao Paulinho Gama?!...
EliminarSe o PMAG tem de fiscalizar a legalidade do processo, se o processo, depois de validadas as assinaturas e peso dos votos dos subscritores, apenas será válido, se provada a existência de 'justa causa', se na AG, por imposição estatutária, apenas pode ocorrer a votação, quem analisa a 'justa causa'?!...
O Rinaudo não "lê em lado nenhum que tenha de ser o PMAG a analisar que tenha de ser o PMAG a decidir a existência de 'justa causa', diga-me por favor onde está escrito que tem de ser a AG a decidir?! Caramba, temos de ser coerentes! Concordará que alguém terá de decidir, sob pena de a AG poder ser impugnada por ausência de 'justa causa' e lá voltamos nós à estaca zero...
O último parágrafo do seu comentário terá sido escrito pela emoção! Não acredito que alguma vez possa pensar que a MAG alguma vez se poderia substituir à votação, para afirmar que nem se justificava a realização da AG!...
SL
A AG pode sempre ser impugnada no caso de ser aprovada a justa causa ou no caso de esta ser rejeitada!! Caberá depois aos órgãos de justiça decidir!! Vamos lá a ver, os fundamentos para destituição vão a AG e lá serão apresentados, discutidos e votados!! Isto t alguma incoerência?? Cabe ao PMAG e à Mesa da AG validar as assinaturas, informar os custos, marcar a AG e conduzir os trabalhos da mesma!!
EliminarSabe o que lhe digo?? Estes estatutos são uma trapalhada jurídica e isto vai tudo para tribunal, duma forma ou de outra é a paz união vão continuar distantes!!
Em relação ao ultimo parágrafo, foi mais um exemplo a roçar o absurdo para vincar o meu ponto de vista, mas, Repare, caso o PMAG tenha a prerrogativa de ser a determinar a existência de justa causa, está efectivamente a substituir-se a uma votação!!
SL
1lA decisão poderá efectivamente pertencer ao Paulinho Gama enquanto sócio do Sporting numa votação no âmbito de uma AG!!
EliminarSL
Nao compete a MAG julgar se ha justa causa ou nao. Ossos a estalar!
ResponderEliminarIsso afirmarão alguns espíritos que retiram da leitura dos Estatutos conclusões diferente dos tribunais e da grande maioria dos que se debruçam sobre a matéria. E nem é à MAG que esses poderes são conferidos! Essa prerrogativa cabe, em exclusivo, ao PMAG. Basta uma leitura atenta...
EliminarMeu caro, ao contrário do que afirma, isso não é nada consensual, nem entre sócios, nem entre magistrados e juristas!! Aliás, eu recordo que GL interpôs um Providência Cautelar para travar uma AG e ests foi liminarmente recusada pela Justiça!!
EliminarConcordo inteiramente com o post. Nenhuma empresa depois de passar o que o scp passou pode estar a mudar de presidente. Sim, o plantel não é bom.. e depois? Com plantéis melhores perdermos na mesma.. temos que dar estabilidade ao clube e permitir que o Varandas ganhe calo ou.. perca nas eleições. Os mandatos são para cumprir. Excepto se alguém tentar tomar de assalto o clube.. como aconteceu no passado recente
ResponderEliminarOs mandatos são para cumprir.
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