sábado, 6 de março de 2021

A "estrelinha" por si só, pode não ser suficiente!...


A crónica do Sporting-Santa Clara, 2-1: o golo caiu do céu
Coates emprestou a cabeça à ideia de João Mário e o líder ganhou um jogo em que o Santa Clara o obrigou a fazer a exibição mais pobre na Liga

«O filme já foi visto mas não com este enquadramento e significado. Em alguns jogos anteriores, sempre que chegou à vitória tardiamente, o Sporting fez tudo quanto estava ao seu alcance para chegar ao golo; falou-se muito da estrela de Rúben Amorim, mas o sucesso, em boa parte desses casos, correspondeu a uma atitude colectiva, a uma operação para a qual todos contribuíram com esforço e talento. Ontem não foi assim. O empate, esteve por um triz, correspondia a uma exibição pobre e a um resultado ajustado ao que se passara nos 90 minutos. Quando Coates emprestou a cabeça à ideia de João Mário – aquilo não foi um cruzamento, foi um remate a contar com o desvio do uruguaio –, no terceiro minuto da compensação, o Sporting pouco fizera para chegar à vitória. Depois do empate dos açorianos, aos 84 minutos, poucos acreditavam que seria possível alterar o marcador, isto porque a dinâmica ofensiva leonina estava reduzida ao mínimo e os açorianos fizeram pela vida até chegarem ao 1-1 e estavam a justificar o empate.

Uma semana depois de ter empatado no Dragão, o Sporting assinou, com elevado grau de probabilidade, a pior exibição em jogos da Liga. Uma noite em que se mostrou sem reacção, sonolento, sem chama, totalmente desinspirado e pouco disponível para lutar contra essa inércia. O golo de Pote, aos 22 minutos, também ajudou a criar esse clima e só quando Rui Costa empatou a equipa despertou para a realidade que era estar a desperdiçar dois pontos.

Um remate, um golo

Boa entrada do Santa Clara, seguro e eficaz no modo como travou o desenvolvimento do futebol leonino, numa conjugação bem calibrada de pressão alta, posicionamento irrepreensível, tempo de entrada à bola e ambição traduzida na aparente disponibilidade de sair para a frente em ataques rápidos. O problema dos açorianos é que o adversário nunca sofreu com as dificuldades, nunca perdeu paciência, confiança e convicção no que estava a fazer, mesmo partindo do princípio de que não estava a fazer bem. Tinham os dois razão: o Santa Clara porque fez o que devia para evitar o desenvolvimento oleado do jogo leonino, o Sporting porque a serenidade com que respondeu lhe permitiu, mesmo assim, chegar ao golo.

A ganhar, os leões diminuíram a já de si baixa intensidade com que entraram no jogo e os forasteiros não se revoltaram com a infeliz ocorrência para os seus interesses que foi o golo de Pote. Destas premissas resultou um duelo previsível, sem dinâmica nem intensidade, lento, sem lances de perigo, sempre jogado longe das balizas – ao intervalo, a estatística confirmava o desinteresse da acção, ao registar três tiros à baliza, um verde e branco e dois encarnados.

Final alucinante

Depois do intervalo, o Santa Clara foi mais afirmativo na intenção de chegar à baliza de Adán. A equipa de Daniel Ramos deu o passo seguinte e resolveu pegar na bola e instalar-se no meio-campo contrário. Para se medir o modo como as coisas estavam a correr aos leões, Rúben Amorim abordou os últimos 20 minutos sem uma referência ofensiva na zona central. Apostou no talento e na mobilidade dos seus jogadores para roubar iniciativa ao adversário, até ao momento em que teve de se atirar para a frente, ganhando o jogo com um daqueles golos que caem do céu. A euforia final justifica-se tanto quanto a necessidade de reflectir. É por estas e por outras que Rúben Amorim não quer ouvir falar em título nacional. Mesmo com vantagem tão larga, tem ele toda a razão.

Homem do jogo

Coates - Foi ele a selar a vitória, aos 90’+3 de um jogo em que a equipa esteve abaixo do normal. O capitão foi decisivo. Tem sido.

Rui Dias terá sido exemplarmente capaz de explicar nesta sua crónica e de forma bastante linear, aquilo que ontem aconteceu ao Sporting no jogo frente aos pupilos de Daniel Ramos. Só não conseguiu, creio que por intencionalidade evidente, ir além do recado de reflexão deixado em remate da sua análise, oferecer a sua contribuição na explicação sobre os porquês que terão levado uma equipa com um trajecto sólido e já suficientemente lubrificado, a rubricar "a pior exibição em jogos da Liga".

Estou em crer que estaremos a assistir em cada jogo do Sporting a um rápido apuramento da soma das qualidades das sucessivas "vacinas" que os técnicos adversários têm vindo a "inventar e a apresentar" para se oporem ao padrão de jogo que Rúben Amorim tem tentado implementar desde que chegou a Alvalade e a que me permitirei chamar, na esperança do devido perdão dos meus leitores, de... "camisa de forças"!...

A cada novo adversário essa "camisa de forças" parece vir a ser sujeita  a sucessivos "up grades", resultando daí uma cada vez maior incapacidade do Sporting se libertar dos espartilhos que lhe são colocados.  Rúben Amorim já vem alertando há muito tempo com o suposto "remédio" para tal epidemia: a necessidade de, em certos jogos, os seus jogadores terem de "ultrapassar os seus limites"! Quer-me parecer porém, que essa "ultrapassagem de limites" se estará a revelar, de jogo para jogo, cada vez mais insuficiente. Todos os limites têm limite, além de que tal desígnio começa a ser, aparentemente, também usado pelos adversários...

Penso ser para aí que aponta Rui Dias: Rúben Amorim e a sua equipa técnica terão de reflectir e, consequentemente providenciar, no sentido de fornecer aos seus pupilos os "up grades" capazes de rasgar em pedaços as "camisas de forças" com que, sistematicamente, começam a ser confrontados...

A "estrelinha" por si só, pode não ser suficiente!...

Leoninamente,
Até à próxima

7 comentários:

  1. Caro Álamo:
    Sem discordar das suas palavras, creio haver mais dois factores a adicionar:
    - não temos pontas de lança disponíveis. Se nas Antas a falta deles passou mais despercebida porque não era um jogo para ataque continuado, neste notou-se muito mais.
    Não consigo compreender a lentidão da recuperação de Luís Phyllippe, nem a razão de Paulinho se lesionar ao fim de três jogos ( nesta é melhor eu não dizer o que penso).
    - a responsabilidade que os “comentadores”, a comunicação social e, sim, também a blogosfera leonina estão a colocar nos ombros desta rapaziada, a maioria da qual nunca se viu a este nível, parecem toneladas de chumbo adicionadas ao peso da camisola.
    E vai aumentar de jogo a jogo, por mais que Ruben Amirim tente “derreter” esse chumbo.
    Veja como os mais jovens se estão a ir abaixo: Nuno Mendes, TT, até Gonçalo Inácio, estão a sentir de forma brutal a responsabilidade, e isso, como dizia há pouco tempo Ruben Amorim, é mental e não físico.
    Daí que não me surpreenda a declaração dele ontem, de lhes dar dois dias de folga.
    Talvez também fosse tempo da blogosfera leonina tirar também uns dias, falar da Auriol Dungmo e da Patrícia Mamona, das modalidades ou de outras coisas, e se deixasse dos foguetes antecipados.
    O caminho é longo e árduo ainda, não é preciso dizer mal ( para isso temos sempre uma certa tasca que chega bem), mas moderem-se, caramba!
    Se o tempo de celebrar chegar, como desejamos, haverá tempo para tudo isso.
    Agora basta dizerem o que se fez melhor ou pior, e dizer constantemente “ Força, rapaziada, coragem e vamos jogo a jogo!”

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    1. Não posso estar mais de acordo com o meu amigo José Lopes. É nossa responsabilidade distribuir muito bem pelos pratos da "balança" a tremenda carga que impende sobre toda esta juventude - até o técnico! - não pretendendo significar com isso a negação da força incontornável da crítica construtiva!...
      "Força rapaziada, coragem e vamos jogo a jogo"!...
      Grande abraço.

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  2. Caro Amigo:
    Desculpe, que me esqueci de enviar o habitual grande Abraço
    Cá vai ele, a dobrar

    Grande Abraço
    José Lopes

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  3. Confesso que fico muito sensibilizado pela cordialidade do diálogo entre o ,permita-me, Caro José Lopes e o meu Caro Álamo. Postura exemplar.
    Dois abraços. Um para cada um. Espero que aceitem. S.L.

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    1. Por mim aceito e também muito sensibilizado, acredite caro João Bigodes 51. Mas a relação de sólida e grande amizade que ambos mantemos, vem de há muitos anos. Começou aqui, em Leoninamente e tem criado raízes que, talvez porque alimentadas por um sportinguismo puro e indefectível que nos chegou do berço e tem vindo a consolidar-se geracionalmente, partilham os valores e princípios que desde sempre ofereceram ao Sporting Clube de Portugal a singularidade que tantos e tantos invejam.
      Um grande abraço também para si, Caro João. SL

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  4. Caro João Bigodes:
    Agradeço as suas palavras e o seu abraço, que com imenso prazer, retribuo!
    Um forte Abraço,
    José Lopes

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  5. Muito obrigado, caro José Lopes e caro Álamo. É nesta maneira de estar e de sentir que eu me revejo.
    Viva o Sporting.

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