sexta-feira, 1 de maio de 2020

Uma ideia com pernas para andar?!...



FIFA bonds
A opinião de Nuno Correia da Silva (administrador não executivo Sporting SAD/Holdimo) 

«Da mesma forma que uma equipa entra em campo determinada a vencer, assim devemos encarar a batalha contra esta pandemia.

O adversário é agressivo, sempre pronto para atacar, não obedece a regras e tem um impacto destruidor. Nada, nem ninguém, está seguro; o futebol não é excepção, para o enfrentarmos teremos de estar unidos, juntos como uma equipa, todos teremos de ser um só.

Dos maiores aos mais pequenos, ninguém pode ficar para trás.

Tempos de crise são também tempos de provação, tempos que convocam o melhor de cada um e desafiam as instituições a redescobrirem-se, a encontrarem soluções novas para situações nunca antes conhecidas.

Da incerteza que passou a ser o denominador comum das nossas vidas só resulta uma evidência: o impacto no mundo do futebol terá dimensões nunca antes conhecidas. Do ponto de vista financeiro todos os orçamentos serão atingidos, mas os clubes mais pequenos sentirão o impacto com mais violência.

Com tesourarias de pouca elasticidade, qualquer quebra de receita tem forte impacto no equilíbrio. Numa situação de incerteza, como a que estamos a viver, com inúmeras variáveis por definir, com tantas dúvidas e sem quaisquer certezas, a gestão de um clube ou de uma SAD constitui uma verdadeira odisseia.

Os orçamentos para o ano desportivo sofreram um abalo sísmico na estrutura de receitas; todavia, a coluna de custos manteve as mesmas responsabilidades. São milhares as situações de grande pressão financeira, milhares de clubes que enfrentam constrangimentos que os podem levar ao encerramento e, com ele, à perda de muitos milhares de atletas e de jovens em formação.

A crise financeira, se não for travada, transforma-se na maior crise desportiva e social que alguma vez conhecemos. Se, nas SAD de maior dimensão, o problema afeta o presente e o futuro, nos mais pequenos pode significar o fim da linha.

Se não forem criadas soluções, rapidamente, tornar-se-ão moribundas e à mercê de qualquer predador mais ou menos escrupuloso. Presas fáceis, expostas a financiamentos usurários ou a aquisições de oportunidade. Sozinhos não conseguirão financiar-se, nem na Banca nem em quaisquer outros instrumentos de mercado.

A Banca não pode financiar, a exposição ao futebol constitui um risco agravado e por isso consome muito capital, inviabilizando a racionalidade de qualquer operação. As garantias que podem prestar são escassas, uma vez que os principais activos são direitos económicos sobre atletas e estes estão prejudicados na sua execução, uma vez que a sua titularidade só pode pertencer a clubes ou SAD.

Estamos perto da tempestade perfeita, provocada por uma crise pandémica de um vírus que surgiu na China e, por paradoxo, ou não, poderá resultar na grande oportunidade de interesses chineses dominarem, por aquisição a preços de saldo, um grande número de clubes e SAD das ligas europeias. O risco existe e ignorá-lo é alimentá-lo, os sinais de alarme são evidentes:

– Forte quebra de receitas;

– Dívidas de SAD e clubes a crescer de forma insustentável;

– Não existe, no mercado, financiamento para a dívida criada – colapso económico e financeiro;

– Mercados tradicionais de compra ou titularização de dívida indisponíveis. Os países produtores de petróleo estão com fortes quebras de receitas em consequência da violenta queda do preço, ficarão indisponíveis ou cobrarão taxas muito elevadas;

– Dívidas soberanas em crescimento exponencial com forte impacto nos mercados financeiros e a absorverem a liquidez disponível.

Só uma resposta global e institucional poderá evitar uma verdadeira OPA hostil. Só uma resposta a nível da FIFA e da UEFA permitirá, de forma eficiente, responder a um problema desta magnitude.

Uma resposta que terá de passar por uma mutualização de dívida, pela criação de um fundo com milhares de milhões de euros que permita injectar liquidez na indústria do futebol. Um fundo que sirva como fonte de financiamento para clubes e SAD e, ao mesmo tempo, como escudo protector.

O fundo poderá ser financiado por emissão de FIFA bonds, a terminologia não é relevante, o importante é instituí-las com a máxima celeridade, porque o tempo corre contra a saúde financeira do futebol. Este fundo financiaria as federações e as ligas nacionais que, por sua vez, financiariam clubes e SAD, construindo uma solução que tem múltiplas vantagens, nomeadamente:

– Obtenção de taxas de juro mais baixas, pela mutualização e pela garantia FIFA;

– Possibilidade de o financiamento chegar a todos, ao invés de ficar restrito aos que tiverem garantias reais;

– Facilidade de processamento;

– Celeridade no acesso;

– Simplicidade na amortização das responsabilidades assumidas, seria efectuada pela alocação de uma parte das vendas de direitos económicos ‘vulgo passes’ à amortização da dívida.

É possível transformar ameaças em oportunidades, esta solução de resposta a uma crise especial pode configurar um modelo a seguir no futuro, oferecendo ao futebol mais sustentabilidade e com ela mais competitividade.»
(Nuno Correia da Silva, in Record, hoje às 06:53)

Uma ideia com pernas para andar?!... 

Leoninamente,
Até à próxima

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