sexta-feira, 29 de maio de 2020

Parece não ter medo de "bananas" a soldo!!!...


Fantasma da impugnação quantas vezes vai atacar?

«Estamos a 4 dias da retoma da I Liga, agora ‘LigaVírus’, que havia sido suspensa em 12 de Março e o mar anda agitado. O vírus não acalmou as consciências e as ondas batem na(s) rocha(s) com uma força impressionante.

1 - Foram dois meses e meio de paragem e a imagem principal que ficou foi a incapacidade do futebol profissional em encontrar soluções para lidar com essa paragem forçada.

Ninguém sabe o que vai acontecer nem no que resta de 2019/20 nem em 2020/21, por causa da ameaça de eclosão de uma segunda vaga da pandemia, mas pode muito bem acontecer podermos ser confrontados com o condicionamento de duas épocas desportivas – e o foco das instâncias nacionais e internacionais devia estar colocado nesse cenário.

O futebol, na sua dimensão global, depende da correlação entre quatro grupos de protagonistas: jogadores, treinadores, gestores e público, sem esquecer o papel dos árbitros e da comunicação social.

São essenciais para a integralidade da competição e nunca como agora foi possível captar a importância do público. Sim, do público.

O reatamento da Bundesliga, independentemente das questões relacionadas com a qualidade dos jogadores ou com as dificuldades de preparação, reflectidas no quadro da intensidade competitiva, muito importante para a consagração do espectáculo, deu-nos bem a noção de que um jogo sem público altera a génese do futebol.

A normalidade só será reposta em pleno quando o público voltar aos estádios por livre e espontânea vontade, e esse cenário – apesar das lógicas de desconfinamento – parece estar distante.

Outros players que se revelaram essenciais na gestão desta crise pandémica, como as operadoras de telecomunicação e os patrocinadores, podem juntar-se em grau de importância ao papel de jogadores, treinadores, gestores, árbitros, comunicação social, mas não se substituem ao público.

A atractibilidade pelo jogo só será reposta quando este edifício de vários andares estiver reconstruído. Ele foi parcialmente demolido e, neste momento, em Portugal, por aquilo que se vai vendo no campo de batalha (pelo poder), vence a ideia de que ele está intacto. Não está. Aliás, ameaça ruir.

Pode parecer excessivo, mas o que está em causa é a salvação do futebol, independentemente da discussão urgente em torno da sua regeneração (eliminação dos vícios sistémicos).

Em Portugal, age-se (vide processo Proença) como se não tivesse existido vírus. E, agora que Luís Filipe Vieira deu um passo em frente para fazer cair o actual presidente da Liga, já não pode ficar a meio da ponte. Ou Proença cai ou o Benfica e a sua base de sustentação ficam muito mal nesta guerra de poderes, quando se percebe que Pinto da Costa – a contar com a mui célere ajuda de Rui Moreira – vai fazer tudo para Vieira não levar a melhor na sua pretensão.

O campeonato recomeça, pois, com a presidência da Liga colocada em xeque. Por causa da inabilidade de Pedro Proença e por causa de uma interminável luta pelo controlo do poder.

Quando, na próxima quarta-feira, a bola começar a rolar, a avaliar pelo andar da carruagem, vai valer tudo. O fantasma da impugnação já fez a sua aparição (duvido muito, a propósito, que as descidas de divisão na II Liga e as equipas prejudicadas do Campeonato de Portugal, como o Praiense, Olhanense, Real Massamá, Lourosa, Fafe e Benfica e Castelo Branco, não conheçam um volte-face qualquer...) esse fantasma da impugnação estará sempre atrás da porta, durante o cumprimento do que falta do campeonato maior.

Ai a estória das 5 substituições...

Vai ser muito curioso verificar as reacções resultantes de um de dois cenários: nova paragem e, se a prova chegar ao fim, comportamento da equipa que não for campeã nacional.

2 - Depois de conhecida a absolvição de Bruno de Carvalho (BdC), relativamente às acusações de autoria moral, de sequestro e de terrorismo no âmbito do ataque à Academia de Alcochete, houve uma declaração do ex-presidente do Sporting que me chamou particularmente à atenção: "não vou mudar a minha natureza".

O colectivo de juizes considerou não provada aquelas acusações e, nos tribunais, a (in)existência de prova é tudo e assim se rege, e bem, um Estado de Direito.

Temos imensos casos, em Portugal, em que as convicções geradas pelo Ministério Público, carreadas em forma de fortes indiciações, não são acompanhadas pelos juizes em sede de julgamento e isso é, também, o Estado de Direito a funcionar.

Bruno de Carvalho vem agora utilizar a decisão do tribunal, que é uma decisão importante sobre a (in)existência de prova sobre a autoria moral da invasão da Academia, nada surpreendente, sublinhe-se, considerando o desenvolvimento da última fase do processo, para desenvolver a tese de inocência relativamente a todas as incidências que marcaram a sua presidência no período que antecedeu aquele ‘acto hediondo’ perpetrado há dois anos, em Alcochete.

São coisas distintas e é preciso fazer essa distinção.

Esta decisão do tribunal não pode ser vista como uma borracha que apaga aquilo que levou à expulsão de BdC da sua qualidade de sócio do Sporting (fundamentos da destituição): violação de estatutos, com por exemplo criação abusiva de órgãos-fantasma para anular o efeito das decisões de outros órgãos legitimamente constituídos; conflitos com a equipa de futebol sénior; conflitos com os órgãos sociais, sócios (‘sportingados’) e terceiros; delapidação do património material e imaterial do Sporting; tentativa de bloqueio de contas e usurpação de funções; acção de obstaculizar Assembleia; violação da suspensão preventiva; publicações em redes sociais.

As mui recentes aparições públicas de BdC revelam um homem semi-pacificado com a decisão do tribunal.

É que, na verdade, não houve justiça: faltou condenar o presidente da República, o presidente da Assembleia da República, a Constituição, a GNR, a (estúpida, só a estúpida) comunicação social, os sportingados, o plantel, o Jorge Jesus, o Bas Dost, a baliza foguetória do Rui Patrício, o ‘doutor Varandas’, e a fivela que atingiu a cabeça do Bas Dost.

Aquilo que durante meses a fio assistimos, Bruno de Carvalho contra o Mundo, não teve nada a ver com Bruno de Carvalho e com a sua natureza. Tem a ver apenas com este Mundo. E nisso Bruno de Carvalho tem toda a razão: o Mundo está infectado.»
* Texto escrito com a antiga ortografia
(Rui Santos, Pressão Alta, in Record, em 29 de Maio de 2020, às 21:16)

E eu, aqui do meu canto, nem a boca abro, cheio de medo e com as minhas desgraçadas perninhas a tremer, quais varas verdes, não vá aparecer o "bananas" cá pela minha "bairrada", como ontem prometeu, ou jurou ou exconjurou, ou exorcisou no seu inteligente, civilizado, apropriado e convincente "radical fundamentalismo"!...

Ficam apenas as sábias e corajosas palavras de Rui Santos que, pela contundência continuada e persistente da sua prosa...

Parece não ter medo de "bananas" a soldo!!!...

Leoninamente,
Até à próxima

1 comentário: