domingo, 10 de maio de 2020

A História não registará o seu nome!...


A trivela de Quaresma e o frango de Ventura

«O país está a atravessar uma crise pandémica que está a afectar arduamente os trabalhadores e as famílias, mas isso não interessa nada a André Ventura. A Comissão Europeia prevê um empobrecimento brutal do nosso país, violento e repentino, mas isso não lhe tira o sono. Essas previsões dão conta de uma onda de desemprego que pode atingir mais de 150 mil pessoas em poucos meses, mas não se ocupa muito com isso. Perante esta enorme crise, a prioridade de André Ventura foi escrever uma carta a PSD, CDS e IL pedindo apoio para a criação de um “plano de confinamento específico” para a comunidade cigana. A prioridade de André Ventura é o racismo.

Sobre os trabalhadores que estão em layoff, perdendo uma parte dos seus rendimentos, não houve uma única proposta. Sobre o aumento repentino dos pedidos de ajuda alimentar que, segundo a Cáritas, já atinge famílias da classe média, um completo silêncio. Sobre as empresas que estão em dificuldade para cumprir com as suas obrigações, um vazio imenso. A prioridade de André Ventura é o racismo.

E quando Ricardo Quaresma criticou o discurso racista de Ventura - dizendo que “apenas serve para virar homens contra homens em nome de uma ambição pelo poder que a história já provou ser um caminho de perdição para a humanidade” -, o deputado tentou censurá-lo, negando a liberdade de expressão que sempre defendeu para si próprio.

A arrogância de Ventura não foi disfarçável, bem ao jeito de quem se acha superior aos restantes cidadãos. Agora, é deputado, sabem, sente-se de uma casta, não admite ser colocado em causa: “É lamentável que um jogador da selecção nacional se envolva em política”, disse Ventura, que se tornou conhecido na qualidade de comentador desportivo. Ele é da elite, pode falar do que quer, já Quaresma não estará habilitado a mais do que cantar o hino e a jogar futebol. O deputado do Chega até pediu para “que as autoridades do futebol não deixem que isto se torne o novo normal”, que alguém mostre um amarelo a Quaresma para o colocar no seu lugar. Afinal, estes democratas de pacotilha rapidamente descambam para a cobardia do “alguém que o cale” quando há vozes que os enfrentam.

O deputado-comentador-consultor fiscal não gosta de ser contrariado. Acha que a liberdade de expressão é um privilégio para os que, como ele, vivem do sistema. É algo de que se serve; não é para os outros. Quaresma mostrou-lhe que a liberdade de expressão é um direito de todos. Mostrou que também é um campeão fora das quatro linhas.

Já quanto ao silenciamento de que André Ventura se queixa amiúde, a realidade mostra o contrário. Conscientemente ou não, por vezes anda no colinho de algumas escolhas jornalísticas. O Fórum TSF de ontem foi exemplo disso, perguntando aos seus ouvintes se concordavam com a proposta racista, normalizando uma abjecta proposta de ódio. A justificação é o prémio à cantiga do bandido de André Ventura, alegando que apenas se promove um “debate democrático”. Estranha ideia esta de que se constrói a democracia com os debates que a destroem.

Os números provocatórios de André Ventura não são novidade e não se ficarão por aqui. É uma táctica pensada e estudada pela extrema-direita internacional. Quando estava com falta de atenção mediática, sugeriu a deportação da deputada Joacine Katar Moreira ou insultou o jogador Marega. Estava a ser denunciada a presença de nazis na direcção do Chega e anunciou uma candidatura à Presidência da República. Era público que um vice-presidente de André Ventura estava a ser investigado no Brasil e desviou as atenções com a demissão da liderança do Chega para logo depois se anunciar recandidato ao cargo.

Agora, num momento de crise e em que as pessoas contestam a distribuição de dividendos milionários que André Ventura defende; num momento em que as empresas como aquela que paga um terceiro salário ao deputado-consultor são criticadas por ajudar nos esquemas fiscais por onde fogem milhões de euros para offshore, desvia a atenção para uma nova controvérsia. Mas ficou desmontada a intrujice. Ele e os seus donos podem ter a certeza disto: nem passará o racismo que apregoa, nem a promiscuidade entre política e negócios que representa.»
(Pedro Filipe Soares, presidente GP do BE, Opinião, in Público, em 08 de Maio, às 00:25)


Se recuarmos até às primeiras eleições democráticas depois da madrugada libertadora do 25 de Abril, tanto nessa Assembleia Constituinte, quanto em todas as seguintes que contribuíram, decisivamente, para que Portugal seja hoje um país democrático e livre, sepultado que está e bem fundo, todo e qualquer receio de regresso ao tempo de "outras senhoras", sempre existiu pelo menos uma figura circence que, de bola vermelha enfiada no nariz, constituiu a alegria da "criançada" que julgou ver um guarda-chuva no imenso cravo que Abril fez florir e tornar gigante. E a magnanimidade desse colossal cravo tem sido tal que nenhuma dessas "crianças" se sente insegura sob essa imensa protecção que até os seus inimigos e detractores acolhe. Seria um exercício enfadonho vir agora e aqui enumerar, um por um, todos esses palhaços. Esse desafio deixo para os leitores mais preciosistas...

Importa-me apenas constatar que, mais uma vez, a Assembleia da República sólida e democrática que somos, acolheu um novo palhaço: chama-se André "Le Pen(is)" Ventura. Porém, para seu desespero e de todos os que o antecederam e venham a suceder...

A História não registará o seu nome!...

Leoninamente,
Até à próxima

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