Os d€us€s €stão loucos
«Quando os três ‘grandes’ foram recebidos pelo Governo, com a presença do primeiro-ministro, percebeu-se que António Costa estava a dar um sinal de não querer hostilizar o futebol na sua dimensão mais visível e mediática e, não hostilizando o futebol, preparar o novo ciclo da sua carreira política, no pós-Covid-19.
Nunca, em nenhum momento, o Governo admitiu ir contra as pretensões dos três ‘grandes’ do futebol português, que cedo se manifestaram unidos no objectivo de verem o campeonato ser concluído. E, neste particular, nem a FPF (Fernando Gomes) nem a Liga (Pedro Proença) alguma vez orientaram as suas decisões no sentido da não conclusão da I Liga, pelo que o objectivo fundamental foi sempre terminar o que restava da época futebolística ao nível da competição principal, mesmo que isso significasse hipotecar todo o restante desporto de competição, no futebol e nas modalidades de pavilhão.
A questão sanitária passou a ter um peso relativo em todo o processo, a partir do momento em que Portugal teve êxito na primeira abordagem à pandemia.
Com a ameaça de estrangulamento de sectores vitais da economia e também com o cansaço social do isolamento, o Governo foi percebendo que poderia aliviar o estado de emergência e, em regime de calamidade, traçar um plano gradual de desconfinamento, no qual incluiu a retoma da elite do futebol profissional.
A gestão política passou a ter mais peso do que o controlo sanitário, uma vez que cientificamente também são observadas diversas saídas para o ataque à pandemia e quem decide são, em última análise, os políticos. E, nessa gestão política, em linha com os procedimentos anteriores à Covid-19, isto é, de não confrontação à cúpula da organização do Futebol, ficou sempre muito claro que, não existindo uma súbita mudança na capacidade de resposta dos hospitais e dos respectivos cuidados intensivos, tudo seria desenvolvido no sentido de ‘salvar’ a principal competição futebolística cá do burgo.
O eixo Lisboa-Porto - com a nomeação patrocinada pela FPF de Adalberto Campos Fernandes, a quem Marta Temido sucedeu na cúpula do Ministério da Saúde, e Henrique Barros, epidemiologista e coordenador do Conselho Nacional de Saúde - muito cedo tomou conta do processo.
O Minho, em palpos de aranha para não perder o comboio da frente, com um Sp. Braga estruturalmente mais forte e com um Vitória a fazer um esforço enorme para não descolar do top 5 e ambicionar a poder ter acesso no médio prazo a um bilhete de primeira classe, não contou para o totobola e mesmo o futebol insular, com uma especificidade muito própria, não teve direito sequer a uma aposta simples.
Aliás, o anúncio público de que a professora universitária e deputada socialista Cláudia Santos vai ocupar o lugar de José Manuel Meirim no Conselho de Disciplina da FPF, em acumulação de tarefas, o que deveria ser naturalmente evitado, até pela sensibilidade dos dossiês que aí vêm, é apenas um sinal das convergências entre o PS e a cúpula máxima do Futebol, protagonizada pelo híbrido-do-centralão Fernando Gomes.
Nenhuma surpresa na reacção do FC Porto à escolha de Fernando Gomes ter recaído em Cláudia Santos para a liderança do CD da FPF no novo mandato que aí vem, contextualizando-a numa dinâmica de "perpetuação do grotesco" e de exposição "ao ridículo".
O FC Porto a perceber que os ventos não estão a seu favor.
Regressando, então, aos ‘alcatruzes da nora’, entre política e desporto-rei, PS e Governo vêem, pois, no Futebol - na cúpula do Futebol - uma forma de retirar dividendos políticos, sobretudo quando se percebe que o líder da oposição, Rui Rio, se acha nos antípodas destas ligações e deste tipo de aproveitamentos.
O Benfica, neste momento, está a tirar partido das fragilidades evidenciadas pelo FC Porto (e pelo Sporting, pois claro), assim como o PS em relação ao PSD. Aliás, em muitos circuitos fora das galerias mediáticas, relaciona-se a inexpugnabilidade de Luís Filipe Vieira com o escudo protector levantado pelo aparelho político dominante.
Neste contexto, Pinto da Costa pode pouco e nem sequer tem a seu favor um cenário de jogo ou aproveitamento políticos, uma vez que nem para ‘jogar às damas’ o presidente do FC Porto se sentaria à frente de Rui Rio. E o FC Porto não só lidera o campeonato como está debaixo de um stress financeiro que não lhe dá para grandes tergiversações, a não ser aquelas que resultam das penálticas discussões, a possibilidade de chegar ao final da época como campeão nacional é o pouco que lhe resta para abafar o impacto da queda e as críticas que, nessa conjuntura, lhes seguiriam.
Esta decisão do Governo tem muito que se lhe diga e, em tempo de poucas certezas, com António Costa a sublinhar que não terá vergonha se for obrigado a dar dois passos atrás, é muito injusta para a globalidade dos anseios do ‘movimento associativo’; é altamente discriminatória (quem salva a II Liga?) e pouco respeitosa para a maioria dos clubes do quadro profissional e visa manter a ‘cúpula do futebol’ ligada à máquina e ao ventilador central das operadoras de telecomunicações.
E ninguém parece querer ver o essencial: estar parado é mau (defendi desde a primeira hora que a FIFA deveria responsabilizar-se pelo financiamento deste tempo de paragem, com fundos constituídos para o efeito), mas o reatamento produz altíssimos riscos não apenas no âmbito do super-complexo controlo sanitário, mas também em termos da salvaguarda da verdade desportiva.
O terreno está todo minado e rapidamente a primeira mina rebentará debaixo dos pés de alguém. Basta um teste positivo para poder colocar uma equipa em quarentena. Basta um resultado desportivo negativo do Benfica ou do FC Porto para uma discussão sem precedentes. E se a competição tiver de parar, novamente?
Os deuses devem estar loucos.
O problema é que a retoma da competição - nos termos em que se perfila - não vai salvar ninguém, a não ser que se tomem medidas estruturais de redimensionamento da indústria (global) do futebol.»
(Rui Santos, Pressão Alta, in Record, hoje às 21:44)
Um magistral jogo de xadrez parece estar a desenrolar-se ante a tradicional e acrítica bonomia da grande maioria dos adeptos do futebol. Receio bem que a intuição e o sentido da evidência dos factos, patenteados pelas forças que, com mais ou menos coragem, seguem de um dos lados do tabuleiro a bandeira que ora parece empunhada por Rui Santos, mas que pouco além irão das duas ou três jogadas seguintes, venha a ser derrotada pelos que do outro lado, já terão perspectivado as dez ou onze jogadas que faltarão para o xeque-mate, com o cuidado de, para cada uma delas, estarem já de posse de todos os ingredientes capazes de ultrapassar qualquer percalço!...
Daí que, prevenidos, terão optado por colocar de lado todos os 'peões' e chamado apenas a jogo as peças mais importantes e em que, naturalmente, mais confiam na definição e resolução do jogo. É que se afigura bem mais importante uma estratégia apenas reservada a meia dúzia de peças importantes, que às "penálticas" discussões entre toda a ralé!...
Não me admirarei se acontecer xeque-mate sem percalços!...
Leoninamente,
Até à próxima
«Quando os três ‘grandes’ foram recebidos pelo Governo, com a presença do primeiro-ministro, percebeu-se que António Costa estava a dar um sinal de não querer hostilizar o futebol na sua dimensão mais visível e mediática e, não hostilizando o futebol, preparar o novo ciclo da sua carreira política, no pós-Covid-19.
Nunca, em nenhum momento, o Governo admitiu ir contra as pretensões dos três ‘grandes’ do futebol português, que cedo se manifestaram unidos no objectivo de verem o campeonato ser concluído. E, neste particular, nem a FPF (Fernando Gomes) nem a Liga (Pedro Proença) alguma vez orientaram as suas decisões no sentido da não conclusão da I Liga, pelo que o objectivo fundamental foi sempre terminar o que restava da época futebolística ao nível da competição principal, mesmo que isso significasse hipotecar todo o restante desporto de competição, no futebol e nas modalidades de pavilhão.
A questão sanitária passou a ter um peso relativo em todo o processo, a partir do momento em que Portugal teve êxito na primeira abordagem à pandemia.
Com a ameaça de estrangulamento de sectores vitais da economia e também com o cansaço social do isolamento, o Governo foi percebendo que poderia aliviar o estado de emergência e, em regime de calamidade, traçar um plano gradual de desconfinamento, no qual incluiu a retoma da elite do futebol profissional.
A gestão política passou a ter mais peso do que o controlo sanitário, uma vez que cientificamente também são observadas diversas saídas para o ataque à pandemia e quem decide são, em última análise, os políticos. E, nessa gestão política, em linha com os procedimentos anteriores à Covid-19, isto é, de não confrontação à cúpula da organização do Futebol, ficou sempre muito claro que, não existindo uma súbita mudança na capacidade de resposta dos hospitais e dos respectivos cuidados intensivos, tudo seria desenvolvido no sentido de ‘salvar’ a principal competição futebolística cá do burgo.
O eixo Lisboa-Porto - com a nomeação patrocinada pela FPF de Adalberto Campos Fernandes, a quem Marta Temido sucedeu na cúpula do Ministério da Saúde, e Henrique Barros, epidemiologista e coordenador do Conselho Nacional de Saúde - muito cedo tomou conta do processo.
O Minho, em palpos de aranha para não perder o comboio da frente, com um Sp. Braga estruturalmente mais forte e com um Vitória a fazer um esforço enorme para não descolar do top 5 e ambicionar a poder ter acesso no médio prazo a um bilhete de primeira classe, não contou para o totobola e mesmo o futebol insular, com uma especificidade muito própria, não teve direito sequer a uma aposta simples.
Aliás, o anúncio público de que a professora universitária e deputada socialista Cláudia Santos vai ocupar o lugar de José Manuel Meirim no Conselho de Disciplina da FPF, em acumulação de tarefas, o que deveria ser naturalmente evitado, até pela sensibilidade dos dossiês que aí vêm, é apenas um sinal das convergências entre o PS e a cúpula máxima do Futebol, protagonizada pelo híbrido-do-centralão Fernando Gomes.
Nenhuma surpresa na reacção do FC Porto à escolha de Fernando Gomes ter recaído em Cláudia Santos para a liderança do CD da FPF no novo mandato que aí vem, contextualizando-a numa dinâmica de "perpetuação do grotesco" e de exposição "ao ridículo".
O FC Porto a perceber que os ventos não estão a seu favor.
Regressando, então, aos ‘alcatruzes da nora’, entre política e desporto-rei, PS e Governo vêem, pois, no Futebol - na cúpula do Futebol - uma forma de retirar dividendos políticos, sobretudo quando se percebe que o líder da oposição, Rui Rio, se acha nos antípodas destas ligações e deste tipo de aproveitamentos.
O Benfica, neste momento, está a tirar partido das fragilidades evidenciadas pelo FC Porto (e pelo Sporting, pois claro), assim como o PS em relação ao PSD. Aliás, em muitos circuitos fora das galerias mediáticas, relaciona-se a inexpugnabilidade de Luís Filipe Vieira com o escudo protector levantado pelo aparelho político dominante.
Neste contexto, Pinto da Costa pode pouco e nem sequer tem a seu favor um cenário de jogo ou aproveitamento políticos, uma vez que nem para ‘jogar às damas’ o presidente do FC Porto se sentaria à frente de Rui Rio. E o FC Porto não só lidera o campeonato como está debaixo de um stress financeiro que não lhe dá para grandes tergiversações, a não ser aquelas que resultam das penálticas discussões, a possibilidade de chegar ao final da época como campeão nacional é o pouco que lhe resta para abafar o impacto da queda e as críticas que, nessa conjuntura, lhes seguiriam.
Esta decisão do Governo tem muito que se lhe diga e, em tempo de poucas certezas, com António Costa a sublinhar que não terá vergonha se for obrigado a dar dois passos atrás, é muito injusta para a globalidade dos anseios do ‘movimento associativo’; é altamente discriminatória (quem salva a II Liga?) e pouco respeitosa para a maioria dos clubes do quadro profissional e visa manter a ‘cúpula do futebol’ ligada à máquina e ao ventilador central das operadoras de telecomunicações.
E ninguém parece querer ver o essencial: estar parado é mau (defendi desde a primeira hora que a FIFA deveria responsabilizar-se pelo financiamento deste tempo de paragem, com fundos constituídos para o efeito), mas o reatamento produz altíssimos riscos não apenas no âmbito do super-complexo controlo sanitário, mas também em termos da salvaguarda da verdade desportiva.
O terreno está todo minado e rapidamente a primeira mina rebentará debaixo dos pés de alguém. Basta um teste positivo para poder colocar uma equipa em quarentena. Basta um resultado desportivo negativo do Benfica ou do FC Porto para uma discussão sem precedentes. E se a competição tiver de parar, novamente?
Os deuses devem estar loucos.
O problema é que a retoma da competição - nos termos em que se perfila - não vai salvar ninguém, a não ser que se tomem medidas estruturais de redimensionamento da indústria (global) do futebol.»
(Rui Santos, Pressão Alta, in Record, hoje às 21:44)
Um magistral jogo de xadrez parece estar a desenrolar-se ante a tradicional e acrítica bonomia da grande maioria dos adeptos do futebol. Receio bem que a intuição e o sentido da evidência dos factos, patenteados pelas forças que, com mais ou menos coragem, seguem de um dos lados do tabuleiro a bandeira que ora parece empunhada por Rui Santos, mas que pouco além irão das duas ou três jogadas seguintes, venha a ser derrotada pelos que do outro lado, já terão perspectivado as dez ou onze jogadas que faltarão para o xeque-mate, com o cuidado de, para cada uma delas, estarem já de posse de todos os ingredientes capazes de ultrapassar qualquer percalço!...
Daí que, prevenidos, terão optado por colocar de lado todos os 'peões' e chamado apenas a jogo as peças mais importantes e em que, naturalmente, mais confiam na definição e resolução do jogo. É que se afigura bem mais importante uma estratégia apenas reservada a meia dúzia de peças importantes, que às "penálticas" discussões entre toda a ralé!...
Não me admirarei se acontecer xeque-mate sem percalços!...
Leoninamente,
Até à próxima
Olá amigo Álamo e todos os habituais leitores...
ResponderEliminarDesejo para todos boa saúde e que "não esqueçam os cuidados necessários e devidos..."
Espero que o retorno ao futebol seja feito com mais cuidados do que aqueles que ontem vi na Alameda...
Aquele "levantar do arraial foi uma desgraça..."
Espero que não tenha consequências negativas em ninguém...mas parece-me que anda por aí muito português a comportar-se "como se tudo corresse às mil maravilhas..."
Não podemos dar "um milímetro de descanso" ao corona...ou corremos o risco de ele "acabar a ajudar a termos em cima (para finalizar) umas boas pazadas de terra..."
Para alguns já nem sei o que se possa dizer mais..."talvez seja necessário fazer um desenho"...
Já mandei à minha filha mais nova que me faça uma t.shirt com uma cabeça de Leão nas costas e as palavras...: "Sou Sporting"...
Quero levá-la a Alvalade para o 1º jogo em que possa estar presente...
Mas para isso..."é preciso que todos tenhamos muito cuidado..." (eu cá por mim...estou a fazer tudo o que ordenam e o bom senso me impõe...)
Abraço amigo Álamo e desejos de boa saúde para o meu amigo e família...
Bem como para todos os que "por aqui se passeiam" (mesmo sem máscaras...)
SL
Sporting Sempre...!
Obrigado amigo Maximino Martins! Que continue 'inacessível' a esse maldito vírus e de boa saúde com todos os seus. Pelo meu lado tudo vai bem, felizmente e com cuidados redobrados...
EliminarConcordo com o amigo, se o retorno ao futebol nos trouxer exemplos iguais ou parecidos ao que todos vimos ontem na Alameda, temo que seja pior a emenda que o soneto. Mais valia terem ficado todos em casa!...
Um grande abraço e SL
Sporting Sempre
"Basta um teste positivo para poder colocar uma equipa em quarentena" -e as equipas antes defrontadas?
ResponderEliminar"Basta um resultado desportivo negativo do Benfica ou do FC Porto para uma discussão sem precedentes. E se a competição tiver de parar, novamente?" -esta é fácil, o campeonato pára logo que o benfas esteja na frente. E vai passar, tudo será feito para que assim seja.