terça-feira, 2 de junho de 2020

"Pero que los hay, los hay"!!!...


Rúben é bandeira de esperança

«A questão é antiga e não tem resposta que satisfaça a curiosidade de quem a coloca periodicamente: de quanto tempo precisa um treinador para construir uma equipa, incutir-lhe as suas ideias e vê-la jogar segundo os seus princípios técnicos, tácticos e estéticos? Na impossibilidade de avançar um número concreto de dias, semanas, meses e até anos, convencionou-se apenas que a operação é morosa, delicada e contingente. Vários mestres do jogo abordaram o tema com fundo científico e todos coincidiram na ideia de que a questão, na maior parte dos casos, é mais aproveitada como álibi para explicar insucessos.

José Mourinho sempre defendeu que o treinador necessita de muito menos tempo do que reclama para formar conjuntos fortes e ganhadores. Não se trata de consegui-lo à custa de passes de magia ou dos favores da Divina Providência; a execução de uma tarefa tão delicada não se mede por minutos, horas ou dias. Para isso é imperioso conjugar factores distintos, todos relevantes, como ideias certeiras, avaliação correcta do meio, boa relação com os jogadores e capacidade para deles tirar o melhor do seu talento. Sporting e Rúben Amorim cruzaram-se no meio de um terramoto emocional, cujas consequências ainda não foram medidas com precisão. O clube foi apanhado na ressaca de conflitos internos, que a escolha de treinador inexperiente e excepcionalmente caro acentuou em grande medida; RA assumiu responsabilidade, aos 35 anos, entre intermináveis zaragatas, cujo eco foi aumentado pela ausência de habilitações para o cargo.

Em Braga, RA tornou-se herói em menos de dois meses de trabalho. Pelos resultados – 10 vitórias em 13 jogos, cinco das quais com FC Porto (2), Sporting (2) e Benfica – mas principalmente pela forma como os construiu. Deslumbrou como general brilhante e não como vendedor de banha da cobra; revelou-se líder de corpo inteiro, que os jogadores seguiram de olhos fechados – e ninguém melhor do que eles para distinguirem um professor de um demagogo, um sábio de um charlatão, um comandante de um mero capataz. RA apresentou um plano claro, bem fundamentado, exequível e definidor de treinador preparado para todas as batalhas. Como conhecia o meio e teve resposta para todas as dúvidas, a afirmação foi breve, clara e indiscutível. O Sp. Braga viveu num paraíso raro no futebol.

Em Alvalade, o bom senso aconselha moderação, paciência e passos seguros para o futuro, mas a realidade reclama urgência na resposta às pretensões da família verde e branca. RA só tem de escolher uma estética, definir um estilo e fazer vingar um ideal futebolístico respeitador da história do clube; terá de satisfazer a sensibilidade de adeptos exigentes com os valores da sua identidade e do eterno desejo de se sentirem representados em campo. RA entrou em Alvalade com a época perdida. Trata-se de uma via transitória para se abalançar na empreitada de gerar felicidade comunitária, que terá de arrancar dos escombros de 18 anos marcados por sucessivas decepções, viagens ao inferno e momentos de desvario colectivo.

RA tem imagem de competência, propagada em surdina no meio futebolístico, antes mesmo de ser posta à prova em Braga. Ao trocar um lugar onde era feliz, querido e desejado, por outro, maior e mais exigente, onde impera a dúvida, a desarmonia e a desconfiança, aceitou pôr-se à prova, correndo riscos como figura inspiradora de um novo ciclo. RA é uma bandeira de esperança para devolver o sorriso aos adeptos; é o ás de trunfo de um projecto, sem medo das sucessivas tempestades que engoliram os seus antecessores, convicto de que, mesmo assim, pode ser ele o ponto de partida de um trajecto que visa cruzar-se com uma centenária história feita de glória...»
(Rui Dias, De pé para pé, in Record, hoje às 16:17)


Conhecem os meus leitores mais antigos e assíduos a ideia que tenho sobre a generalidade dos textos do jornalista Rui Dias que, a meu ver, sempre usou e continua a preferir um critério apertado na escolha dos temas que se propõe tratar com o seu sempre inconfundível estilo. Adivinho que por detrás do texto que hoje nos oferece estará algo parecido com aquilo que terá levado Frederico Varandas a 'colocar a cabeça no cepo' e arrastado consigo uma boa mão cheia de sportinguistas, onde me incluo, que também acreditarão na possibilidade de Rúben Amorim fazer o "milagre" que Alvalade há quase duas décadas implora...

Poderão chamar-lhe o que quiserem, 'sexto-sentido', intuição, premonição ou fé, que em verdade vos afirmarei a minha convicção de que tudo isso poderá estar  tão próximo quanto distante da realidade...

O que me interessa enaltecer aqui e agora e que muito provavelmente poderá vir a explicar tudo o que eventualmente possa vir a acontecer em Alvalade, será todo o conteúdo da extraordinária mensagem que Rui Dias transmite no último parágrafo deste seu soberbo texto de hoje. É que na bandeira de esperança que brilha no olhar de Rúben Amorim, somada à inteligente eloquência do seu silêncio para o exterior e que parece contrastar com as notórias certezas que já terá conseguido transmitir a todos os homens que comanda, poderão estar os reais indícios do "milagre"...

E eu, que nem acredito em milagres!...

"Pero que los hay, los hay"!!!...

Leoninamente,
Até à próxima

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