sexta-feira, 3 de abril de 2020

Mas mia-se muito mais!...


O silêncio do tigre
Foi preciso uma pandemia para se dar valor aos trabalhadores que só passam despercebidos porque não dão nas vistas.

«É claro que vivemos muito virados para aqueles que fazem barulho.

Achamos que estes fazem bem em fazer barulho, porque a causa é justa. E achamos que outros fazem mal em fazer barulho porque a causa deles é ridícula ou fraudulenta ou trivial. Mas é sempre o barulho que captura as nossas atenções. Tanto mais que não ligamos nenhuma ao barulho mais importante de todos: o de cada um dos nossos corações a bater.

Tenho estado a ler um manual sobre os tigres em jardins zoológicos(procure-se “AZA Tiger Care Manual” no Google) e soube que existem dois sinais que um parto de uma tigre correu bem: fome e silêncio. A mãe-tigre come para todos, dá de mamar, ninguém mia, ninguém fica de fora, está tudo bem.

No confinamento tenho admirado aqueles que trabalham sem fanfarras ou queixumes. Foi preciso uma pandemia para se dar valor aos trabalhadores que só passam despercebidos porque não dão nas vistas. Diz-se injustamente que “são pagos para isso” - mas não é verdade, porque são invariavelmente mal pagos. Diz-se injustamente que “não fazem mais do que a obrigação” sem ter noção de como é difícil e bonito cumprir uma obrigação.

Admiro as pessoas que poderiam abusar mas não abusam, que poderiam cobrar mais mas não cobram, que poderiam aproveitar-se da situação mas não se aproveitam. Admiro as pessoas que trabalham sem espalhafato nem reconhecimento, sem fazer alarde ou choradinhos, sem insistir em lembrar a falta que fariam se não existissem.

A nós só nos resta lembrarmo-nos delas quando se tornarem outra vez invisíveis.»
(Miguel Esteves Cardoso, Opinião Coronavírus, in Público, hoje às 06:09)


Agora percebo porque não há tigres em Portugal! Por cá também se mama muito...

Mas mia-se muito mais!...

Leoninamente,
Até à próxima

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