sexta-feira, 10 de abril de 2020

Esta Páscoa para alguns, calhou à 4ª feira!!!...


Rui Pinto, amigo, o povo está contigo!

«A revogação da medida de coacção de prisão preventiva aplicada a Rui Pinto há pouco mais de um ano, substituída agora pela medida de obrigação de permanência na habitação, é uma má notícia para o sistema em que assenta o futebol.

Quanto melhor funcionar a organização global e local do Futebol - com aplicação das leis e dos regulamentos criados em jurisdição própria e específica - menos razões existiriam para a entrada em cena de Rui Pinto.

A entrada em cena de Rui Pinto correspondeu à denúncia da falência do sistema de organização do futebol, protegido até aos dentes por poderes difíceis de desinstatalar, porque protegem uma espécie de ‘bem comum’, sufragado pela emoção do jogo e pela militância clubística.

Se houvesse uma indómita vontade política de combater a média e grande criminalidade, talvez fosse menor ou inexistente o impulso de compilação do Football Leaks e do Luanda Leaks.

Diz o despacho judicial que Rui Pinto "inverteu a sua postura, apresentando agora um sentido crítico e uma disponibilidade para colaborar com a Justiça".

Segundo é público, ‘colaborar com a Justiça’ significa facilitar o acesso aos dez discos rígidos encriptados que lhe haviam sido apreendidos.

É legítimo concluir que o conteúdo desses dez discos rígidos pode afectar a nomenclatura em que assenta o futebol e as suas próprias fundações. E até pode criar pânico.

Haverá muitos protagonistas, relacionados com a alta finança do Futebol, que têm razões para não estar tranquilos.

Defendem aqueles que têm a noção de poder ser afectados pelas revelações tornadas possíveis por Rui Pinto, até agora escondidos atrás do muro sistémico que os protege, o perigo constituído pelo facto de, ao aplaudir o modus operandi do génio informático, se estar a legitimar o acesso indiscriminado à privacidade de pessoas singulares e colectivas.
Não é isso que está em causa, na versão - como lhe chamar? - mais minimalista. Não está em causa a liberalização da espionagem electrónica uns dos outros, embora essa espionagem - de uma forma mais sofisticada e silenciosa - já faça parte do dia-a-dia, noutros patamares, das sociedades modernas.

Ninguém em consciência pode aplaudir acessos ilegítimos e violações de correspondência.


Como ninguém poderia tolerar, noutra escala, mesmo em tempo de estado de emergência e de perigo de contaminação, que pedófilos e homicidas fossem libertados das prisões.


O que está em causa é a grande criminalidade, que os mecanismos tradicionais de investigação muitas vezes não alcançam. Neste particular, a existência de whistleblowers pode ser muito útil às sociedades e à alteração de alguns dos seus paradigmas sócio-políticos.


Este não é um problema de esquerda ou direita.


Este é um problema de, à esquerda ou à direita, se perceber que pactuar com a grande criminalidade económica causa dano às sociedades e acentua os desequilíbrios e as injustiças.


Acresce que esta alteração às medidas de coacção aplicadas ao arguido Rui Pinto acontecem em pleno estado de emergência, em Portugal.


Não deixa de ser curioso que o próprio despacho da juíza sublinha que "as fronteiras encontram-se sujeitas a elevados controlos devido a pandemia, o que por si reduz o perigo de fuga", pelo que se pode inferir que a ‘Covid-19’ veio em socorro de Rui Pinto. Não foi um vírus informático; foi o coronavírus - e isso, ironicamente, vai ficar para a estória do processo.


Já todos percebemos que o pós-Covid-19 lançou pessoas e empresas no desconhecido e, neste momento, mais do que a gestão económica, prevalece a dificuldade da gestão das angústias e da sanidade mental.


O futebol estava numa bolha financeira e o futebol português também.


Se, no que liga Rui Pinto ao Futebol, este não é um problema de esquerda ou direita (politicamente), a temática que lhe está subjacente e fundamentalmente as soluções para o futuro também não é um problema do Benfica ou do FC Porto. É um problema de todos.


A clubitização desta questão é apenas uma tentativa, menor, de passa-culpas. E, mais uma vez, de exploração da emocionalidade e das preferências clubísticas que ‘cegam’ os adeptos.


O futebol em Portugal (como noutros países) estava a viver artificialmente e bastou um mês de paragem para haver recursos abusivos ao lay-off, mesmo antes de se tentarem achar soluções bilaterais, com eventual moderação dos sindicatos, no caso dos jogadores.


Os clubes têm de repensar se este modelo de serem apenas, na área financeira, as sedes que gerem exclusivamente a entrada e saída de dinheiro, sem qualquer preocupação em constituir reservas, é, na verdade, o que faz sentido. Esta crise veio provar que não.


O futebol, no seu modelo actual, estava a rebentar pelas costuras, a entrada em vigor do fair-play financeiro foi o sinal de que era preciso conter os excessos e, portanto, esta pandemia (a assinalar mais de 100 000 mortes no Mundo) apenas veio acelerar o imperativo de mudança.


Como escrevia aqui há uma semana, não faz sentido que em Portugal se tenham gasto numa época mais de 80M€ em custos de intermediação de transferências.


Os clubes e os seus dirigentes nunca souberam explicar - a FIFA e a UEFA também não - por que razão os intermediários são tão necessários nas operações de transferência.


Defendo há muito um mecanismo completamente diferente que pressupõe mais verdade e transparência nas relações inter-clubes.


A organização do futebol vai ter mesmo de mudar e esta desgraça da pandemia vai talvez trazer algo de bom no futuro: a substituição das lógicas de antanho e provavelmente a substituição progressiva de velhas mentalidades por uma visão mais despoluída e menos comprometida com esquemas que o Football Leaks já denunciou.


Nessa transformação, Rui Pinto é agente e reagente. Amigo da mudança e da limpeza. E, nessa medida, por um futebol mais saudável, e só por isso, estamos contigo.


Boa Páscoa e… não facilitem!

(Rui Santos, Pressão Alta, in Record, hoje às 21:40)

Confesso que estava à espera de ler a reacção de Rui Santos à alteração das medidas de coacção a que estava sujeito Rui Pinto. Ela aqui está e não me surpreendeu, de todo!...

Esta Páscoa para alguns, calhou à 4ª feira!!!...

Leoninamente,
Até à próxima

2 comentários:

  1. Mais uma vez a culpa é dos intervenientes do futebol. Como todos fossem culpados de igual modo. Forma esperta de proteger o polvo.

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  2. Como dizia, em tempos, a cabeça do polvo: «manda quem pode, obedece quem tem juízo».

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