segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Este Sporting não dá mais!... (2)


O drama do Sporting


«Instantes após a memorável selecção brasileira de 82 ter sido afastada do Mundial pela ardilosa Itália, o balneário dos sul-americanos estava naturalmente devastado e uma equipa de craques mágicos como raras vezes o futebol terá conseguido reunir chorava a derrota desmerecida. Até que Sócrates (que, além de doutor, foi um dos maiores magos de sempre da bola) se levantou para apregoar: "Porque estão tão tristes se melhor não se pode jogar? Perdemos? Má sorte e pior para o futebol". Lembrei-me deste episódio quando, no domingo, Jorge Silas também tentava, na sala de imprensa, desdramatizar a derrota do Sporting frente ao FC Porto.

Claro que é uma analogia exagerada e, de certo modo, até aviltante para o derrotado mais mítico de sempre dos anais do futebol e também para um jogador que o The Guardian, em 2015, elegeu como um dos seis desportistas mais inteligentes da história (de facto, era o único futebolista da lista). O Sporting pareceu uma equipa decente durante a maior parte do jogo, mas a sua falta de sorte frente ao FC Porto é apenas um ínfimo detalhe na lista infindável de desventuras e tragédias que dominam a biografia deprimente da sua equipa de futebol nas últimas décadas. Mas, por outro lado, é impossível não sentir alguma comiseração pela forma como Silas reagiu ao revés, mesmo que a reacção à ultrapassagem pelo Famalicão tenha retirado alguma nobreza ao momento.

Silas (que entrou a sete pontos do Benfica e do FC Porto e está agora mais perto do quinto do que do segundo) está há três meses no Sporting e disputou o seu primeiro "clássico" frente a um Sérgio Conceição que vai na terceira época no FC Porto e já tem mais de uma dezena de duelos com a elite nativa, com tudo o que isso representa em termos de experiência e de consolidação das ideias. São dois treinadores dissemelhantes na forma como olham para o jogo, mais romântico o sportinguista, mais pragmático o portista.

Mas qualquer outro tipo de comparação será sempre questionável, até porque o Sporting não tem as mesmas armas. Vendeu alguns dos melhores anéis para salvar os dedos e não teve tempo nem arte para os substituir. Revejam, por exemplo, o que Jorge Jesus afirmou à CMTV sobre a alienação de Bas Dost e, depois, digam-me lá se com o holandês em campo o Sporting não teria aproveitado uma, ou até mais, daquelas cinco enormes chances que teve para marcar no seu melhor período da segunda parte?

E não se descubra nesta observação uma crítica devastadora à gestão de Frederico Varandas, que foi cândido nalguns actos e testemunhos, mas que gere um clube armadilhado por quase todos os lados e praticamente insolúvel financeiramente. Um clube competitivo (não confundir com uma equipa que é capaz de ganhar um título esporádico, como aconteceu ao Sporting treinado por Inácio ou por Bölöni) só consegue esse desiderato se tiver uma organização forte ou então rios de dinheiro para esbanjar.

E isso é impossível de garantir num Sporting que tem vivido permanentemente com uma estrutura abaladiça e que, desde que João Rocha saiu em 1986, já teve 11 presidentes, sete dos quais desde a viragem do século. Pinto da Costa está há 38 anos à frente do FC Porto, Luís Filipe Vieira dirige o Benfica há 17 e o contraste seria ainda mais devastador se comparássemos o número de treinadores.

Por isso, mais do que chorar a derrota injusta e os 16 e os 12 pontos de atraso para os principais rivais, o adepto anónimo e apaixonado pelo Sporting precisa perceber que a situação só pode ser invertida com um trabalho bem estruturado e duradoiro, designadamente ao nível da formação, do scouting e da gestão financeira. E isso só é possível com tino e com tempo e nunca com (mais uma) revolução. Convencer a massa adepta desta necessidade imperiosa deveria ser sempre o principal desafio de Varandas ou de quem lhe suceder, mesmo que isso seja mais difícil do que convencer um abutre a largar a carcaça…

A marca de Sérgio

O duelo de Alvalade era importante para as duas equipas, mas ainda mais capital para o FC Porto. Manter os quatro pontos de atraso para o Benfica era imperioso para os portistas, porque só isso permitiria continuar a pressionar suficientemente um Benfica que terá de jogar no Dragão, mas que certamente vai rendibilizar a chegada de Weigl, não só em função da qualidade futebolística indiscutível que o médio alemão oferece, mas também da demonstração de poderio que a contratação que um craque do Dortmund representa para o mercado e para a concorrência. Isto sem contar com o regresso iminente de Rafa, que obrigará a gerir a situação de um Cervi que voltou a ser importante.

Ganhar produz sempre contágio e vencer onde o FC Porto não triunfava há 11 anos deve ter arrebatado a nação portista. Claro que não foi um jogo fácil, antes fadada por uma estrela ainda maior do que aquela que o Benfica teve em Guimarães (o Vitória voltou a jogar bem, mas feriu pouco o adversário). O Sporting foi melhor durante mais tempo, mas já se sabe que o bom futebol só tem razão se complementado com a pontaria. E o FC Porto provou, mais uma vez, que sem voracidade é difícil sobreviver na alta competição.

Sérgio Conceição recuperou mesmo Danilo, mas não abdicou do desenho usado nos últimos tempos, em que abdica de um avançado e Nakajima garante maior imprevisibilidade e outro aproveitamento no jogo entre linhas. É um FC Porto mais confortável com bola, mas que em Alvalade revelou uma defesa mais exposta do que é hábito (e aí a saída de Pepe fez diferença). A verdade é que a vitória acabou por ter a marca indelével do treinador, que levou a melhor sobre Silas na batalha das substituições. Claro que é diferente poder recorrer a Díaz ou a Camacho, mas o mais preponderante acabou por ser a colocação de Marega na esquerda e, mais tarde, o desvio de Otávio para o miolo.»
(Bruno Prata, Ludopédio, in Record, hoje às 21:17)

Pois é, Jorge Silas até talvez subisse aos pincaros da glória e ser capa de quem o trata tão mal, se pudesse ter à sua disposição Bas Dost, ou Yazalde, ou Acosta, ou Liedson, ou Slimani, ou mesmo Figueiredo, Lourenço e tantos outros. Mas tem apenas um balneário repleto de 'consoantes' e ainda não terá ganho a coragem para lançar, quem sabe(?), um 'outro Figueiredo' que por lá tem andado a mostrar-se nos Sub23 e só agora foi inscrito...

Também Jorge Silas talvez fosse capaz de "recorrer a Diaz", de "colocar Marega na esquerda ou na direita" e "desviar Otávio para o miolo"! Mas no banco de Alvalade apenas estavam, Camacho, Plata e... um tal de Jesé, para acabar de atar os molhos!...

Assim e nas condições que todos sabemos terem sido oferecidas a Jorge Silas...

Este Sporting não dá mais!...

Leoninamente,
Até à próxima

1 comentário:

  1. Comecei a vacilar a leitura aqui: "Um clube competitivo (não confundir com uma equipa que é capaz de ganhar um título esporádico, como aconteceu ao Sporting treinado por Inácio ou por Bölöni)"

    e parei de ler aqui: "o adepto anónimo e apaixonado pelo Sporting precisa perceber que a situação só pode ser invertida com um trabalho bem estruturado e duradoiro, designadamente ao nível da formação, do scouting e da gestão financeira."

    Repetir ad nauseam esta treta é querer, consciente mas subrepticiamente, tapar os olhos a toda a gente e fazer de conta de que não há batota.
    Vive-se uma fraude em que os títulos que não nos conseguiram gamar passam a "esporádicos" e pedem "organização"... mas textos consequentes acerca de organização de padres e toupeiras está quieto! Passar cartão a este bruno prata (e semelhantes) é perda de tempo, se não mesmo tiro no pé.

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