sábado, 2 de junho de 2012

A importância de perceber de futebol...

Uma legenda
De tão desanimador, nem sequer me sinto motivado a falar do jogo em que novo desaire se abateu sobre a selecção nacional. Nada que não esperasse, face aos sucessivos e surrealistas episódios que terão tido o seu início na "aplaudida" convocatória de Paulo Bento e que se tem vindo a desenvolver com a inexorabilidade e os malfadados desígnios contidos na famigerada "lei de Murphy", que premonitoriamente adivinho que não ficarão por aqui. Oxalá eu esteja redondamente enganado e o meu convicto grito de verdade e de alerta sobre a nudez do lusitano rei, não venha a confirmar-se, com um antecipado regresso a casa, ditado pelo falhanço rotundo na primeira fase do Euro 2012.
Prefiro falar do meu Sporting e da portentosa e desconsoladamente pouco aproveitada formação sportinguista ao longo das últimas décadas. Tudo começou com Vitor Damas, que Paulo Futre pouco depois reforçou e a fama começou a espalhar-se. Depois veio Luís Figo afirmar que a coisa já náo poderia mais ficar escondida ou disfarçada entre as nossas exíguas fronteiras. A seguir, Cristiano Ronaldo reafirmou que nada seria obra do acaso e o mundo do futebol começou a colocar o Sporting no top da formação universal. Logo depois Nani também seguiu os caminhos da emigração e a certeza instalou-se definitivamente. Neste fabuloso percurso, dezenas e dezenas de promessas ficaram pelo caminho, fundamentalmente porque as mentes dos seus protagonistas não terão recebido o complemento formativo essencial à sua afirmação e a incapacidade e falta de visão de dirigentes e técnicos do clube de Alvalade também terão contribuído com forte e negativo "handicap". Mais dos primeiros, obviamente, porque nunca conseguiram estabelecer e fazer vingar um rumo realista e consentâneo com as possibilidades do clube e sucessivamente subalternizaram a importância da escolha dos líderes que tecnicamente tivessem a capacidade suficiente para optimizar o tesouro que anos e anos a fio, a cegueira e o imediatismo dos resultados nunca permitiram que fosse verdadeiramente avaliado.
Chegados aqui e atolados num passivo aterrador, consequência de um investimento louco e repetidamente ensaiado, consubstanciado em colheitas estapafúrdias de produtos incomparavelmente inferiores à produção caseira e descurando errada e sistematicamente, por pretensa e ridicula poupança, a questão central de qualquer projecto que sempre passou e há-de passar pela escolha, seja a que preço for, de um técnico de indiscutível categoria e com provas sobejamente conhecidas e insofismáveis.
Sempre nos habituámos a assistir aos dirigentes do Sporting pouparem no farelo e desperdiçarem na farinha. E nas poucas vezes em que nos entraram pela porta dentro técnicos de grande gabarito - Robson, Bõlõni e Peseiro terão sido, na minha modesta opinião, três pequenos e bons exemplos - desbaratámos esse capital que tínhamos em casa, para partir ao encontro da aventura e do... precipício.
Hoje parece não nos restar outra alternativa que não seja olhar para dentro de nossa casa e fazer aquilo que há décadas deveríamos ter começado a fazer. Hoje somos obrigados a colocar sobre os ombros ainda frágeis de Ricardo Sá Pinto, a responsabilidade que há muitos anos deveríamos ter colocado sobre os ombros de um Guus Hiddink, de um Louis van Gaal, de um Marcelo Bielsa e tantos outros que agora não me ocorrem. Porque a miopia crónica dos dirigentes sportinguistas sempre preferiu desbaratar 20, 30 ou 40 Milhões em jogadores do refugo europeu e sul americano, que dispender 5. 6 ou 8 Milhões com um grande e categorizado técnico que nos desse absolutas garantias de, aproveitando o ouro da nossa fabulosa formação, conseguisse, não o monopólio dos títulos que outros por caminhos que sobejamente conhecemos vem conseguindo, mas uma presença firme, constante e sistemática na luta digna e sustentada por esses mesmos desideratos, sem hipotecar tão desgraçadamente o futuro como vimos fazendo há tantos anos.
Quase metade dos convocados para o Euro2012, foram formados pelo Sporting, que conseguiu suplantar a contribuição dos gigantes Barcelona e Ajax nas respectivas selecções. Emprestamos ou deixamos "fugir" para os adversários, o melhor daquilo que formamos, para depois assistirmos desconsoladamente a ultrapassagens classificativas ou ao arrebatar de títulos por esses mesmos adversários. Em contrapartida, ontem comprámos 19 para aproveitarmos metade e amanhã, muito provavelmente, o caminho não será diferente.
Maniche terá dito recentemente, no meio de declarações de sportinguismo duvidoso, que a sua prática interesseira facilmente desmente, que um dos grandes males dos últimos líderes leoninos, será não perceberem rigorosamente nada de futebol. Receio que no meio de tantas falaciosas baboseiras, Maniche tenha afirmado uma grande verdade. Do Norte parece vir a determinante confirmação. Há mais de um quarto de século...

Leoninamente,
Até à próxima

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