Vergonha na cara
«Na semana passada um Tribunal concluiu que "Fernando Santos usou um meio artificial e abusivo num comportamento que é anti-jurídico e merecedor de reprovação normativo-sistemática".
Como dizia um habitué disto, "querer convencer que o salário do seleccionador nacional campeão europeu só vale 70.000€/ano é querer ter os olhos rasgados até às orelhas e fazer todos os demais de estúpidos".
Temos por regra dizer que no futebol "os erros pagam-se caro". Pois bem, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) com Fernando Gomes à cabeça (mas também Fernando Santos, que me parece o menos culpado em tudo isto) erraram de forma não só consciente e voluntária como grosseira… e por esse erro deverão pagar.
Contudo, num país onde a ética e a moral se impusessem, não bastaria a simples devolução do imposto em falta.
Com a propriedade de quem trabalhou nos 5 continentes durante mais de 15 anos na área de planeamento fiscal e conhece perfeitamente a diferença entre elisão e abuso fiscal, ainda hoje, passados estes dias após o conhecimento do modelo de contratação (e tributação) pensado da equipa técnica nacional, faz-me confusão a ligeireza com que este assunto foi tratado ab initio.
Mas está tudo doido? Já não há o mínimo de sentido crítico, de cuidado e linhas vermelhas que não se pode ou deve passar? Perdeu-se o sentido de bom senso ou apenas e somente se cristalizou o sentimento de impunidade colectivo na elite política, social e financeira portuguesa?
Onde estavam os responsáveis da FPF com a cabeça? Nunca imaginaram que um contrato destes pudesse ser publicamente escrutinado? E que respostas lógicas e convincentes dariam se tal acontecesse? É bom recordar que a FPF tem o estatuto de utilidade pública e recebe verbas provenientes do pagamento de impostos dos contribuintes portugueses.
Para ajudar em tudo isto, aos olhos do cidadão, a FPF ao assumir a conta final a pagar do imposto devido por Fernando Santos e seus adjuntos está claramente assumir que foi um esquema de fuga ao fisco criado por ela própria. E é normal? Ficamos assim?
Quase simultaneamente à decisão arbitral em causa, Portugal ouvia o discurso do 5 de Outubro do Presidente da República sobre o perigo da imagem das instituições portuguesas viverem abaixo do mínimo da dignidade e do mal que isto faz à democracia e a elas próprias.
Assim, uma dúvida se levanta: Sabendo que foi a própria FPF a ter a iniciativa da criação desta arquitectura jurídica abusiva e ilegal, como poderá o nosso Presidente da República receber, congratular e/ou medalhar Fernando Gomes como é praxe e habitual nele num cenário de futuro sucesso no Qatar? E um Presidente da FPF que não possa ser condignamente recebido em Belém tem, ainda assim, condições públicas para se manter no lugar?
Em suma, num país onde houvesse vergonha na cara, Fernando Gomes deveria apresentar um quadro justificativo minimamente crível ou então demitir-se.»
E agora, quando ainda nem um ano passou sobre o acontecimento e desgraçadamente soam ainda os ecos das desajustadas palavras então proferidas, o que irá acontecer?! Ficará para sempre envergonhado o mais alto magistrado desta pobre nação de contrastes, que amiúde se confundem entre a mais humilde generosidade e a mais ignóbil e perversa sordidez, ou...
Entregará Fernando Gomes todas as condecorações para logo a seguir abdicar de todas as mordomias e ir...
Pregar para outra freguesia???!!!...
Leoninamente,
Até à próxima
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