sexta-feira, 16 de setembro de 2022

A "estória" de como Amorim "comeu" Conte!!!...


Do inferno ao céu em duas semanas

«1] A tormentosa perda de oito pontos no campeonato não metamorfoseou Rúben Amorim num treinador conjecturável e pejado de limitações, como se ouviu e leu de um conjunto de críticos que mareia ao sabor dos resultados. Foi, acima de tudo, o espelho de um início de estação pungente, marcado pelas deslocações a Braga e ao Dragão, a que se juntou uma paupérrima etapa complementar ante o Chaves, em que a pressa em lançar, a meia-hora do fim, o plano C(oates-a-ponta-de-lança) achavascou as acções de construção e de criação leoninas, circundadas a bater bolas de qualquer lado em busca do jogo aéreo do uruguaio. O que redundou numa quase ausência de ocasiões de golo. Acrescenta-se, com igual onerosidade, a necessidade de reinvenção de um onze inevitavelmente depauperado com as saídas do nuclear Matheus Nunes – principal figura leonina nas duas primeiras rondas da Liga pela acutilância com que quebra linhas e supera rivais em condução –, de Palhinha, um infatigável ladrão de bolas, e, principalmente, de Sarabia, unidade móvel de ataque capaz de desatar nós intrincados, como atesta o retumbante registo de 21 golos e 10 assistências em 45 jogos em 2021/22, além do valioso jóquer Tabata, um multifunções para Amorim. O que gerou uma indeclinável volubilidade nos processos defensivo e ofensivo da formação de Alvalade, a carecerem de maturação com a introdução lenta de novos actores.

2] Pé ante pé, com o estrepitoso bulício das críticas cada vez mais ferozes como pano de fundo, o Sporting empubesceu celeremente na adversidade. Por mais que o treinador dos leões indique a flamância das luzes do retorno à estrada do sucesso para o inequívoco talento e para a atitude competitiva esdrúxula dos seus meninos, o resplandecente arranque da fase de grupos da Liga dos Campeões, com um triunfo indiscutível em Frankfurt e uma vitória à italiana ante o até aí invencível Tottenham, teve, em doses substantivas, os dedos e o cérebro de Rúben Amorim. Além da análise cirurgicamente detalhada dos rivais, o que assentiu aniquilar-lhes, na maior parte do tempo das partidas, os seus pontos fortes, retirando-lhes, com enorme acuidade, as zonas em que habitualmente se sentem mais aconchegados e em que abicham ser mais avassaladores, o Sporting nunca desprezou que a única forma de magoar o processo defensivo do contendor está na capacidade para ter bola. Enrijecendo substancialmente, como é quase obrigatório no patamar Champions, as doses de eficácia na chegada a zonas de finalização. Por isso mesmo, o triunfo caseiro ante os spurs começou a traçar-se num patamar superior ao da exibição a namorar o primor na deslocação à Alemanha. Isto porque os leões efectuaram, ante um rival ainda mais forte a nível colectivo e individual, uma primeira parte de um nível superlativo.

3] O Sporting, na etapa inicial, concedeu muito pouco ao Tottenham. Os londrinos, que tiveram seis dias para preparar o embate, viram-se subtraídos da capacidade para indagarem o jogo exterior, em busca de cruzamentos para uma zona de finalização bem preenchida e acutilantemente assaltada, como também do espaço, com o suporte de uma última linha soberbamente definida, para perscrutar os contra-ataques e os ataques rápidos que acasalassem a velocidade supersónica de Son, a potência de Richarlison, e a ferocidade tremenda na criação e na finalização de Kane, que, ainda assim, impôs as maiores arduidades defensivas aos leões sempre que acedeu às entrelinhas. Depois, os comandados de Amorim foram sempre mordazes com bola. Não abdicaram de uma inegociável construção a partir de Adán, definindo um posicionamento mais baixo de Porro e de Nuno Santos, decisivo para fazer circular a bola entre corredores e topar o espaço, através da entrada da bola no espanhol, para superar a dilacerante pressão dos spurs. Depois, havia condições para perscrutar a profundidade através de passes longos. Só que existiu inteligência e fleuma para também esquadrinhar uma construção mais apoiada, com o baixar de Edwards – soberbo a sair da pressão, a criar desequilíbrios através do drible, e a rubricar, nos descontos da etapa inicial, uma jogada maradoniana que merecia ter sido epilogada em golo – e de Pote, a redundar em importantes apoios a Morita – sempre estável no passe – e a Ugarte, e no fundar de preciosas dinâmicas com Trincão, de jogo para jogo mais confortável no seu novo habitat competitivo.

4] Os primeiros vinte minutos da etapa complementar trouxeram desafios intrincados para os leões. Conte percebeu o espaço por onde o rival conseguia sair, e aumentou a belicosidade colocada na pressão e na reacção à perda, fechando a porta a Porro. Com isso, o Sporting sentiu amplas dificuldades para construir desde trás, acumulando passes equivocados e precipitações que redundaram em perdas, o que permitiu que o Tottenham, também mais agressivo ofensivamente, chegasse a zonas de finalização com qualidade, o que sobejou em 5 oportunidades entre os 45 e os 58 minutos. O ritmo lancinante imposto pelos spurs começou a baixar por volta dos 65 minutos, assentindo que os verde-e-brancos voltassem, paulatinamente, a entrar no jogo e a equilibrar a contenda. Amorim percebeu que chegara a hora de refrescar a equipa, lançando Sotiris, que revigorou a intermediária, e Paulinho, referência para uma construção mais longa e também ele muito associativo. Quando o jogo parecia caminhar serenamente para o nulo, Paulinho arcou o protagonismo de um triunfo delineado a partir do banco. Primeiro, ao oferecer o passe a Sotiris, que discerniu Porro no corredor direito, de onde traçou a diagonal que obrigou Lloris a uma parada soberba para canto. Depois, na sequência do canto, ao antecipar-se a Emerson ao primeiro poste, dando sequência vitoriosa ao cruzamento de Pote. Por fim, ao travar um possível contragolpe dos leões, ante um opositor desequilibrado, para segurar a posse. Ao encontro de Esgaio, que o voltaria a encontrar nas entrelinhas do corredor central, para onde atraiu Dier, antes de lançar a fuga do debutante Arthur para o 2x0, capaz de superar Romero e Emerson, e de bater Lloris com uma finalização cruzada. Arthur e Esgaio que tinham sido lançados por Amorim no minuto anterior.»

Contada de um forma diferente, ao jeito singular de Rui Malheiro, e mesmo tendo em conta a pornográfica diferença orçamental entre Tottenham e Sporting...

A "estória" de como Amorim "comeu" Conte!!!...

Leoninamente,
Até à próxima

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