O fascínio por Marcel Keizer
«É muito raro os dois principais jornais desportivos portugueses darem manchete com títulos exactamente iguais a alguém. A imprensa segue o interesse público e percepciona o que pode motivar mais gente a comprar e aumentar vendas. Nesta quarta, as "gordas" de ambos ditavam: «Os segredos de Keizer». Ora, as espectaculares exibições dos seus comandados, mescladas com o desconhecimento geral sobre o novo técnico verde e branco, levam a um certo mistério sobre quem é este homem, o que pensa, quem o influencia, como chegou e trabalha o seu modelo e ideias de jogo, o que é apelativo para muitos leitores, não só sportinguistas.
Pelo nosso campeonato já tinham passado outros holandeses, Co Adriaanse, Ronald Koeman e Mitchell Van der Gaag. Da escola holandesa, desde Rinus Michels passando por Johan Cruyff, de tantos dos seus delfins com notoriedade podia ter vindo um peso-pesado, porém, surgiu um nome quase obscuro. Logo, este fascínio em torno de Marcel Keizer tem apenas um responsável, para lá dos méritos do próprio: frederico Varandas. Prometeu algo na sua apresentação quando defendeu a sua escolha e o que a motivou, «um futebol atractivo e dominador», e já cumpriu, pois está à vista de todos que é esta a marca de água de Keizer. E se na altura da sua vinda aqui escrevi que esta opção era uma parada alta e que em termos políticos implicaria riscos elevados para o futuro, só posso dar a mão à palmatória por ver a massa adepta sportinguista de novo esperançada, com prazer de ver a sua equipa jogar e quase unanimemente a aplaudir os conceitos, mentalidade e discurso do holandês.
A seguir ao monumental jogo de Vila do Conde, Keizer retratou os princípios do seu futebol de autor: «gosto de um futebol atacante, mas de forma realista e equilibrada». O que se vê é uma enorme química entre jogadores e treinador, uma equipa com posse, com pressão alta, com boa circulação de bola, com várias opções no momento da finalização, que se diverte, que quer marcar golos, parece tão simples que até chateia. O que é genial é simples, está ao alcance de todos mas só poucos o vêem, é essa a lição que temos de tirar da famosa história do Ovo de Colombo. Pois todos estes jogadores estavam a trabalhar com José Peseiro, mas o rendimento, a qualidade, o espectáculo, a alma, onde estavam? Em três jogos, em termos exibicionais, o Sporting passou do Inferno ao Céu. Um grupo de malditos passou a ungido e ainda falta Raphinha.
Sinto em Keizer uma enorme convicção no seu trabalho, um homem sem preconceitos, aberto, que dialoga, que sente o apoio de um presidente que lhe vai dar tudo e de uma estrutura que está solidamente a construir. A Holanda já deu geniais pintores, Varandas podia ter ido contratar um Rembrandt, que era uma celebridade na Idade de Ouro dos Países Baixos, optou antes por um Vermeer que, no seu tempo (1632-1675), era um artista relativamente obscuro. Hoje, algumas das 36 telas realistas que deixou são das mais aclamadas da história da arte, assim desejam os sportinguistas que a carreira de Keizer seja pincelada em Alvalade e que do obscurantismo do currículo à chegada, venha o brilhantismo dos títulos eternos. Porque o seu compromisso de respeito por quem paga bilhetes e quer espectáculo, esse, já seduziu quem gosta de futebol.»
(Rui Calafate, Factor Racional, in Record)«É muito raro os dois principais jornais desportivos portugueses darem manchete com títulos exactamente iguais a alguém. A imprensa segue o interesse público e percepciona o que pode motivar mais gente a comprar e aumentar vendas. Nesta quarta, as "gordas" de ambos ditavam: «Os segredos de Keizer». Ora, as espectaculares exibições dos seus comandados, mescladas com o desconhecimento geral sobre o novo técnico verde e branco, levam a um certo mistério sobre quem é este homem, o que pensa, quem o influencia, como chegou e trabalha o seu modelo e ideias de jogo, o que é apelativo para muitos leitores, não só sportinguistas.
Pelo nosso campeonato já tinham passado outros holandeses, Co Adriaanse, Ronald Koeman e Mitchell Van der Gaag. Da escola holandesa, desde Rinus Michels passando por Johan Cruyff, de tantos dos seus delfins com notoriedade podia ter vindo um peso-pesado, porém, surgiu um nome quase obscuro. Logo, este fascínio em torno de Marcel Keizer tem apenas um responsável, para lá dos méritos do próprio: frederico Varandas. Prometeu algo na sua apresentação quando defendeu a sua escolha e o que a motivou, «um futebol atractivo e dominador», e já cumpriu, pois está à vista de todos que é esta a marca de água de Keizer. E se na altura da sua vinda aqui escrevi que esta opção era uma parada alta e que em termos políticos implicaria riscos elevados para o futuro, só posso dar a mão à palmatória por ver a massa adepta sportinguista de novo esperançada, com prazer de ver a sua equipa jogar e quase unanimemente a aplaudir os conceitos, mentalidade e discurso do holandês.
A seguir ao monumental jogo de Vila do Conde, Keizer retratou os princípios do seu futebol de autor: «gosto de um futebol atacante, mas de forma realista e equilibrada». O que se vê é uma enorme química entre jogadores e treinador, uma equipa com posse, com pressão alta, com boa circulação de bola, com várias opções no momento da finalização, que se diverte, que quer marcar golos, parece tão simples que até chateia. O que é genial é simples, está ao alcance de todos mas só poucos o vêem, é essa a lição que temos de tirar da famosa história do Ovo de Colombo. Pois todos estes jogadores estavam a trabalhar com José Peseiro, mas o rendimento, a qualidade, o espectáculo, a alma, onde estavam? Em três jogos, em termos exibicionais, o Sporting passou do Inferno ao Céu. Um grupo de malditos passou a ungido e ainda falta Raphinha.
Sinto em Keizer uma enorme convicção no seu trabalho, um homem sem preconceitos, aberto, que dialoga, que sente o apoio de um presidente que lhe vai dar tudo e de uma estrutura que está solidamente a construir. A Holanda já deu geniais pintores, Varandas podia ter ido contratar um Rembrandt, que era uma celebridade na Idade de Ouro dos Países Baixos, optou antes por um Vermeer que, no seu tempo (1632-1675), era um artista relativamente obscuro. Hoje, algumas das 36 telas realistas que deixou são das mais aclamadas da história da arte, assim desejam os sportinguistas que a carreira de Keizer seja pincelada em Alvalade e que do obscurantismo do currículo à chegada, venha o brilhantismo dos títulos eternos. Porque o seu compromisso de respeito por quem paga bilhetes e quer espectáculo, esse, já seduziu quem gosta de futebol.»
Fica tudo dito! E bem dito!!!...
Leoninamente,
Até à próxima
E cada está outro excelente jornalista do Record!
ResponderEliminarSL
"(...)parece tão simples que até chateia. O que é genial é simples(...)". É verdade, mas garanto que esta "simplicidade" dá muito trabalho e só se obtém através de treinos complicados. Keiser é um obcecado pelo treino, é minucioso e exige "espírito de jogo" nos treinos.
ResponderEliminarA acompanhar com esperança e muito autocontrolo para não ficar eufórico sem alicerçadas razões.