sábado, 29 de setembro de 2018

Descansa em paz, António Alves Barbosa!...


As minhas recordações de menino ficaram hoje mais pobres! Morreu António Alves Barbosa, o primeiro grande campeoníssimo que foi capaz de ocupar durante muitos anos uma grande parte do meu coração de bairradino de gema, onde apenas numa pequena parcela semeei então, com carinho e incentivo paternal, o meu grande amor para toda a vida, o Sporting...

Nunca mais esquecerei, corria o ano de 1955, porque estava lá, na meta onde terminou uma das mais épicas corridas de Alves Barbosa em todas as Voltas a Portugal em que correu, numa etapa corrida em sistema de contra-relógio entre a Figueira da Foz e Sangalhos. O campeoníssimo bairradino, classificado então na geral em segundo lugar, partira da Figueira 3 minutos antes do lider, outro grande ciclista, o malogrado Ribeiro da  Silva, pelo que após a chegada apoteótica de Alves Barbosa a Sangalhos, o meu interlocutor passou a ser o meu brilhante e novíssimo relógio de pulso, prenda paterna pelo êxito no famigerado exame de admissão ao então ciclo prepratório, na esperança de, passados os 3 minutos do avanço com que Barbosa tinha partido, bastariam mais uns quantos segundos para que o meu campeoníssimo se reapossasse da amarela.

E assim  aconteceu! Alves Barbosa viria a ganhar a etapa com alguns minutos de avanço e a recuperar a camisola amarela, ante o delírio de milhares e milhares de adeptos do ciclismo que enchiam por completo a avenida central de Sangalhos, onde estava instalada a meta.

Também não esquecerei jamais, como acabaria essa volta, quando, creio que no dia seguinte, às portas do Porto, onde  terminaria a Volta a Portugal nesse ano, mais propriamente nos Carvalhos, Alves Barbosa foi apeado da sua bicicleta por populares e violenta e selvaticamente agredido e retido durante larguíssimos minutos, apenas para que Ribeiro da Silva se viesse a sagrar vencedor dessa triste Volta a Portugal. 

Os tempos mudaram! Com tão descarada tropelia, nos dias de hoje, essa etapa seria naturalmente anulada e Alves Barbosa seria consagrado como grande vencedor. Mas naquele tempo o campeoníssimo bairradino foi esbulhado de um triunfo conquistado com mérito e classe nas estradas portuguesas. Eu, com apenas 9 anos, sofri o primeiro grande desgosto e decepção pela falta de verdade desportiva que ainda hoje nos vai corroendo e fazendo perder o culto  e o respeito pelo desporto em toda a sua essência...

Descansa em paz, António Alves Barbosa!...

Leoninamente,
Até à próxima 

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