quinta-feira, 23 de maio de 2013

As tradições monegascas no fabrico de rojões!...

 

Quem teve o privilégio de nascer numa aldeia qualquer deste vasto Portugal, há mais de meio século, recordará certamente as mil e uma maneiras que a partir da matança do porco, com vossa licença, o dito poderia contribuir durante quase um ano para a alimentação familiar. E entre, o sangue que passado pouco mais de uma hora do último estertor do animal, era servido, temperado de alho picado e bem regado com azeite, aos "operadores", até às chouriças e presuntos que encerravam o processo de aproveitamento do animal, salvo seja, a "rojoada" era das operações mais cativantes e recheadas de interesse.
 
A caldeira, tacho de cobre ou outro nome qualquer que variaria conforme a região, era colocada sobre uma trempe de ferro que cobria uma bem alimentada fogueira, depois de as diversas porções de carne e gordura nele serem colocadas, a nível bem abaixo dos seus bordos. Porque a carga, numa primeira fase da cozedura, inchava, inchava, chegando ao ponto de requerer muito cuidado quando mexida e revolvida, para evitar que nada fosse juntar-se aos carvões incandescentes que abaixo cumpriam a sua missão. Com o tempo, as gorduras derretiam e os saborosos nacos de carne iam perdendo volume, à medida que iam sendo cozinhados, até que, terminado o processo, o volume final ficava por metade ou menos que o inicialmente colocado no tacho. Eram então retirados os melhores rojões, colocados em panelas de barro, cobertos com a gordura líquida da cozedura e guardados para o Inverno. No final, sobravam os pedacitos menores, as "saínhas" e uma coisa muito gostosa de saborear, mas de fraco valor nutritivo e que fazia um mal terrível à saúde de quem a tivesse e que a gula fizesse pecar, que na minha terra se chamava de "remoalho", que servia nesses dias de matança, para a refeição familiar e dos convidados amigos.
 
Lembrei-me deste tão tradicional ritual, quando ontem comecei a apreciar a "rojoada" que Pinto da Costa, Jorge Mendes e o jurista que tem acompanhado o processo, têm vindo a preparar á frente dos nossos olhos, com os "benditos" nacos de jogadores que indubitavelmente serão João Moutinho e James Rodrigues. Numa primeira fase a "carga" colocada no tacho, aumentou de volume e teve de ser mexida com muito cuidado para que nada fosse derramado para o lume que crepitava por baixo: e foram atingidos os 70 milhões!...
 
Depois, à medida que foi evoluindo a "rojoada", o volume foi decrescendo para os 60 milhões e agora no telejornal da noite foi noticiado que já terá atingido os 50 milhões. Concluí, naturalmente, que os "cozinheiros" serão entendidos na matéria em questão e que, também natural e obviamente, os melhores nacos, serão guardados em panelas de barro, para o "inverno".
 
Grande "rojoada", digna da melhor tradição lusitana! Ou será que os monegascos também são entendidos? Tanto faz, que sejam uns ou outros. Da Itália até à Rússia e passando pelo Principado, ele haverá "mafias" e "rojoadas" em todo o lado. Fica-me porém uma pulga atrás da orelha, que aqui vos desejaria deixar: tenho a impressão de que ao Sporting Clube de Portugal, apenas irão calhar as "saínhas" e o "remoalho"! Nada de que eu já ontem, não suspeitasse!!!...
 
Leoninamente,
Até à próxima

3 comentários:

  1. rojões à minhota, acompanhados com papas e verde tinto em malga !!

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    1. Caro "cincoAzero",

      Engana-se! Eu não sou do Minho e o ritual que descrevi passava-se na Bairrada, onde nasci. Acompanhamos os rojões com grelos de nabo cozidos e batatas, também cozidas, com pele. E a Bairrada já evoluiu um pouco mais que o Minho. O nosso bom e conhecido tinto, já o bebemos por um magnífico copo, normalmente vindo da Marinha Grande. E papas, cá pela Bairrada, só de abóbora, bem docinhas e com canela!...

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  2. Caro DC,

    O teu blog está adicionado. Obrigado pela adição de Leoninamente!!!...

    Saudações Desportivas

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