O pulsar do coração sportinguista |
Há um sentimento generalizado de humilhação e revolta nas hostes sportinguistas. Não pela derrota que o Sporting ontem sofreu no Funchal. Há muito que a grande família leonina enfrenta com estoicismo e proventura demasiada e elegante compreensão, o sabor amargo do inêxito. Mas se aquilo que a equipa não foi capaz de produzir, nos destroçou e envergonhou a todos, fundamentalmente, o que mais humilhou e revoltou a grande nação sportinguista, terão sido as infelizes palavras debitadas pelos lideres técnicos e institucionais nas horas que se seguiram ao final do encontro.
Domingos Paciência foi incapaz de fugir aos lugares comuns que deixou instalar na sua mente. Como se poderá aqui e mais aqui apreciar, o treinador do Sporting Clube de Portugal, aparentemente, parece estar seguro de duas coisas: da sua infalibilidade e da aceitação do seu discurso por parte da massa adepta sportinguista. Ora, nesta condição, alguém terá de lhe fazer perceber que as suas palavras, tanto por significarem um demagógico, contumaz, repetitivo e enfastiante alijar de responsabilidades próprias, quanto por terem deixado de ser bem acolhidas ou sequer compreendidas pelo alvo que vem tentando sensibilizar e arrebanhar para a sua causa, deveriam ter sido substituídas pela assumpção de culpas e erros próprios e dos jogadores que dirige, por um sincero pedido de desculpas aos associados, complementado por solene promessa de alteração de tudo o que possa conduzir o Sporting à alteração urgente e minimamente aceitável dos resultados ultimamente conseguidos.
Domingos Paciência não poderá jamais presumir que a fabulosa, fervorosa e extensíssima massa adepta do Sporting Clube de Portugal poderá alguma vez ser comparável às massas adeptas dos clubes por onde passou, tanto quantitativa como qualitativamente. No seio da fantástica família leonina, há milhares e milhares de conhecedores profundos do jogo que lhe deu e dá o pão, que percebem tão bem como ele, ou porventura ainda melhor: as suas debilidades tácticas na estruturação da equipa; as suas dificuldades de leitura no banco em cada jogo e a concomitante dificuldade de adopção da reacção necessária, eficaz e letal para o adversário, tanto a nível táctico quanto na escolha das individualidades mais indicadas para a sua prossecução; as suas limitações de filosofia e métodos de treino no sentido de alcançar as desejadas e eficazes rotinas e ligações entre sectores, que tornem natural o fio de jogo que muito raramente se pressente na equipa; a sua manifesta incapacidade - infelizmente confessada - para ao fim de sete meses conhecer e liderar as personalidades e especificidades técnicas de cada um dos jogadores que constituem o plantel que dirige; a sua confrangedora incapacidade para providenciar o estudo atempado e profundo de cada adversário e a assertiva escolha dos elementos do seu plantel, por forma a potenciar a sua equipa para melhores respostas às fragilidades e virtudes de quem se nos opõe; as fragilidades dos seus acessores na componente específica da preparação física, consubstanciadas em sucessivas e/ou recidivas lesões musculares e na incapacidade atlética para fazer frente ao calendário conhecido desde o início da época; e finalmente a superficialidade e o descoroçoante descontrole comunicacional que ultimamente vem exibindo.
Domingos Paciência deverá perceber rapidamente, que a derrota de sábado no Funchal terá determinado o fim do estado de graça em que tem vivido desde que chegou a Alvalade. Nenhum outro treinador nos tempos mais recentes, foi recebido no reino do Leão com a simpatia e fidalguia que os adeptos do Sporting usaram para com ele. E nenhum outro terá disfrutado da compreensão e complacência que lhe tem sido patenteada. Mas a "paciência" ter-se-à esgotado e as únicas culpas deverão ser suportadas exclusivamente pela sua pessoa, sem sacudidelas da água que, quase displicentemente, deixou que lhe inundasse o capote. Continuar a permitir que se subentenda ou a descaradamente fazer crer, que todos os males estarão nas arbitragens, na inadequada resposta dos seus liderados ou ainda na rapidez dos relógios que inexoravelmente lhe marcam o trabalho, é pretender passar um atestado de estupidez a todo o universo leonino. Os mesmos relógios que agora giram vertiginosamente para a exigência máxima.
Luís Godinho Lopes terá também revelado incapacidade para perceber a justa indignação dos adeptos. Afirmar publicamente um pensamento, como aqui poderá ser apreciado, em que menoriza o significado do protesto de duas, três ou quatro dezenas de adeptos que foram receber a equipa à Portela, não me parece correcto. Seja qual for o número dos adeptos que possam expressar ou vir a expressar os seus sentimentos em relação a qualquer assunto da vida do Sporting, o seu impacto nunca deverá ser desvalorizado pelo número que o exprimiu, antes pela mensagem que transporta. E a resposta jamais deve ser pública: o Sporting Clube de Portugal tem mecanismos e lugares onde um presidente pode fazer levar a sua mensagem de resposta. Que deverá sempre ter em conta os justos anseios de todos os sportinguistas, sem excepções ou "ghettos" de proscrição! E a parcialidade que Godinho Lopes hoje expressou e aqui pode ser apreciada, entre o treinador que escolheu e o desconforto que reina no universo sportinguista sobre o trabalho desenvolvido e a desenvolver pelo mesmo, pode ser compreendida como a única que possa interessar à instituição cujos destinos lidera, que importe passar para o exterior. Outra coisa será alguma vez pretender que não seja seu dever, no tempo e no modo que melhor entenda servirem os interesses do Sporting Clube de Portugal, informar o sujeito do desconforto e insatisfação da imensa família leonina, desse mesmo facto e da necessidade urgente de uma resposta compatível com a grandeza da instituição a que preside. Mais do que responder à exigência dos orgãos de comunicação social, Godinho Lopes deve saber, em todos os momentos da vida do clube que dirige, ser o representante do pulsar do coração sportinguista!...
Leoninamente,
Até à próxima
Boa!
ResponderEliminarCaro Ricardo Almeida,
ResponderEliminarObrigado!
Sei que o difícil é ser crítico contra a corrente do jogo. Para baixo todos os santos ajudam. Mas mesmo com a ajuda de "santos" e "pecadores", às vezes o comodismo silencia o pensamento...
Já seremos dois.
Um abraço grato e leonino