sábado, 17 de dezembro de 2016

"Há um mínimo de dignidade que um homem não pode negociar..."


PÓNEIS E PAINÉIS NO CARROSSEL DE BRUNO


«Não se pode dizer que Bruno de Carvalho tenha quebrado o silêncio, porque o presidente do Sporting nunca está em silêncio — e ficámos a saber, não porque tivéssemos algumas dúvidas sobre isso, mas porque foi finalmente assumido pelo próprio na mais recente entrevista televisiva concedida pelo líder leonino, que esta constante virulência dialéctica decorre do facto de o Sporting (falido quando da sua chegada a Alvalade) não ter outro caminho senão… "virar a mesa" (sic).

"O Sporting não tinha dinheiro, mas a sua voz tinha de ser ouvida" – explicou o presidente dos ‘leões’. Fica agora mais claro, para quem ainda não tinha percebido, que – ajudado por uma voz tonitruante, porventura a mais adequada a este momento de estratégica amplificação — Bruno de Carvalho verbaliza e teatraliza muita da sua intervenção pública, porque (segundo ele) só assim, em razão dos erros do passado, o Sporting conseguirá diminuir a distância que o separa dos rivais Benfica e Porto.

Quer dizer: Bruno de Carvalho tem a convicção de que não basta ter uma boa equipa e um bom treinador. É preciso mais alguma coisa. É preciso ter voz. E nisso é capaz de ter razão. O Sporting passou a ser ouvido. O problema está na quantidade e no volume, que afectam a qualidade e, em muitos casos, anulam a mensagem e as propostas.

Uma coisa é certa: com eleições à vista, e ainda sem objectivos alcançados (resultados desportivos transformados em troféus, no futebol), o presidente do Sporting, não apenas volta a ignorar os reparos de todos aqueles que acham excessiva aquela virulência dialéctica, como aproveita o momento para sublinhar junto da opinião pública que vai continuar a… jogar ao ataque. Sem medo das palavras. Vá lá: reconheceu o exagero da metáfora das nádegas. É um pequeníssimo avanço.

Nem sempre é justo — para o bem e para o mal — mas os resultados desportivos, no futebol, são o barómetro que tudo (re)posiciona. Bruno de Carvalho quis o título com Leonardo Jardim (2.º), quis o título com Marco Silva (3.º) e quer agora, ainda com mais força, o título com Jorge Jesus. Na época passada, com o ex-treinador do Benfica, foi por um triz (2.º, a 2 pontos do campeão), o que aumentou as expectativas para a temporada em curso, com um acto eleitoral pelo meio.

Houve vendas importantes (Slimani e João Mário), entrada de muitos jogadores e a participação europeia acabou, prematuramente. Há sinais de vitalidade, mas o Sporting, neste momento, é ‘apenas’ o primeiro dos últimos. Ou seja: para Benfica, FC Porto e Sporting, a ‘arrumação mínima’ é sempre entre os três primeiros, mas é bom não esquecer que Bruno de Carvalho chegou ao Sporting depois de este ter sido, cronologicamente, 4.º, 3.º, 4.º e 7º classificado, o que diz bem do plano inclinado em que o clube ‘leonino’ se encontrava.

Parece-me claro que Bruno de Carvalho voltou a aumentar o tom (e o som), porque o Sporting se colocou e ainda está na ‘red line’: depois do ‘colapso’ pós-europeu em Vila do Conde e Guimarães, com perda de 5 pontos de uma forma pouco académica em menos de 15 dias, mais recentemente a turma leonina deixou a Europa e perdeu com o Benfica, perdendo também a oportunidade de se colocar numa posição de grande protagonismo. O impacto negativo só não é maior porque o Benfica deixou, inesperadamente, 3 pontos no Funchal. O jogo para a Taça, no Bonfim, valia muito, à partida, para Bruno de Carvalho e para Jorge Jesus: um novo desaire (numa prova que o Sporting quer ganhar) e seria um problema (de gestão) verdadeiramente… leonino. Não foi por acaso que o Sporting se apresentou, em Setúbal, na máxima força, três dias depois de ter jogado na Luz…

Preto no branco: a partida com o Braga ainda faz parte do conjunto de jogos em que o Sporting se apresenta na ‘red line’, até porque se trata do confronto entre o 3.º e o 4.º e, depois deste e até às eleições, os ‘leões’ têm um calendário ‘razoável’ (vão a Chaves e a casa do Marítimo em Janeiro e visitam o Porto no começo de Fevereiro), mas o êxito no Bonfim foi mesmo um… grande alívio. Caso contrário… o caldo estaria entornado - e bem entornado…

A mais recente entrevista de Bruno de Carvalho foi gravada entre os jogos na Luz e em Setúbal e daí, porventura, a necessidade de aumentar, outra vez, o volume. Um carrossel dialéctico vertiginoso, com uma inabalável fixação nos póneis e nos ‘painéis’ do costume. Um presidente da dimensão de um clube como o Sporting colocar-se ao nível de ‘paineleiros’ que fomentam guerra(s) sem ventura(s) ou é um problema de perspectiva ou é um assumido mecanismo de autosobrevivência. Será que Bruno de Carvalho precisa deste carrossel para se manter vivo?…


O exemplo de Toni

Discutiu-se o dérbi e, sobre a arbitragem, houve opiniões para todos os gostos e paladares. Já se percebeu que, mesmo a posteriori, ex-árbitros têm opiniões diferentes sobre os chamados ‘casos’ e isso tem muito a ver com a natureza das leis do jogo, que conferem às equipas de arbitragem o poder da interpretação. Há lances em que a regularidade fica quase no mesmo plano da irregularidade e é nessa subjectividade que assenta o império da dúvida e da discussão. É nessa fronteira que os dirigentes e alguns treinadores investem. Com muita (im)pressão.
É raro ver-se alguém do Benfica a reconhecer erros de arbitragem em desfavor do Sporting e vice-versa. Não é que surpreenda, uma vez que, em toda a sua vida, Toni foi sempre de uma grande honestidade intelectual. Talvez por isso nunca lhe tenha sido reconhecido o mérito devido, porque a sociedade desportiva prefere os enganos, as mentiras, o clubismo cego, a hipocrisia, a subserviência. Em troco de benfeitorias ou mesmo migalhas.

Querem ‘matar’ o vídeo-árbitro?…



Haverá mesmo vontade da FIFA e da UEFA em implementar o vídeo-árbitro? A arbitragem, nas suas manobras, pressões e subjectividades, tira e dá pontos e títulos a muita gente. É um império complexo, liderado por homens. Com preferências, afectos, sonhos e… vontade de influenciar. De uma coisa fácil querem fazer um monstro de sete cabeças. O vídeo-árbitro deve ter o objectivo de eliminar os erros grosseiros. Mais do que isso é querer alimentar uma discussão estéril que satisfaz a tese daqueles que querem tudo na mesma… nebulosa.»
(Rui Santos, Pressão Alta, in Record)


Há muito que o jornalismo perdeu em Portugal a sua sublime essência! Tive o privilégio de ter nascido e vivido num tempo em que pude acompanhar a sua paulatina transformação.


Primeiro foi-me dada a possibilidade de o ver sob as grilhetas de um passado que todos abominam e desejam bem enterrado para sempre. E assisti à luta que foi travando, com coragem e inteligência, quantas vezes salpicadas de sangue e injustiça, para contribuir para que o "sono de um povo" não se perpetuasse e esse mesmo povo continuasse a sonhar com Liberdade.

Depois vi-o atingir a puberdade e a fase adulta, em tempos difíceis e de muitos excessos que sempre acontecem na juventude, mas onde se ganham ensinamentos e experiência que nos servirão para sempre.

Veio depois a maturidade, a afirmação e quando se julgaria que estava finalmente encontrada a rota perseguida e cumprida pelos povos mais evoluídos, à boa maneira portuguesa e em quase todas as vertentes do nosso quotidiano, aconteceu o caricato, impensável, o desastre: voltámos ao fosso desesperado e desprezível da ignomínia! E de instrumento de cultura voltámos a vê-lo transformado no mais reles instrumento ao serviço dos poderosos!...

O jornalismo desportivo não soube, não foi capaz, não teve a coragem ou não quis, fugir ao destino generalizado dos outros sectores. E aí o vemos hoje, de cabeça enfiada na sargeta da imbecilidade e da subserviência, trabalhando afincadamente no reforço do poder dos que sempre hão-de viver para espezinharem os mais débeis, utilizando os mais tortuosos dos inclassificáveis caminhos do nepotismo e da corrupção.

Contra ventos e marés, Rui Santos sempre recusou esses caminhos. E poucos serão, hoje por hoje, os que o acompanham na cruzada. Muito poucos...

"Há um mínimo de dignidade que um homem não pode negociar..."

Leoninamente,
Até à próxima 

7 comentários:

  1. O problema... o maior problema, é mesmo ..." A arbitragem nas suas nanobras, pressões e subjectividades..."
    "Poder tirar ou dar pontos" a quem desejar proteger...
    Vamos assistir nos próximos tempos, a pressões das mais diversas proveniencias, feitas na CS contra a implementação do vídeo- árbitro...
    Se para os corruptos " está tudo bem"...
    Para quê mudar...?

    Não te cales BC...
    Quando eu achar " que é demais"...
    Tapo os ouvidos...!

    É urgentissimo continuar a desmascarar o " sistema"...

    SL

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  2. >>"Contra ventos e marés, Rui Santos sempre recusou esses caminhos. E poucos serão, hoje por hoje, os que o acompanham na cruzada. Muito poucos..." - Álamo

    Nem todos os Sportinguistas gostam do BdC. Alguns não gostam da sua mensagem. Alguns não gostam do formato dessa mensagem. Alguns não gostam da sua postura. Tudo isto são factos. O BdC cometeu alguns erros, certo...mas tudo o que disse são FACTOS.

    E por isso alguns veem no Rui Santos (RS) algo que ele não é.

    RS é, isso sim, um contorcionista puro - tanto é capaz de martelar no sitio certo, como é capaz de branquear e apontar (inteligentemente, pensa ele...) na direcção que ele acredita ser mais conveniente. Pior, é um contorcionista puro que tem voz nos jornais, rádio e televisão. Pior ainda, é um contorcionista puro que tem voz nos jornais, rádio e televisão e que acredita ter poder. É de se lhe tirar o chapeau...

    Vejamos, neste texto menciona as raízes do "falar alto" do Presidente BdC. Muito bem. Mas...será que referiu, - para lá dos problemas da arrumação da própria casa - , o verdadeiro porquê dessa estratégia e dessas raízes (o controlo tranquilo exercido pelo slB sobre o futebol português, a arbitragem, e a Com. Social)? NÃO.

    RS foi específico quando referiu os pontos, os lugares na tabela, os jogos críticos para JJ, a perda de pontos do slB. Mas ousou referir como a recuperação do Sporting foi, UMA VEZ MAIS, cortada por uma arbitragem vergonhosa e carregada de erros sempre para o mesmo lado? NÃO. Ele, UMA VEZ MAIS, deflecte o problema (a corrupção na arbitragem e as arbitragens frequemente pró-slB) com o velho problema da subjectividade. A táctica típica do cobarde, do homem pequeno que julga ter poder e o usa consoante os seus PRÓPRIOS objectivos. A cereja no topo do bolo é referir o Toni como exemplo, quando já todos vimos esse senhor tecer comentários pouco elogiosos para com o Sporting e o seu Presidente.

    RS não passa de mais uma ferramenta do sistema. Muito activo, sem dúvida, quando se tratou de apontar o dedo a Pinto da Costa, Vale e Azevedo e outros, mas submisso (sob uma capa de "ninguém me cala", a capa do velho "heroi" que se lançou numa cruzada) ou sobejamente cauteloso quando se trata de afrontar o Padrinho do futebol português actual: o binómio LFV e Jorge Mendes.

    No meio daquilo que os Espanhois entenderiam como sendo "una verdadera chorrada", o RS tem razão no que se refere ao video-arbitro. Parece-me que ele vê (bem) para lá das aparências destes testes ao VAR, embora não se atreva a dar a pincelada que muitos dão (que os "interesses" condicionaram o VAR por forma a falhar...). Típico RS, diga-se...ele vê, ele sabe...mas só atinge quando quer.

    Curioso, diria, como Bernardo Ribeiro ou Daniel Oliveira (ambos frequentemente citados pelo Álamo), qualquer um com muito a perder e por certo muitos inimigos a enfrentar, lá se vão enchendo aqui e ali de coragem e endireitando a espinha, e assim ousam mais vezes pôr o dedo na ferida do que este pseudo-arauto da "verdade do futebol português".

    Rui Santos, a Máscara Noh - consoante o ângulo (que ele tenta controlar) que se use para o ver/ler, apresenta diferentes expressões/faces. Poucos serão, hoje por hoje, os que sabem qual é a sua real cruzada, mas muitos há que embarcam no canto da sereia que ele vai soando...

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    1. Caríssimo Chronus, teremos opiniões diferentes sobre Rui Santos. Por mim, sem lhe colocar na cabeça a aura dourada e resplancecente de santo, tenho algumas vezes opinião coincidente com a sua ou então, completamente antagónica. Já trouxe aqui ambas, por óbvias razões que, do meu ponto de vista, interessarão ao Sporting. Esta terá sido paradigmática, a meu ver, naturalmente...

      Quanto ao paralelo que faz e a meu ver, não deveremos correr o risco de estabelecer paralelismos entre o trabalho de um cronista e de um jornalista. Serão tarefas e contextos diferentes...

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  3. Ipsis verbis, Chronus. Depois da sua argumentação, não há mais nada a dizer sobre o sobrinho de Alves dos Santos.

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    1. Até eu benfiquista confesso tenho de aprovar esta intervenção do Cronus- o Rui Santos é um dos maiores expoentes do contorcionismo e da verdade conveniente. Quem quiser navegar em águas turvas pode aprender com Rui Santos, paradigma dos discursos redondos e inconsequentes. Um axioma sobre o pedantismo e a falsa virtude poderiam ser construídos sobre as pseudo lutas de RS.

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    2. És um nabo, é Hélder.
      Rui Santos é sobrinho de Vítor Santos, de A BOLA, que também era sportinguista.

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