sábado, 30 de novembro de 2013

O renascimento do Leão, após anos e anos de mansidão?!...




Quanto vai receber o Sporting pela transferência de João Moutinho (do FC Porto) para o Monaco? A Comissão Arbitral da Liga vai decidir, mas o clube de Alvalade já colocou a circular que os “juízes” frequentam os camarotes do Estádio do Dragão. As regras estão viciadas?

Bruno de Carvalho sabe que os mais fervorosos sportinguistas não gostam de alianças. Nem com o Benfica nem com o FC Porto, mas historicamente – por causa da rivalidade com os vizinhos da Segunda Circular – sempre admitiram com maior tolerância as aproximações ao FC Porto. Essa sensibilidade foi quase sempre projectada pelos presidentes do clube de Alvalade. Tirando o caso de Dias da Cunha, que até avançou com um manifesto, e exceptuando situações de escaramuças mais pessoais do que institucionais, os presidentes do Sporting foram alimentando a estratégia que mais serviu os interesses do FC Porto. Parte do sucesso de Pinto da Costa foi construído através das picardias colocadas nas relações entre o Benfica e o Sporting ou vice-versa e, neste momento, com a mudança presidencial entre os leões, vive-se uma fase diferente em Alvalade, com Bruno de Carvalho a questionar-se: o que posso perder estando de costas voltadas para o FC Porto e o que posso ganhar estando de boas relações com o Benfica?

O Sporting assume o corte de relações com o FC Porto e, inicialmente, num clima de desanuviamento em relação ao Benfica, Bruno de Carvalho corrige o tiro, quando mais recentemente vem falar de que... alianças (?), “só no dedo e com a minha mulher”. O presidente do Sporting sabe que está numa encruzilhada: não tem qualquer tipo de poder nem na Federação nem na Liga, logo não tem qualquer tipo de influência sobre as decisões, nem no plano da Arbitragem, nem no plano da Disciplina – os dois cadeirões onde se revolvem mais de 75% das coisas do futebol.

Bruno de Carvalho, astuto como é, já percebeu que não vale a pena estar com romantismos e um dos mais recentes episódios relacionados com poderes e alianças demonstra que o Sporting também está desconfiado com a Comissão Arbitral da Liga que vai decidir a divergência sobre o montante que o FC Porto deve pagar ao Sporting, relacionado com a venda de Moutinho ao Monaco. Talvez tenha sido isso que levou o jornal “Sporting” a dar conta, refugiando-se em fontes próximas do processo, da “presença assídua” nos camarotes do Estádio de Dragão de alguns dos membros que vão decidir a divergência entre o FC Porto e o Sporting, no caso Moutinho.

Quer dizer: os leões já estão a preparar os seus apaniguados para algo que pode vir a acontecer: o Sporting não receber um pouco mais de 4,6 M€, resultantes da transferência de João Moutinho do FC Porto para o Monaco, e ao abrigo do acordo celebrado entre portistas e sportinguistas em julho de 2010, quando o Sporting vendeu Moutinho ao FC Porto por 11 M€, ficando de receber mais 25% numa futura transferência sobre a mais-valia apurada. A esse valor – defendem os leões – deve somar-se 1,125 M€, o qual representa 5% do valor total da transferência, enquadrado no chamado Mecanismo de Solidariedade. O FC Porto não quer pagar os 3,5 M€, alegando que é preciso descontar 2,485 M€ resultantes de pagamentos à Gestifute (de Jorge Mendes).

Parece evidente que esta interpretação só parece ser possível por causa das más relações entre FC Porto e Sporting, sobretudo se for certo – como alegam os leões – que no acordo é dado um exemplo prático, segundo o qual, se Moutinho fosse vendido por 20 M€, o Sporting teria de receber 2,225 M€, isto é, 25% sobre a mais valia de 9 milhões. Quer dizer: se Bruno de Carvalho não fosse o presidente, o FC Porto teria a mesma interpretação? Se sim, então aí está o que valem as “boas relações institucionais” – apenas enganos.

Há ainda a questão do entendimento entre o FC Porto e o Monaco, no que concerne à fixação do preço dos passes de Moutinho e James Rodríguez. O Monaco entrou na jogada do FC Porto. A interpretação monegasca foi generosa. O aconselhamento também. Por aqui se vê, também, que o objectivo era “passar a perna” ao Sporting. A independência dos leões, reivindicada pela nova presidência, tem um preço. Que está à vista, fruto de anos e anos de mansidão.

Perante os insondáveis registos sobre as razões que terão sustentado a repartição cíclica da hegemonia do futebol português, desde meados do século passado até aos dias de hoje, poucos contestarão a tese, de que se terão verificado três longos períodos de supremacia incontestada, protagonizada, respectivamente por Sporting Clube de Portugal, S.L. Benfica e F.C.Porto.

O domínio do Sporting derivou da incontornável, incontestada e saudosa qualidade técnica e do talento de várias gerações de atletas, que o destino terá vestido com as gloriosas camisolas verde e brancas de Leão Rampante ao peito. 

O S.L.Benfica terá alicerçado a sua subida ao topo do futebol português, através do espírito organizativo de Otto Glória, da astúcia ímpar e irrepetível do velho húngaro Bella Guttman, do aproveitamento do filão africano das antigas colónias portuguesas e do beneplácito e apoio despudorado de um regime que adoptou o clube como coisa sua e dele fez bandeira propagandística.

Da inteligência, capacidade organizativa, argúcia e utilização de métodos pouco ortodoxos no control de todas as estruturas do futebol português, por parte de Jorge Nuno Pinto da Costa, terá resultado a posição hegemónica alcançada pelo F.C.Porto, nas últimas três décadas.

Afastado há mais de meio século da ribalta do futebol português, o Sporting Clube de Portugal, descontadas naturais mas episódicas épocas, em que conseguiu interpor-se entre os seus outros dois poderosos rivais, parece ter gasto todo esse tempo numa quase descoroçoante e decepcionante hibernação, de que finalmente, goste-se ou não do seu novo líder, parece pretender libertar-se, através de um trilho de independência e da absoluta recusa em servir de ponto, no teatro do futebol português.

Mas o caminho da independência, da dignidade e da regeneração do futebol português, perseguido por Bruno de Carvalho, tem um preço, porventura muito alto e quem sabe se alcançável no prazo que a grande nação leonina desejará. Esse preço, como acertadamente Rui Santos acentua no seu artigo de hoje,"... está à vista, fruto de anos e anos de mansidão...".

E a grande questão que se colocará, será a de nos interrogarmos sobre se, o elevado preço que teremos de pagar, alguma vez deverá constituir-se como dissuasor dos propósitos de um líder que apenas pretenderá conduzir o seu Clube, ao lugar com que sonha a mais poderosa e fantástica massa adepta do mundo.

Leoninamente,
Até à próxima

2 comentários:

  1. Depois de anos e anos de estar no desporto de forma educada, foi aberto um período onde a GOELA é apresentada com todo o aparato e numa forma arrogante e prepotente.

    E há quem goste disso...

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    1. "Honni soit qui mal y pense" !...

      A pobreza de espírito, há séculos que inunda os campos de Portugal!...

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