«As recentes operações judiciais que visaram o futebol são muito importantes pela materialidade do que está em causa e pela percepção. Ao atacar um vasto sistema de poder e negócio que parte do Benfica e do FCPorto para uma vasta periferia de interesses conexionados, entrelaçados do Braga ao Farense com dezenas de clubes pelo meio, a justiça projecta uma pedagógica imagem de que a lei é igual para todos. Mostra que não alinha por uma selectividade de alvos, sempre típica das análises que privilegiam a visão conspirativa. Mostra, também, ao ir pelo lado tributário, que procura salvar alguns anéis para que, pelo menos, a factura não pese totalmente sobre os ombros dos contribuintes, o que sempre acontecerá, quanto maior for a dívida bancária global envolvida.
Tudo isso não invalida, como é óbvio, que sejam respeitados escrupulosamente os princípios do processo penal. Para quem leu o artigo "Os Bastidores das Operações Prolongamento e Fora de Jogo", da autoria de António José Vilela e publicado na última edição da SÁBADO, fica no ar uma forte preocupação. Investigações sobrepostas, com mandados de busca sobrepostos, discussões de impacto processual entre juiz e investigadores na presença dos alvos e advogados, são algumas pontas soltas que podem vir a gerar prejuízos insanáveis. Quando o futebol navega nas águas turvas que se conhecem, espera-se, ao menos, que a justiça saiba conduzir o seu próprio barco e não deixe levar-se para as correntezas obscuras de uma eventual falsificação da verdade processual. Se há jogo que não pode falhar é o da justiça.
Por fim, uma palavra final sobre a violência no futebol. No Dragão e na Luz, com amplitudes diferentes mas significados iguais, permanece a vergonha. Num caso, a inaceitável desculpabilização, com o argumento de que os jornalistas espanhóis foram ‘só ofendidos, mas não agredidos. No caso da Luz, a também inaceitável resignação de transformar o recinto e periferia numa batalha campal. Aqui, a culpa transcende as autoridades nacionais mas deixa no ar perguntas há muito persistentes sobre a passividade da UEFA na repressão deste tipo de comportamentos em muitos estádios europeus. A continuar assim, nem no ano três mil vão regressar as famílias e a normalidade da festa aos estádios de futebol, reservados que ficam, em exclusivo, para a tribalização eterna da rivalidade.»
Para sairmos deste autêntico " lamaçal terceiro-mundista" em que paulatinamente nos estaremos a atolar, estará na hora de confrontar o Futebol, a Justiça e tantos outros "meandros obscuros" que abundam em Portugal, com a instituição de um novo, revolucionário, "almirantado e plenipotenciário" departamento estatal...
O Ministério da Transparência!!!...
Leoninamente,
Até à próxima
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