«Quando o futebol português atravessa uma das suas fases mais difíceis de sempre, com as investigações Fora de Jogo, Cartão Vermelho e Cartão Azul, entre outras, algum génio do mal deve ter pensado que o chamado desporto-rei ainda não tinha batido no fundo. Com grande convicção, esforçou-se por transformar um jogo que deveria ter sido cancelado num lamaçal gigantesco, mostrando a total relatividade da verdade desportiva e a sua plena subalternização a toda a espécie de interesses. Com isso, fez a prova pública definitiva da ausência de liderança, de regras, de valores e propósito da atual organização do futebol português. Pior seria impossível.
O episódio do Belenenses SAD – Benfica é a cereja no topo do bolo da descredibilização. Culpados, são todos. Em primeiro lugar, a Liga dos Clubes que, como responsável pela organização dos jogos, deveria ter tido o nível de diligência necessário a chamar a si a decisão de cancelar o jogo. Daqui para a frente, a actual direcção da Liga está ferida de morte. Não tem autoridade, não tem crédito, não merece qualquer respeito. Depois, o Belenenses SAD e o seu presidente, que esticaram a corda até ao impossível. Mostraram que são um clube sem valores e apenas com interesses. Uma mera plataforma de compra e venda de jogadores que só existe para fins de negócio. Por fim, o Benfica, que deveria ter tido a grandeza de ajudar a procurar uma solução e não esconder-se atrás de um regulamento iníquo para as circunstâncias. Que deveria ter entrado em campo com a circunspecção que a situação exigia e não para marcar golos atrás uns dos outros e festejá-los, numa ficção competitiva que não sustenta qualquer verdade formal regulamentar a que se agarrou o presidente do Benfica.
Utilizando, por fim, uma expressão que já serviu para qualificar o vergonhoso episódio, ninguém sai bem na fotografia desta página negra na história do futebol português. O primeiro a não sair bem é o seu autor, o inexistente secretário de Estado do Desporto, João Rebelo. O Governo não pode lavar as mãos, como Pôncio Pilatos, num acontecimento que comporta óbvios danos reputacionais para o futebol e para o país. Tem responsabilidades que decorrem da lei e do decoro. Se é para deixar o futebol entregue a si próprio, apesar de estar cheio de entidades a que foi reconhecida utilidade pública e de ser regulado em muitas frentes pelas leis da República, então, nem sequer vale a pena ter um secretário de Estado do Desporto. Basta um funcionário. E nem é preciso que seja muito competente.»
(Eduardo Dâmaso, director da Sábado, Futebol de Rua, in Record, hoje às 18:00)Nem mais!!!...
Leoninamente,
Até à próxima
Artigo de opinião, de um grande jornalista.
ResponderEliminarCom a coragem e a sensatez, que o distingue enquanto profissional, coloca os pontos em todos os is.
Todos os intervenientes, são culpados desta Vergonha e Escândalo.
Quanto ao inexistente Secretário de Estado, simplesmente triste e deprimente figura.
Amigo Álamo
ResponderEliminarEste artigo deveria estar colado nas paredes de todos os Ministérios e nas Escolas. Para vergonha nossa....
Abraço