terça-feira, 13 de março de 2018

Com esta do provérbio da Boémia é que os benfas não contariam!...


PARÓDIAS

«O monodrama protagonizado por Luís Filipe Vieira após a vitória sobre o Aves pode ter bastado para saciar aquela fação de adeptos benfiquistas que, mais do que ansiarem por qualquer tentativa de genuíno aclaramento, queriam um sermão colérico e guerreiro. A esses (que existem na mesma proporção em todos os clubes e que são normalmente os mais ativos, como se viu na aclamação dirigida a Paulo Gonçalves por alguns setores das bancadas) não teria sido sequer necessário dizer que "nunca, mas nunca", o líder benfiquista ou alguém da sua direção mancharam "a honra e a dignidade do Benfica". Ter-lhes-ia bastado ouvir que "acabou a paródia" e que iriam ser acossados criminalmente todos aqueles que colocaram em causa o bom nome do clube – uma frase suficientemente sibilina para deixar em aberto a possibilidade de não se querer apenas advertir, mas eventualmente também amedrontar (e aqui importa, desde já, fazer um parêntesis: o Sindicato de Jornalistas e várias corporações ligadas aos media andaram bem na forma como recentemente reagiram à intemperança de Bruno de Carvalho, mas não mantiveram a bitola relativamente às palavras reservadas agora por Vieira aos profissionais da comunicação social). A verdade é que Vieira não foi suficientemente esclarecedor.

Ninguém estava à espera de um auto-de-fé e ainda menos de uma sessão de autoflagelação, mas até uma parte importante da nação benfiquista concordará que a acumulação inusitada de processos e situações dúbias em que vários dos principais responsáveis do clube se viram envolvidos ("vouchers", Operação Lex, e-mails e, mais recentemente, e-toupeira) não pode ser apenas justificada com a maquinação e as tramoias dos principais concorrentes e com eventuais denúncias anónimas ardilosas, mesmo que nalguns casos elas possam ter mesmo existido. Da mesma forma, é demasiado incongruente e até algo irónico pedir uma reunião urgente à Procuradoria-Geral da República para se queixar de reiteradas violações do segredo de justiça sobre os processos que envolvem o clube na precisa altura em que o assessor jurídico do clube e homem muito próximo do presidente está indiciado não só de corrupção ativa, mas também de violação do segredo de justiça. E não há aqui qualquer menosprezo da nossa parte pela presunção de inocência ou qualquer tentativa de antecipar os desfechos judiciais, até porque salta à vista que boa parte das acusações são de prova muito difícil. Independentemente do desfecho forense, o Benfica terá também que se preocupar com as consequências que todas estas embrulhadas jurídicas podem resultar para a sua imagem. O Apito Dourado/Apito Final terminou, recorde-se, com a anulação de quase todas as sentenças judiciais, mas nem isso evitou que o FC Porto continue a ser penalizado pela opinião pública e até por muitos dos adeptos que recusam o apoio acrítico. Numa das mais inteligentes (e também raras) intervenções que o Benfica teve ultimamente, João Correia, responsável pelo principal escritório de advogados que assessoria o clube, refutava a tese da corrupção (e estamos a falar do caso dos e-mails), mas admitia que as informações vindas a público através do surripianço dos mails (um crime que também deve ser julgado) podem prenunciar situações de tráfico de influências. Daí que não seja estranho que uma parte significativa da opinião pública esteja hoje convencida de que pessoas ligadas ao Benfica possam ter querido exercer um controlo vicioso dos aparelhos da disciplina e da arbitragem, mesmo que seja algo duvidosa a serventia e até as probabilidades de êxito desta estratégia, que parecia envolver uma extensa rede de relações promiscuas. Da mesma forma, e olhando agora apenas para a "Operação e-toupeira", é legítimo que o simples mortal, face aos dados recentemente revelados, admita como boa a tese, estabelecida no indiciamento, de que houve também vontade de manejar a justiça civil, procurando tirar vantagens até no terrorismo comunicacional que vem sendo travado, de parte a parte, com o FC Porto e o Sporting. Quem tem memória suficiente, sabe que não é nada de absolutamente novo no futebol português e que nem envolve necessariamente grandes recompensas materiais a oficiais da justiça que aceitam a eventual tramoia como mais um bom serviço ao clube do coração. Verdadeiramente, novidade foi a agilidade e a atuação da Polícia Judiciária, o que terá apanhado desprevenido quem não percebeu que os tempos estão a mudar.

O anunciado gabinete de crise do Benfica terá entrado ontem em funções, mas Vieira e a sua congregação de advogados estarão a cair em mais um erro crasso se a ideia for apenas reprimir e acossar judicialmente todas as opiniões desfavoráveis. Bem mais vantajoso e inteligente seria uma postura mais elucidativa, mesmo que nalguns casos isso resulte na assunção de erros próprios. Caso contrário, o Benfica estará a confirmar o provérbio da Boémia, segundo o qual para os erros alheios temos os olhos de um lince, mas para os nossos próprios pecados só temos os olhos de uma toupeira…»
(Bruno Prata, jornalista, em Ludopédio)

Com esta do provérbio da Boémia é que os benfas não contariam!...

Leoninamente,
Até à próxima

2 comentários:

  1. "para os erros alheios temos os olhos de um lince, mas para os nossos próprios pecados só temos os olhos de uma toupeira…" -em cheio!
    Mas, à cautela, que os confrades da Irmandande Lampiónica estão bravos, convirá esclarecer que "é pura coincidência qualquer semelhança entre o provérbio e pessoas ou factos acontecidos"

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  2. Ontem num blog afecto ao Sporting (ou de um sportinguista que comenta a realidade desportiva mas que se indentifica como Sportinguista...) questionei-me se haveria alguma figura publica, politico, jornalista que estaria na disposição de imolar-se pelo presidente do slb. Pois ontem logo tivemos algumas pessoas que, de livre vontade ou questionadas, comentaram (ou não, já lá vou...) esta nova investigação. O primeiro foi Pedro Adão e Silva. Excelente comentador politico mas que quando comenta a realidade do seu clube usa "palas". Ontem decidiu tirar as palas e fez como escreveu, e bem o meu caro Álamo uma monumental travagem e começou o seu artigo de opinião com um sugestivo titulo " Não vou ser como a toupeira ". Hoje somos brindados com o "provérbio da Boémia" de Bruno Prata que apesar de aqui e ali tentar relativizar alguns procedimentos e atitudes não deixa margem para segundas leituras. Gostava de ter visto o 1° ministro (AC) quando questionadoontem, ter tido a mesma coragem, porque dizer que "gosta do jogo dentro do campo" é vergonhoso. Eu gostava de perguntar ao AC o que julga, não é das polémicas recentes, ( também com jornalistas destes e a fazer perguntas destas...) a pergunta que eu lhe faria a ele ou a qualquer um aqui é: Se tivesse conhecimento que alguém (funcionário da justiça ou não) tivesse entrado no sistema informático da justiça para sacar informação relevante para alguém, e tivesse passado essa informação não a um clube de futebol mas a um barão da droga, a uma organização criminosa ou a um grupo terrorista se também respondia que do que gosta é do jogo dentro do campo. Este 1° ministro é uma vergonha.

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