sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Voluptuosamente, quase a seu bel-prazer!...


É SUPOSTO UM CLÁSSICO PROVOCAR… ENJOO?


«Não me quero iludir nem vos quero iludir. Foi uma desilusão e não consigo reprimir o meu ‘grito de revolta’. O Sporting-Porto, das meias-finais da Taça da Liga, com os dois treinadores, Jorge Jesus e Sérgio Conceição, a apostar em tese nas suas melhores formações, uma vez que estão ávidas de um troféu que lhes reduza a sensação de jejum, chegou a provocar… enjoo. 

Bem sabemos que estava muita coisa em jogo: não apenas o prestígio de sempre, a possibilidade de óptimo posicionamento para a possibilidade de se ganhar um troféu (facto muito importante, quer para Porto, quer para Sporting), mas também o primeiro de quatro ‘clássicos’ e a plataforma para a manutenção ou reconquista de um bom momento psicológico, tão importantes para as ‘aventuras’ que se seguem.

Quem gosta de futebol, e mesmo alcançando a crucialidade do objectivo, não pode ter gostado do Sporting-Porto. Foi um mau espectáculo. Quezilento, com um número inaceitável de faltas e paragens, com 95% de luta, empenho na conquista das primeiras e segundas bolas, e 5% de arte e criatividade. Os criativos, aliás, mal se viram, Gelson por manifesto condicionamento físico e clínico e Brahimi, por ter sido muitíssimo apertado.

Tivemos uma equipa que ainda tentou construir e realizar um futebol de cariz ofensivo — o Porto. Tivemos uma outra equipa que, acima de tudo, se empenhou na tarefa de anular os pontos fortes do seu adversário — o Sporting.
Em Braga, creio que assistimos, da parte dos ‘leões’ e de Jorge Jesus, ao reconhecimento de que o Porto ‘é´ mais forte. Foi por isso que o Sporting terá apostado numa estratégia claramente conservadora, investindo, com êxito, em todos os aspectos relacionados com a acção defensiva.

O Porto ‘jogou melhor’ (a defender e a atacar) e foi eliminado; o Sporting foi capaz a defender e acabou por ganhar, no desempate por pontapés de penálti, devido à competência de Rui Patrício, Bas Dost, Bruno Fernandes, Mathieu e Bryan Ruiz.

Dir-se-à que perceber de futebol é também entender a sua dimensão parcial, quando é preciso ‘destruir’ em vez de ‘construir’. De ‘anular’ em vez de ‘criar’. De reduzir os espaços em vez de alargá-los. Pois sim: construa-se o monumento da tacticidade e do bloqueio, mas por favor dêem-nos mais alguma coisa, nem que seja um um bocadinho de futebol corrido e a procura da ‘explosão’ e de um pouco de profundidade.

Escaldado com tempos recentes, o lema de Jorge Jesus para esta época parece ser ‘defender bem’ acima de tudo, mesmo que isso cause a estranha sensação de estarmos perante uma equipa reforçada mas ‘eternamente’ incompleta. É um futebol que alterna a sensação de segurança com a sensação de orfandade. A ‘caixa mágica’ do futebol ‘made in JJ’, que vimos muitas vezes no Benfica e que já observámos, pontualmente, em Alvalade, caracterizado pela valorização das explosões numa certa ‘ordem desordenada’, está a dar lugar a uma espécie de ‘caixa de betão’, contudo com as ‘infiltrações’ naturais de uma estrutura composta por humanos e não por parafusos.

Gosto de um jogo com trabalho táctico, porque gosto de tentar entender o que os treinadores preparam nos treinos e no contacto com os jogadores e é aliciante perceber, sobre o relvado, se os atletas são capazes de interpretar, ou não, aquilo que lhes é passado. Há uma margem, contudo, que os treinadores, por mais ‘ditatoriais’ que sejam, não são capazes de condicionar: o momento que só está ao alcance dos jogadores e é o seu ‘tesouro’. O remate no momento certo, a simulação, a ‘visão’ que mais ninguém lhes dá, a rebeldia que o ‘sistema’ às vezes condena. Foi isso que não se viu no ‘clássico’, em Braga.

Houve, por isso, talvez um excesso de carpinteirização técnico-táctica, entendida no laboratório dos cientistas da bola, os treinadores de bata branca, que preparam as suas ‘combustões’ com o esmero e a minúcia que os relojoeiros colocam na fabricação das suas máquinas do tempo.

O ‘trauma’ das lesões de Danilo (muito cedo) e de Gelson (ainda na cabina) não explicam toda aquela marcha entre fantasmas. Um clássico bloqueado até pode causar orgulho entre os bloqueadores. Entendo. Mas um jogo ‘sem avançados’, quase sem oportunidades de golo, a fazer a consagração do bloqueio, para mim não é futebol na sua dimensão total. E isso faz falta ao futebol cá da paródia, perdão, da paróquia. A outra parte da questão é saber se há génio(s). Isso dava, contudo, para outro artigo.
Espero que, hoje, na final, entre V. Setúbal e Sporting, sem abdicar da ordem, haja um pouco mais de liberdade. O adepto agradece.

JARDIM DAS ESTRELAS -Que impacto?…
O Benfica perde Krovinovic. O Sporting perde Gelson. O Porto perde Danilo. Os candidatos ao título perdem, numa penada, jogadores vitais para os seus sistemas tácticos. Krovinovic era a ‘pedra’ que cimentava o (novo) 4.3.3 de Rui Vitória. Danilo a ‘válvula de segurança’ de toda a organização de S. Conceição. Gelson, o principal e quase único agitador do futebol de Jorge Jesus. São três baixas importantíssimas, cujo impacto importa sopesar. Não há jogadores insubstituíveis é o chavão que, no futebol, se costuma utilizar, mas a verdade é que há uns mais substituíveis do que outros. E, neste momento, o tema é mesmo avaliar o que vai ser o Benfica, o Sporting e o Porto sem aquelas unidades. Quem vai sofrer mais? E há uma outra questão: jogadores no limite da condição física e clínica (podem ter sido os casos de Gelson e Danilo) devem ser utilizados ‘no limite’ pelos treinadores? Não é isso um sinal de que os planteis continuam a revelar lacunas importantes em certas posições ou características?…

O CACTO - Sarilho Soares
Não é apenas Fábio Coentrão que revela estar num momento especialmente ‘quente’, a revelar instabilidade emocional. Já o vimos a discutir com Jorge Jesus, a ser insultuoso para o árbitro Fábio Veríssimo e, agora, voltou a ser protagonista — e Marega também — no Sporting-FC Porto, outra vez sem tento na língua.
Soares também teve uma reacção intempestiva, quando foi substituído por Aboubakar, antes do minuto 70, no jogo com o Sporting. Pediu desculpa depois, mas o gesto e as ‘bocas’ ficaram, o que motivou a reacção imediata de Conceição. Soares nem sequer tem motivos para se insurgir contra o treinador. Na verdade, a sua surpreendente titularidade foi uma aposta (arriscada) de Conceição. Soares foi muito injusto e agora corre o risco de pagar um preço alto pela sua… falta de cabeça.»
(Rui Santos, Pressão Alta, in Record)

Uma crónica interessante para ler antes da final da Taça CTT, que todos esperamos não venha a ser a reedição nem cause o enjoo, da meia final Sporting-Porto...

A confirmar, ou não, as "lacunas importantes em certas posições ou características", num plantel que JJ tem construído... 

Voluptuosamente, quase a seu bel-prazer!...

Leoninamente,
Até á próxima

2 comentários:

  1. Há um aspecto do jogo que Rui Santos não aborda e que, para mim, acabou por ajudar ao festival defensivo: o arraial de sarrafada que o árbitro permitiu a alguns jogadores como forma de parar o adversário.
    Foram 50-60 paragens, mais as naturais por bolas fora. Como é possível jogar-se futebol nestas condições?
    Não são só as duas equipas que se defrontam a determinar o jogo: há uma outra equipa que mexe no e com o jogo. No caso deste, penso que se o árbitro tivesse obrigado a jogar à bola em vez de jogar ao homem, talvez nos tivesse poupado àquele mau espectáculo.

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  2. Mio caro Rui Santos,

    Nel calcio non hai avuto nausea .... vomitavas.

    SL

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