quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Felizmente ainda há pessoas sérias!...

 


A canção do bandido

«O Apito Dourado permanece um calcanhar de Aquiles de Pinto da Costa, do futebol e da justiça portuguesa.

O despique verbal entre o presidente do FC Porto e Frederico Varandas tem origem nesse processo que, quer se queira, quer não, permanece como uma fronteira entre o bem e o mal no mundo da bola.

Há os que acreditam no que, apesar de tudo, o Apito Dourado revelou sobre a podridão do futebol. E que, portanto, esse é o campo da decência. E os que preferem resguardar-se com a habitual verdade formal, que vai do adesivo da presunção de inocência ao outro da falta de condenação, ou desta transitada em julgado.

Pinto da Costa pode argumentar com a ausência de condenações mas ainda muita gente se lembra como tudo aconteceu. Basta evocar duas ou três coisas. Quando a operação policial avançou, Pinto da Costa foi alertado que era melhor ir passar um fim-de-semana a Espanha. Quando regressou para se apresentar em tribunal teve a escolta dos Super Dragões, a sua guarda pretoriana, numa das imagens mais sicilianas que a minha memória pode reter em cenas de crime cá pelo burgo. Quando a venda de Deco ao Barcelona esteve em risco, caso o jogador fosse suspenso seis meses por ter atirado as botas a um árbitro, o castigo ficou miraculosamente pelos três jogos. Quando a importância do caso subiu para a esfera da política, Pinto da Costa teve como companheiros de caminhada na destruição do caso distintos personagens do governo da época, da Polícia Judiciária e alguns juízes que fraquejam das pernas de cada vez que os dragões marcam um golo. Já nem vale a pena mexer muito nas influências que estiveram na origem, por exemplo, da anulação de alguns dos processos, em fase de instrução.

Não sei se um bandido será sempre um bandido, como disse Frederico Varandas, até porque os manuais por onde estudei direito penal defendiam o contrário, ou seja, a famosa ressocialização dos delinquentes. Mas sei que, para formar uma opinião sobre o que aconteceu no Apito Dourado, não preciso de ir ouvir as escutas nem de ouvir a canção do bandido sobre a presunção de inocência ou a falta de condenações. E também não preciso de ir ao futebol, de pertencer ou, tão só, frequentar o seu mundo, para perceber que Varandas, pessoa que não conheço, trava a luta certa contra uma claque. E que Pinto da Costa (ou Luís Filipe Vieira) nunca teria condições para fazer o mesmo e dar um exemplo de grande dignidade moral.»
(Eduardo Dâmaso, Futebol de Rua, in Record, hoje às 18:51)

No meio de toda esta banditagem que, no futebol e em tantas outras áreas de que nem a justiça portuguesa se livra, nos canta canções para adormecer... 

Felizmente ainda há pessoas sérias!...

Leoninamente,
Até à próxima

3 comentários:

  1. E inacreditavelmente o presidente do Porto incita as claques do Sporting e nada acontece, Varandas constata um facto e leva com processos. Eu acho que ja nem a palavra vergonha se aplica. O que podemos fazer contra Isto que se apelida de “justica”?

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  2. EM 2007, em Itália, primeiro reformou-se a justiça depois limpou-se a máfia do futebol: Juventus, Parma e Florentina desceram de divisão.
    Aqui não se passa nada! Agora as personagens tremem na Luz. País da América do Sul!

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  3. Agradecido ao grande jornalista E. Damaso, pela coragem e honra de dignificar a profissão.
    Mal andará qualquer País ou sociedade, onde o crime, a corrupção e a evasão fiscal (autêntica patologia crônica destruidora da Humanidade), não sejam incessante e tenazmente denunciada, perseguida e combatida pelas Polícias, pelos Tribunais, pela Justiça e Magistério.
    É o presente e o futuro, dos nossos, filhos, netos, familiares e amigos, que estão em causa, para evitar a anarquia e a irresponsabilidade que impedem a construção de uma sociedade mais justa e equilibrada.
    SL

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