segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Aguardemos que o "upgrade" JJ 1.2 esteja disponível!...


Jorge Jesus 1.2


«A amostra ainda é demasiado pequena e, no futebol, as teses definitivas podem ser desmentidas em apenas uma semana, mas fica-se cada vez mais com a sensação de que Jorge Jesus não está, em Alvalade, a tentar apenas fazer um decalque da fórmula que lhe valeu um relativo sucesso na Luz. Dirão os puristas que o modelo e o sistema são exatamente os mesmos e que a única coisa que variou foram as características dos jogadores.

Até pode ser verdade em boa parte, mas também há sinais claros de que o técnico do Sporting está finalmente a querer expurgar da sua ideia de jogo algumas imperfeições que a tornavam menos fiável. Todos nos lembramos do seu Benfica, que podia subir os decibéis como poucos, mas que em muitos momentos funcionava melhor quando recuperava a bola do que na elaboração do jogo. Mais do que com as pernas e a cabeça, jogava com o coração, sempre em alta voltagem e, demasiadas vezes, com duas velocidades acima do que pedia o jogo. O Sporting não parece ser tanto assim. Claro que não há uma distância polar entre as duas equipas, antes um upgrade no software que permite tornar a equipa mais equilibrada.

Nesta versão "Jesus 1.2" há, desde logo, uma preocupação: os alas jogam mais por dentro, não só no processo ofensivo, mas também quando chega a hora de reagir à perda da bola, o que ajuda nos equilíbrios de um sistema que oferece fartura ofensiva, mas também problemas complicados na ocupação dos espaços na hora de defender. Poder-se-á dizer que isso acontece em resultado das características e da cultura tática de Bryan Ruiz, mas nunca como agora se vira Carrillo e o próprio Mané com idênticas preocupações. Jesus trocou velocistas indomáveis nas alas, como fez nos tempos em que tinha à disposição Di María ou até Salvio, por versões multifacetadas e que, em diversos momentos, funcionam como médios-interiores.

Haverá quem contraponha que Carrillo e Mané estão hoje mais maduros taticamente, num processo que aconteceria inevitavelmente com qualquer outro treinador. Pode ser verdade em parte, mas mais difícil de rebater é a utilização de uma variante no desenho tático (4x2x3x1) que Jesus depreciou no passado e que acabou por utilizar de início na Rússia e na parte final do jogo com a Académica. Ou seja, Jesus admite finalmente, de forma implícita, que pode jogar de muitas maneiras diferentes, sem nunca perder a essência do seu modelo. É um grande avanço, principalmente para quem costuma teimar que o sistema é o princípio de tudo. Tivesse este upgrade surgido mais cedo e provavelmente não teria apenas no seu currículo uma passagem aos oitavos-de-final da Champions em seis tentativas…

Mas a obra está ainda inacabada, como não poderia deixar de ser. Não houve grandes sobressaltos ante uma esquelética Académica que fez um exercício de niilismo (no sentido da anarquia e da autodestruição) e que deve ser quem pior defende na Liga. Mas viu-se com o Paços que este Sporting ainda não resolveu uma maleita que custou ao Benfica de Jesus alguns dissabores, quando não era capaz de manejar os jogos do princípio ao fim. O falhanço na Champions aconteceu porque os árbitros erraram mais do que a conta (e refiro-me principalmente ao jogo em Alvalade) e porque Jesus não avaliou suficientemente o desgaste físico de vários jogadores, principalmente Aquilani e Ruiz, e guardou as substituições para um prolongamento que se revelou uma miragem (Einstein, que era um verdadeiro cérebro, dizia que uma pessoa inteligente resolve um problema, um sábio previne-o…).

De resto, Jesus não tem ainda quem seja o prolongamento do treinador em campo, como era Luisão no Benfica. Aquilani pode fazer esse papel, mas o italiano, que será decisivo em momentos importantes, vai provavelmente ser mais vezes suplente do que titular. E isso prejudica algumas afinações. A mais urgente é a má colocação da linha de fora-de-jogo, onde Naldo se tem revelado um peixe fora de água. Foi muito à conta disso que o Sporting sofreu três dos quatro golos marcados pelo CSKA. Mas o brasileiro deve ter entrado em Coimbra com as orelhas tão quentes que, nos 15 minutos iniciais, estava sempre com um olho em Paulo Oliveira, não fosse desalinhar um centímetro sequer…
(Bruno Prata, Ludopédio, in Record)

Embora em alguns pontos menos relevantes não concorde com a excelente crónica de Bruno Prata, não deixo de concordar com ele no entendimento de que a travessia da Segunda Circular terá determinado em Jorge Jesus um notório e sensível "upgrade"  na filosofia de jogo, que de forma convicta sempre o teremos visto defender. E quero crer que com esse novo patamar o grande beneficiado me parece ser o Sporting, embora entenda que estaremos ainda muito distantes de poder apreciar o resultado final, que naturalmente deverá levar quase outro tanto tempo a apurar.

Jorge Jesus parece ter adoptado em definitivo o pragmatismo que apenas a espaços e em circunstâncias muito especiais o vimos utilizar antes de chegar a Alvalade.

De qualquer modo, o jogo a que ontem assisti em Coimbra, mostrou uma equipa mais madura e consciente das suas capacidades, que nem as "peripécias arbitrais, conseguiram desmontar. E quando penso naquilo que será o Sporting de Jorge Jesus, quando conseguir que a equipa jogue 90 minutos como aquela empolgante primeira meia hora, não sei quantas equipas em Portugal lhe conseguirão resistir.

Aguardemos que o "upgrade" esteja disponível!...

Leoninamente,
Até à próxima

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