quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Jornalismo é isto, só isto e nada mais que isto!...


O BENFICA NUMA ENCRUZILHADA

«Mesmo jogando objectivamente pior que os seus rivais, muito pior nesta fase de arranque, o Benfica está mais do que a tempo de ser campeão em Portugal. A Liga é longa, a diferença pontual escassa, a resiliência da equipa conhecida e, assim sendo, tudo está em aberto. 
Enganam-se os que internamente atiram a toalha ao chão ou os que, vendo de fora, retiram já o Benfica da equação.

Mas que não haja ilusões quanto ao essencial.
Mesmo que ganhe internamente o Benfica falhou em toda a linha no planeamento da época, reforçou-se de forma errática e atabalhoada, a "estrutura" - outrora famosa - aparentou a solidez de um castelo de cartas e o treinador revelou pouca firmeza quando, com justiça pelo que tinha alcançado, dispunha de margem para conduzir o processo com autoridade. E podia tê-lo feito sem abdicar do tom conciliador que é apreciado por Luís Filipe Vieira e sem descurar o talento produzido dentro de casa. O que temos, aliás, de novo na equipa é o lançamento de três jogadores dois deles literalmente criados na Academia do Seixal.

O que se passa na Europa é pior. Vejo os mesmos responsáveis e os 

ventríloquos contentes, contentinhos, porque deram boas indicações e, num jogo de tudo ou nada, complicaram a vida ao Manchester United. Na verdade perderam. Mourinho, que é sempre pragmático, nos dois jogos com o Benfica foi ainda mais: fartos elogios públicos, providencial cinismo "privado". Jogou só o que precisava de jogar para ganhar. Não será isto evidente? Agora ainda se fazem contas, quem sabe se matematicamente a Champions ou talvez a Liga Europa. O dinheiro vai fazer falta, mas falhar um ano pode acontecer.

Mais grave que o momento - uma das frases feitas do futebol é que não se pode ganhar sempre - é o contexto actual do Benfica. Por certo é necessário prudência na análise e deve ser evitado qualquer julgamento na praça pública. Como sei o que isso é trata-se de um comportamento que não tenho. Mas não ignoro os indícios conhecidos ou não deixo de ter opinião sobre alguns silêncios que falam por si. 

Os indícios são fortes, a investigação é sobre temas muito sensíveis como as nomeações e a classificação dos árbitro e, no limite, o Benfica pode arriscar uma pena de descida de divisão. 
Vale a pena pensar que situações semelhantes (não iguais, mas semelhantes) já sucederam noutros países.

E em geral, não sobre este caso, devemos ter em conta que a Justiça tem hoje um padrão de comportamento diferente, na fase de investigação e na fase de Julgamento, até pela pressão social. Há muitos exemplos.

A ALIANÇA PORTO-SPORTING

Pinto da Costa não fala sobre o tema, mas deu um sinal poderoso: a presença na Tribuna de Alvalade; Bruno de Carvalho sem ser acintoso (e ele é muito capaz de o ser) deu um sinal claro que a aliança FC Porto-Sporting pode ser um tema incómodo. Desvalorizar publicamente uma aliança, que é sobretudo uma aliança anti-Benfica, é lógico do ponto de vista da comunicação, mas não muda o essencial. Os dois clubes têm estado alinhados e têm vantagem em estar alinhados, agora ainda mais com o Benfica debaixo de uma enorme pressão da justiça com a exposição mediática que daí decorre.

Bruno de Carvalho que conhece a história sabe, no entanto, que o Sporting sempre foi instrumental na longa guerra Porto-Benfica. Em nome da emancipação leonina é necessário mudar a correlação de forças. Mudar mesmo. Não chega anunciar a inexistência de uma aliança. É bom que o Sporting tendo boas relações institucionais (e deveria ter com todos) corra em pista própria.»
(Nuno Santos, Ângulo Inverso, in Record)


Importante, muito importante e um excelente motivo de reflexão para todos os sportinguistas, mas mesmo todos os sportinguistas, presidente incluído, esta muito bem construída crónica de Nuno Santos, como aliás há muito nos habituou.

Este excelente jornalista, sem jamais esconder os seus afectos clubísticos, não precisa de falsear a verdade ou descer a níveis incompatíveis com a civilidade e elegância próprios de gente de bem, para afirmar a sua competência e capacidade de análise em todas as abordagens sobre os temas mais escaldantes do futebol da nossa terra.

Jornalismo é isto, só isto e nada mais que isto!...

Leoninamente,
Até à próxima

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