Estou preocupado. Muito preocupado!...

Carvalhal: o não tóxico

«Na semana em que terminou a Liga e se falou tanto de toxicidade só podia escrever sobre alguém que é todo o contrário das más-energias, da lama, dos exércitos do nojo comandados pela comunicação oficial dos clubes e que repugnam todas as pessoas de bem. Sérgio Conceição foi o rei, João Pedro Sousa e Vitor Oliveira merecem uma vénia, mas Carlos Carvalhal pelos resultados obtidos, pelo futebol positivo e de ataque, pelo discurso simples e empático, por no momento certo se ter revoltado contra a "pornochachada" das arbitragens merece a coroa para o homem mais não tóxico do futebol português.

O regresso a casa traz-lhe obrigações num ano em que três clubes (dois com entrada directa) têm direito ao Euromilhões da Champions. Em terras de Sua Majestade disse que "queremos lagosta mas só temos dinheiro para sardinha". Ora, em Braga, com a estabilidade de uma estrutura competente e com 70 milhões a receber por Ruben Amorim,Trincão e Paulinho, tenho a convicção de que António Salvador lhe vai dar várias sapateiras para o plantel, ao qual o seu director de activos e scouting, Paulo Menezes, no silêncio que eu conheço há quase 30 anos e onde gosta de se mover ajudará com o seu conhecimento do mercado. Porque Salvador quer repetir a classificação desta época e conquistar esse Visto Gold para onde andam os tubarões. Pois se isso acontecesse, e o Sporting não atingisse o pódium, era a convulsão completa e a gangrena dos leões.

Salvador não é uma personagem popular, porém, Carvalhal até tem essa valência que o ajudará: a de congregar simpatias. Poucos são os que não gostam dele, do seu bom humor, da sua proposta arrojada, do jogar "cara a cara" em qualquer campo como o fez em Vila do Conde e promete para Braga. Água na boca para o que aí vem para os seus adeptos.e sobretudo o respeito de quem ama o desporto-rei. Em "Os Sete Pilares da Sabedoria", de T.E. Lawrence, lá vem escrito que "todos os homens sonham mas não da mesma maneira". Carlos Carvalhal vai continuar a cumprir o seu sonho de um futebol bonito, limpo, espectacular, feliz. O céu é o limite.

PS: No Sporting, o momento só me recorda o mantra de uma das maiores obras da literatura de língua portuguesa: "O diabo na rua, no meio do redemoinho", de Guimarães Rosa, no livro "Grande Sertão: Veredas". São tempos iguais aos do fim de Godinho Lopes. Descontentamento total, nenhum sinal de esperança, dúvidas abissais sobre o planeamento da próxima época e Porro, Adán, Feddal, Antunes não ajudam nada nem convencem ninguém. Varandas sabia para onde vinha e apregoou soluções e futebol "fácil, fácil". Zenha, logo no início do mandato, revelou que não havia buraco financeiro nenhum. Portanto, são muito fracas e pobres as lamúrias sobre o passado para justificar a catástrofe da última temporada da total responsabilidade do jovem presidente. Foi um fracasso, ponto. Não tem margem de erro. E os seus cartilheiros que não peçam paz para quem não conseguiu unir e provocou a guerra.»

(Rui Calafate, Factor Racional, in Record, hoje às 17:58)

Não serei eu a contestar a 'homenagem' que Rui Calafate, no seu Factor Racional, terá decidido hoje prestar a Carlos Carvalhal. Embora não seja capaz de associar apenas virtudes à personalidade do excelente técnico que o Braga acaba de contratar, estarei de acordo com o articulista no epicentro da seu texto: Carvalhal, felizmente, para ele e para todos nós, não é tóxico!...

Mas o que me importa, aqui e agora, será manifestar a minha completa concordância com tudo aquilo que entendeu adendar em "post scriptum", sobre este Sporting que, desgraçadamente e pelos piores motivos, vai alimentando a retorta onde é destilada a má língua de uma comunicação social adversa!...

Uma pena que, por acção - repetindo os tremendos erros do passado - ou omissão - sem aviso e sem coragem para fazer o que deveria estar a fazer -, comece a ser comparado a Godinho Lopes!...

Estou preocupado. Muito preocupado!...

Leoninamente,

Até á próxima

P.S. - Rui Calafate não terá sido explícito. Nem a sua inteligência e vasta experiência profissional lho permitiriam. Mas lá que disse o suficiente, tenho a certeza de que disse! Assim Varandas o soubesse, ou quisesse, ou... pudesse entender... 
Quem sabe se ainda não iria a tempo?!...