O crime alemão de Vieira
«O crime que pode vir a ser imputado a Luís Filipe Vieira no processo do juiz Rui Rangel, recebimento indevido de vantagem, nasceu na Alemanha por causa do Campeonato do Mundo de 2006. A empresa ENBW, patrocinadora do Mundial, recebeu catorze mil vales de entrada para os jogos que transformou em prendas para os camarotes dos estádios de Berlim e Estugarda.
O busílis da questão esteve no facto de algumas dessas prendas terem sido dadas a 36 políticos, entre os quais o primeiro-ministro, cinco ministros do estado de Baden-Wurttemberg e o secretário de estado que tinha a cargo dossiês muito importantes para a política comercial da empresa patrocinadora.
Registaram-se algumas demissões mas o caso produziu, essencialmente, um célebre acórdão do 1º Senado do Supremo Tribunal Federal, de 14 de Outubro de 2008, que veio a ter uma enorme influência na construção deste ilícito nas legislações penais europeias, substituindo o velho crime da chamada corrupção para acto lícito.
Em Portugal, a questão discutiu-se pela primeira vez em sede do célebre processo judicial aos secretários de Estado que foram convidados para ir a Paris ver os jogos do Europeu que Portugal ganhou. Olhando para o resultado desse processo, podemos adivinhar, neste caso, o que aí vem em relação a Vieira, ou seja, praticamente nada no plano judicial. Outra coisa será a questão ética.
Não será este processo, porventura, a fazer cair Vieira, mas ele é muito eloquente no que mostra sobre as relações que se constroem à volta de um grande clube e como elas são muito úteis aos seus presidentes e dirigentes. Sem o Benfica, Vieira fica muito mais pobre e vulnerável. Com o Benfica, Vieira tem um indiscutível poder na sociedade e na imensa teia de promiscuidades que se forma quando se pode conviver com juízes, polícias ou qualquer outro representante do Estado nos camarotes e nos corredores de um grande estádio e de um grande clube. Um poder que raramente tem uma projecção social de utilidade colectiva e que é, tão só, um instrumento de benefício do próprio.
Se a este poder de influência somarmos a repugnante cumplicidade com um bando de criminosos que se autodenominam claques, como acontece também no FCPorto e aconteceu no Sporting até há pouco tempo, onde está a imprescindível dimensão ética destes dirigentes que lideram instituições centenárias como os principais clubes portugueses!?»
(Eduardo Dâmaso, director da Sábado, Futebol de Rua, in Record hoje às 18:53)
Quanta protecção garante aquele estupor de guarda-chuva vermelho!...
No dia em que o vento, 'acidentalmente', lho levar, como aconteceu a 16 de Fevereiro de 2001 a um seu antecessor, então as contas serão outras. Mas até que isso eventualmente possa vir a acontecer, será sempre, parafraseando o New York Times e para vergonha dos responsáveis políticos e judiciais deste pântano...
"Um estado dentro de outro estado"!...
Leoninamente,
Até à próxima
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