quinta-feira, 16 de abril de 2020

Não será 'água benta' a mais?!...


O patriotismo do senhor doutor Rui Rio
A carta autocongratulatória de Rui Rio, na qual passa a si próprio um atestado de comportamento exemplar, ultrapassa os limites do ridículo.

«Rui Rio escreveu uma carta aos militantes do PSD, que foi divulgada pela Rádio Renascença. Nela, o líder social-democrata declara que no contexto da actual pandemia todos temos de estar “unidos e solidários”, e para isso é necessário resistir “à tentação de agravar os ataques aos governos em funções” e abdicar de nos aproveitarmos das “fragilidades políticas que a gestão de uma tão complexa realidade sempre acarreta”. Alinhar em malvadas críticas não seria, no seu entender, “uma postura eticamente correta”, e muito menos “uma posição patriótica”. O que o povo quer (“e bem!”, diz Rui Rio) é “eliminar o vírus o mais depressa possível” sem qualquer espécie de “instabilidade política”.

O ideal, caro leitor, seria ler de novo o primeiro parágrafo, mas ao som do Hino Nacional. Experimente. Sentiu-se bem? Está pronto para se fechar em casa rapidamente e em força? Ficou com muita vontade de tatuar no braço esquerdo “Portugal 16-3-2020”? Pois é: vejam o que dá a parvoíce de classificar o combate à pandemia do coronavírus como “uma guerra”. Rui Rio convenceu-se de que somos a Holanda em 1940. Certo dia acordámos com uma blitzkrieg viral e tivemos todos de dar as mãos (enfim, dar as mãos talvez não seja boa ideia) em sinal de solidariedade patriótica, e sufocar quaisquer opiniões divergentes sobre o que nos está a acontecer. Tudo aquilo que não for unanimidade aproxima-se perigosamente da traição à pátria. E a esta monomania Rui Rio dá o nome de "sentido de Estado e responsabilidade". Já eu, que sou muito pouco dado a patriotismos bacocos, prefiro chamar-lhe falta de cultura liberal e deficiente entendimento do papel do debate democrático num país livre.

Convém notar que ao longo de toda a sua carta Rui Rio classifica a ideia de discordar do governo como um sinónimo de instabilidade política e de falta de patriotismo. Ele utiliza mesmo a expressão “ataques” ao governo – como se qualquer crítica, por mais fundamentada que fosse, estivesse condenada a ser um “ataque”. Estranho conceito de política. Nas primeiras duas semanas de confinamento, quando ainda estávamos a assimilar o que acabava de acontecer, percebo que Rio e o PSD se mantivessem solidários e caladinhos. Mas agora? Em meados de Abril? Quando estamos há um mês fechados em casa, a primeira vaga da epidemia está controlada e a prioridade tem de ser a salvação da economia – mesmo assim, o PSD continua a não ter nada de diferente para dizer e nada diferente a propor? É caso para perguntar: para que é que serve, então?

Já sei, serve para chumbar em bloco todas as propostas para enfrentar a crise apresentadas pela oposição. Aconteceu na semana passada. Objectivo: evitar – e cito – o “folclore parlamentar”. Sendo que o PSD, após chumbar o “folclore”, foi apresentar propostas iguais às que chumbou sobre os apoios aos sócios-gerentes. Pelos vistos, a “atitude de cooperação” de que Rui Rio tanto se orgulha é um exclusivo de António Costa. Eu já estou farto de escrever sobre a maldita unanimidade que esta crise insiste em cultivar, como se o confronto de ideias fosse inútil num momento em que estamos rodeados de incertezas e de possibilidades quanto aos caminhos a seguir. Mas, de facto, a carta autocongratulatória de Rui Rio, na qual passa a si próprio um atestado de comportamento exemplar, ultrapassa os limites do ridículo. Rio não é desprovido de qualidades, mas há sempre nele um cheirinho a alto quadro da União Nacional que nenhum álcool consegue remover.»


Pronto, desta vez a 'roleta' lançada por João Miguel Tavares parou na 'cadeira negra' ocupada por Rui Rio, para gáudio de quantos ocupavam, de facto, por interesse ou circunstância, as 'cadeiras vermelhas'! E serão tantos, que nós bem os vemos por aí, em tudo o que é 'casino'!...

Estranha, esta 'estranha roleta liberal' do cronista! Quase que lhe encontro semelhanças  com uma outra 'roleta', usada pela 'pestana' de Garcia Pereira, que nada terá de 'estranha', bem pelo contrário e que em tese defenderá, bem na linha de "outro grande educador": "é preciso destruir tudo, para depois voltar a tudo construir"!...

De presunção nem me atreveria a falar, mas...

Não será 'água benta' a mais?!...

Leoninamente,
Até á próxima

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