sábado, 25 de abril de 2020

Algo bem pior que este 'danado vírus!...


Infecções a menos podem ser um problema
Aquilo que mais me agrada na estratégia adoptada pelos suecos é precisamente aquilo que mais me assusta em Portugal – que tenhamos exagerado no distanciamento social nesta primeira fase, e que o preço do medo que se instalou nos obrigue a pagar no futuro, com juros, o sucesso que estamos a ter no presente.

«Quando se deixa o coronavírus à solta e se reage demasiado tarde, acontece o que já todos vimos acontecer em Espanha ou no norte de Itália – a contaminação dispara, os doentes acumulam-se nos cuidados intensivos e o sistema nacional de saúde entra em colapso. Mas quando um país inteiro se fecha em casa e as contaminações quase desaparecem, graças à eficácia das medidas de contenção, as consequências no curto prazo são bastante boas (aconteceu em Portugal), mas é perfeitamente possível que no médio prazo sejam bastante más: a imunidade de grupo atrasa-se, a esmagadora maioria da população continua sem contactar com o vírus e a probabilidade de chegarmos ao Inverno e sermos obrigados a voltar outra vez para casa é assustadoramente alta.

Infecções a mais são uma desgraça. Infecções a menos são um problema. E manter as infecções no nível certo é uma tarefa ciclópica, até pelo facto de as consequências das medidas que são agora tomadas só virem a ser conhecidas duas semanas mais tarde. Alterações mínimas, de meras décimas, no chamado R0 (o número médio de contágios causados por cada pessoa infectada) provocam alterações gigantescas, de dezenas de milhares de infecções, na população de um país. É um trabalho que não se deseja a ninguém.

Ainda assim, não há qualquer alternativa ao levantamento da quarentena. É preciso reabrir e ver como é que corre, assumindo corajosamente que vamos entrar numa dança perigosa com o vírus. É arriscado? Sim. Mas é também inevitável, sobretudo quando a taxa de letalidade da covid-19 permanece desconhecida. Já a taxa de letalidade da economia, não. Esqueçam os lay-offs e os cortes nos salários – estamos a falar de milhões e milhões de pessoas acabarem sem nada. Todos os dias vemos passar à frente dos olhos notícias de países com colapsos do PIB de duas casas decimais. O planeta é hoje um novelo de fios invisíveis. O encerramento das lojas de roupa na Europa irá em breve provocar fome na Ásia. Consta por aí que o capitalismo é horrível – a não ser quando ele deixa de funcionar, como se está a ver. Quantos anos iremos nós regredir após a pandemia da covid-19?


Nunca saberemos ao certo como dosear de forma perfeita a distensão e a contracção das medidas de confinamento, e não acho sequer que isso possa ser exigido às autoridades de saúde e a quem nos governa. Mas a pressão social não deve ir no sentido de continuarmos todos em posição fetal no sofá da sala, mas sim na busca da máxima abertura em função da capacidade hospitalar disponível. Há que reforçar essa capacidade e aproveitá-la bem. Níveis demasiados baixos de ocupação dos chamados “covidários” são excelentes na perspectiva de quem considera a saúde o bem supremo, mas, por mais insensível que isto possa parecer, não o são necessariamente na perspectiva do país. E não o são, com certeza, se tais níveis de ocupação forem apenas sinónimo de um contacto demasiado baixo com o vírus por parte da população activa.

Não há vacina, não se sabe quando haverá, e não podemos contar com ela para decidir o que fazer nos próximos meses. Mais tarde ou mais cedo, temos de supor que a maior parte de nós terá mesmo de contactar com o vírus. Aquilo que mais me agrada na estratégia dos suecos é precisamente aquilo que mais me assusta em Portugal – que tenhamos exagerado no distanciamento social nesta primeira fase, e que o preço do medo que se instalou nos obrigue a pagar no futuro, com juros, o sucesso que estamos a ter no presente.»
(João Miguel Tavares, Opinião Coronavírus, in Público, hoje às 00:50)


Acabada a leitura desta nova crónica de João Miguel Tavares, tendencialmente polémica como costuma ser seu timbre, dei-me ao trabalho de construir um quadro comparativo, entre os países cujos resultados alcançados na luta contra a covid-19 entendi como mais significativos, puxando naturalmente 'a brasa para a minha sardinha europeia'. Deixo-o aqui:



Face a todos estes números, torna-se-me demasiado difícil alinhar com JMT no 'fetiche'  em que a estratégia sueca parece envolvê-lo: a ciência ainda se debate com inúmeras reservas sobre a pretensa 'imunidade de grupo' que terá estado nas cogitações dos políticos suecos, os números de infectados e mortos apontam claramente em sentido contrário e sobre a economia do país a oposição sueca, ao que se vai sabendo, terá uma posição diametralmente oposta, defendendo que afinal e ao que parece, como costuma dizer o nosso sábio povo," não estará a dar a mecha para o sebo"!...

Posto isso, se quisermos encontrar exemplos melhores, certamente que a Áustria, a Rússia e, obviamente Portugal, estarão mais facilmente entre os candidatos, todos eles em posição muito mais favorável que a Suécia. No caso particular de Portugal, cuja estratégia tanto assustará o cronista, para a mesma população, apresenta afinal quase mais cinco mil infectados - com eventual maior imunidade de grupo!-, sendo que a mortalidade será quase três vezes inferior...

Quando, mais tarde ou mais cedo, os povos se conseguirem libertar das grilhetas desta 'terrível besta', decerto que não deixarão de aparecer os que adoram fazer prognósticos no final do jogo, com o chavão do costume: "em bem que avisei"!...

Andar agora com as algemas no bolso, pronto para prender quem nos vai governando, tenha ou não tenha cão e pretender ter "Sol na eira e chuva no nabal", será...

Algo bem pior que este 'danado vírus!...

Leoninamente,
Até à próxima

5 comentários:

  1. Há aí valores que não devem ser credíveis...
    Por exemplo...:
    India com 24942 e 780 mortos

    Portugal com 22797 e 880 mortos...

    Na Índia deve haver cá um serviço de saúde e um "brilhante " confinamento...que até dá pena...!

    Eu até nem sei se em Portugal os números são fiáveis...

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    1. Haverá na verdade países em que os números também me fazem cócegas! Não em Portugal. Poderá haver aqui e acolá pequenos pormenores que não correspondam à verdade, admito. Mas tenha uma grande confiança em toda esta gente do nosso SNS!...
      Não sei o que seria de nós se em boa hora António Arnaut não tivesse avançado para uma das melhores obras dos portugueses!...
      Orgulho e gratidão é o que sinto por toda essa gente, médicos, enfermeiros, técnicos, auxiliares!...

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  2. O meu medo em relação a Portugal...
    É que depois "desta aparente vitória" sobre o vírus...
    As pessoas se convençam com a "abertura das restrições", que o pior está ultrapassado...
    E "tenhamos para aí uma 2ª vaga" que seja uma verdadeira catástrofe...

    Eu vejo as pessoas no supermercado em maioria sem máscaras e sem luvas...como se o problema não existisse...

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    1. Concordo com o amigo Max. Também eu vejo coisas que me incomodam! Há gente que pensa que o que nos está a acontecer é qualquer coisa parecida com a 'asiática' da nossa juventude! Loucos! Isto agora é sério e se queremos vencer, teremos de ter muito juizinho...

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    2. De João Correia 25/04 2o2o 22h40
      Vejo determinados comportamentos que me deixam muito preocupado. Cada vez mais carros e gente nas ruas. Pessoas sentadas em bancos de jardim, gente nos supermercados sem máscara e luvas, e andam nos corredores parece que andam a passear na avenida. É preocupante, porque se o país tem uma segunda vaga do vírus, não sei se os serviços de saúde vão ter capacidade de resposta. Tudo está nas mãos de todos nós. A situação continua a ser grave. Para todos os profissionais de saúde, forças de segurança. INEM, bombeiros o meu apreço e respeito. Bem hajam a todos neste combate gigante. Saúde para todos.

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