Não, não é uma gripe. E não, não é o fim do mundo
Estou convicto de que a decisão de decidir na primeira metade de Abril manter as escolas encerradas até Setembro justifica-se mais pelo pânico do que pela ciência.
«É cada vez mais provável que a pandemia da covid-19 fique a meio caminho entre um vírus brutalmente letal, que nos obrigaria a ficar fechados em casa durante meses a fio, e um vírus relativamente vulgar, cujos efeitos na saúde pública não divergiriam muito de uma gripe sazonal violenta. A covid-19 não é uma coisa nem outra, e isso é em si mesmo um desafio. O facto de o ser humano ser melhor a lidar com pretos e brancos do que com zonas cinzentas faz com que um vírus que aterra a meio da ponte entre a irrelevância e o caos tenha tudo para potenciar os erros políticos e complicar o debate público. Como já está a acontecer.
Para não multiplicarmos as asneiras, talvez a primeira coisa que cada um de nós deva fazer é começar por recusar os dois extremos do problema. Embora seja impossível conhecer a taxa de letalidade da covid-19, por ignorarmos a percentagem de população infectada, parece-me muito pouco inteligente insistir na comparação da covid-19 com a gripe. Isso é diariamente desmentido pelos médicos e enfermeiros que estão na primeira linha. É verdade que ainda não sabemos quanto é que a doença mata, mas já todos vimos como mata, e o poder da pandemia na destruição de qualquer sistema de saúde que não esteja preparado para a enfrentar. Portanto, neste momento, estou convencido que no dia 13 de Março António Costa tomou a decisão certa ao decretar a quarentena: precisávamos de ganhar tempo, travar a curva exponencial e fortalecer os meios do SNS. Até pode ser que venhamos a duvidar, no futuro, da eficácia da quarentena (não creio, sinceramente), mas naquela altura, até pelo alarme social instalado, não havia outra coisa a fazer.
Dito isto, é importante olhar também para o outro extremo – o extremo, com bastantes mais adeptos, do Portugal assustado, com salário assegurado e bolsos aforrados (estou mesmo convencido de que é isso que define, em primeiro lugar, o posicionamento de cada um face a esta crise), que acredita que ficar em casa é a única coisa racional a fazer. Esta posição, em meados de Abril de 2020, com a actual taxa de progressão da doença, é tão absurda quanto a tese da equivalência à gripe. E o facto de António Costa ter sido muito rápido a decretar a quarentena, mas estar a ser muito lento a redefinir as condições da reabertura progressiva da actividade económica, deixa-me preocupado quanto à capacidade do governo em equilibrar o combate ao vírus com o combate à devastação económica. O perigo da covid-19 e os números que Portugal apresenta diariamente (até já Marcelo veio falar do "milagre português") não justificam que continuemos a sacrificar 6,5% do PIB a cada 30 dias de lockdown. O país gasta cerca de 9% do PIB em cuidados de saúde. Um mês e meio de confinamento custa a Portugal o equivalente a todo o orçamento anual do SNS.
Mesmo em países que reagiram com atraso à covid-19, como é o caso dos Estados Unidos, as previsões estão a ser corrigidas e o número de mortos ficará longe das catástrofes anunciadas. Dizer isto não é desvalorizar o perigo da covid-19 – é apenas sublinhar que temos de aprender a viver com a doença, e mais vale ganhar agora o tempo de que poderemos precisar no Inverno. Estou convicto de que a decisão de decidir na primeira metade de Abril manter as escolas encerradas até Setembro justifica-se mais pelo pânico do que pela ciência. Andamos a confundir a prudência com o medo, e nunca foi tão importante distinguir uma coisa da outra.»
(João Miguel Tavares, Opinião Coronavírus, in Público, hoje, às 06:14)
Ainda que me inclua sem grande dificuldade mas confessados pruridos no lote que "andará a confundir prudência com medo", começo a reconhecer algum sentido, alicerce e coerência na tese há já algum tempo defendida por JMT.
(João Miguel Tavares, Opinião Coronavírus, in Público, hoje, às 06:14)
Ainda que me inclua sem grande dificuldade mas confessados pruridos no lote que "andará a confundir prudência com medo", começo a reconhecer algum sentido, alicerce e coerência na tese há já algum tempo defendida por JMT.
De facto já será tempo de começarmos a assumir a coragem de "aprender a viver com a doença" e partirmos em busca da recuperação do tempo e da saúde económica que, com muito custo e dor e algum medo também, nos vimos forçados a deixar escorregar por entre os dedos como areia seca...
Quase juraria que António Costa sentirá o mesmo!...
Leoninamente,
Até à próxima
Quase juraria que António Costa sentirá o mesmo!...
Leoninamente,
Até à próxima
Todos estamos a aprender com a doença. Dia a dia.
ResponderEliminarDifícil prever o amanha. Se se soubesse há 2 meses o que se sabe hoje, acredito que teriam sido tomadas decisões com outros "pesos e medidas".