À mesa de quem o faz acontecer!...

Perder a alma; manter o corpo

«Qualquer verdadeiro apaixonado pelo futebol – pela competição, não pela indústria – não tem dúvidas de uma coisa: portas fechadas é a perfeita antítese daquilo que tornou este jogo no desporto das massas. Sem adeptos a emoção esvai-se, o eco dos estádios é ensurdecedor, o ambiente fica mais triste. Sem adeptos, o futebol perde a alma.

Neste ponto específico, estamos todos de acordo. Mas esta pandemia traz-nos desafios e obstáculos difíceis de explicar à luz do que era ideal. Enquanto não houver uma forma eficaz e segura de travar a marcha do vírus (e só com a vacina é que isso acontecerá), teremos de, em várias situações das nossas vidas, deixar de pensar no ‘ideal’ e abraçar aquilo que é ‘possível’.

A vida do futebol em Portugal está intimamente ligada ao dinheiro das televisões. Sem ele, há emblemas (muitos, infelizmente) que não sobreviverão. Aliás, há alguns que, mesmo com estes milhões, já nem pagam os salários, por isso... podemos deduzir o resto. Portanto, e sem colocarmos em causa a saúde dos jogadores e restantes elementos das comitivas, terá de ser encontrada uma forma segura de prosseguirmos com o futebol. No fundo, de prosseguirmos com as nossas vidas.

Teremos jogos à porta fechada até data indefinida. E este cenário, caro leitor, é o menos mau de todos. Imagine ficar sem desporto até finais de 2021, altura em que se prevê que já possa haver uma vacina. São poucas as empresas no mundo que aguentariam estar ano e meio sem actividade. No futebol português, não há nenhuma. Venha de lá esse futebol sem adeptos. Mais um dia, menos um dia. É assim que teremos de pensar nos próximos tempos.»

(Alexandre Carvalho, Na Gaveta, in Record, hoje às 21:34)

Todos teremos de reconhecer que "esta pandemia 'nos trouxe' desafios e obstáculos difíceis de explicar à luz do que 'seria' ideal". Eu próprio terei de confessar ter sido obrigado a mudar a tese que cheguei a defender, já lá vai mais de um mês, de que a salvaguarda da vida humana jamais poderia ser questionada, na resolução de um tão intrincado sistema de equações com tantas e quase indecifráveis incógnitas. Hoje, se alargado o horizonte, todos os que eventualmente  pudessem pensar o mesmo que eu, serão forçados a reconhecer que a "salvaguarda da vida humana" terá, ela própria, também e fundamentalmente, de passar pelo pão. E por muito que nos custe tal reconhecer, haverá muita gente  que vive, ou sobrevive no futebol, a quem começa a faltar o pão! Há muita vida para além de uma bola de futebol, que terá de ser salvaguarda!...

A minha modesta homenagem a este oportuno e assertivo texto de Alexandre Carvalho: "venha de lá esse futebol sem adeptos", para que o pão nunca falte...

À mesa de quem o faz acontecer!...

Leoninamente,

Até à próxima