terça-feira, 14 de abril de 2020

Comida de "farta-brutos"!...


Há demasiada unanimidade no ar. E isso é péssimo

«O primeiro-ministro e o ministro da Educação apresentaram no final da semana passada  as medidas para o futuro deste ano lectivo, cuja consequência é esta: um milhão de miúdos metidos em casa até Setembro, mais outros tantos pais a cuidar deles e a estudar ao seu lado. Todos estão condenados a penar mais uma dezena de semanas em ambiente de aprendizagem digital, que não passa de homeopatia educativa (sobretudo para quem está no ensino básico), auxiliados agora por um provecto canal de telescola, cuja grelha esteve várias décadas congelada, tal como o Capitão América, até ser descoberta pelos génios da 5 de Outubro.

Perante isto, qual foi a reacção do país? Pois bem: aplauso generalizado. O Governo foi louvado pela sua prudência, pelo seu bom senso e pela sua magnífica sabedoria. É curioso que as mesmas pessoas que ainda há duas semanas estavam contra o estabelecimento de quaisquer datas para a reabertura do país, porque os dados científicos não o permitiam, achem agora que existem dados científicos que sustentam a absoluta impossibilidade de os miúdos voltarem às aulas na segunda metade de Maio ou no início de Junho. Pergunto: há mesmo? Ou a única coisa que o Governo está a fazer neste momento é responder a um pânico social desproporcionado e àquilo que antecipa ser a recusa dos professores em regressar às escolas sem as devidas garantias de segurança?

Expliquem-me devagarinho, como se eu fosse muito burro: 1) se o crescimento diário das infecções com coronavírus estabilizou abaixo dos 5%; 2) se as medidas de contenção já revelaram a sua eficácia; 3) se tudo indica que se tenha atingido o planalto da epidemia; 4) se a nossa capacidade hospitalar ainda está longe do limite; 5) se há mais meios a caminho (nomeadamente ventiladores) para reforçar essa capacidade; 6) se o número de pessoas internadas nos cuidados intensivos tem vindo a diminuir; 7) se só vai existir vacina daqui a pelo menos um ano; 8) se a população aos poucos precisa de ganhar imunidade; 9) se a população activa terá em breve de sair de casa; 10) se os coronavírus tendem a recuar nos meses de Verão para depois regressarem no Inverno; 11) se a prioridade deve ser a economia, porque a saúde parece controlada; 12) se já todos percebemos que vamos ter de aprender a viver com isto – se esta dúzia de factos está agora bem à frente dos nossos olhos, expliquem-me, por favor, qual é exactamente a razão para o Governo nos dizer que só o 11.º e o 12.º anos é que podem regressar às aulas antes de Setembro, e nem sequer isso está assegurado?

Sinceramente, não percebo. Mas, mais do que não perceber, aquilo que me está a irritar sobremaneira é a unanimidade instalada. Com a ilustre excepção de meia-dúzia de teimosos que levam pancada com fartura, vejo demasiada gente a abanar a cabeça em sinal de reverente obediência a decisões que não justificam este grau de consenso. Que mais não seja, haveria certamente outras opções para escolas e alunos que mereciam um debate que não existiu. Por que não olhar para os números de infecções no início de Maio? Por que não prolongar as aulas até ao final de Julho? Por que não ganhar nos meses de Verão aquilo que podemos vir a precisar, em novas quarentenas, nos meses de Inverno? Onde quase todos vêem prudência, eu vejo falta de ambição – e, sobretudo, um enorme défice de discussão e de confronto de ideias alternativas. Se toda a unanimidade é burra, mais umas semanas como estas e acabamos a zurrar.»
(João Miguel Tavares, Opinião Coronavírus, in Público, hoje às 06:10)

Quem acompanha a sua fulgurante carreira jornalística e social, presumirá como eu, que João Miguel Tavares será um excepcional cozinheiro, embora como tantos "chefs" exímios, tenha as suas "virtuosas pancas"!...

Ainda não passou tanto tempo assim desde que eu por aqui deixei os meus reparos à sua incontida propensão para carregar no vinagre das 'saladas'. Agora, nesta sua nova crónica, se bem que eivada de actualidade e passível de conter propostas inegavelmente interessantes, aparece-nos, quiçá desnecessariamente, a fazer a apologia da excomunhão da tão cautelosa quanto recomendada "canja de galinha", em defesa da uma sua outra "panca", esta pela tão conhecida - mesmo que não seja eu a discutir ou pôr em causa a extensa qualidade das sopas da sua região -, "sopa da cachola"!...

Felizes daqueles a quem a experiência da vida há muito ensinou de que há circunstâncias em que nos é vedado, expressamente, o abuso de...

Comida de "farta-brutos"!...

Leoninamente,
Até à próxima    

2 comentários:

  1. Resposta a JMT
    Eu explico:
    - São menos alunos;
    - São mais velhos;
    - Asseguram, devido à idade, o cumprimento das regras de segurança;
    - Não necessitam do acompanhamento dos progenitores e ,por isso, há menos pessoas em movimento e com possibilidade de transmissão do vírus.
    Acredito que haja outras, mas estas foram algumas das razões, com certeza , consideradas para a tomada de decisão.

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  2. Por outro lado, com menos pessoas a terem que sair de casa, há menos probalilidade de as mesmas serem infectadas.

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