quinta-feira, 7 de julho de 2022

Vamos todos esperar sentados!...


A lei e a ética de uma negociata

«A coisa já não andava famosa. Com tanta investigação judicial a lançar a suspeita sobre clubes, dirigentes e jogadores, seja na negociata das comissões das transferências ou na adulteração da verdade desportiva, a I Liga recomeça cada ano ferida por um clima de suspeição que se lhe agarrou à pele. Com tanta promiscuidade de compras, vendas e empréstimos entre clubes mais poderosos e a imensa legião dos mais fracos, a I Liga não se livra da fama de ser uma das menos competitivas da Europa. Com tantas dúvidas sobre as arbitragens, os truques de secretaria e uma acção disciplinar selectiva, a I Liga permanece como uma espécie de território onde não prevalece a justiça e o direito. Prevalece, isso sim, a adaptação cirúrgica de leis, regulamentos e portarias aos interesses dos mais poderosos e, entre eles, dos que melhor conciliam a regularidade competitiva e a capacidade de manobrar nos bastidores.

Com tanta má fama e dificuldades, que afastam as famílias e a decência dos estádios de futebol, só faltava mesmo que dois dos maiores clubes portugueses, o FCPorto e o Sp. Braga indexassem um negócio de transferência de um jogador a prémios que resultam do sucesso desportivo de um e a derrota do outro. Em qualquer país decente, o negócio feito por portistas e bracarenses representaria um claro conflito de interesses, para lá de um gigantesco atropelo à lei geral, começando, para não ir a um arsenal mais pesado, pela lei da concorrência.

Se o futebol é uma indústria, como gostam de apregoar muitos dos seus próceres, não é aceitável que os órgãos que o tutelam aceitem contratos de compra e venda e de trabalho em flagrante violação das leis da concorrência. Não é aceitável neste caso de David Carmo nem em nenhum outro. Espera-se, por isso, ainda que sem grande esperança, que o futebol e as suas instâncias de gestão e decisão, saibam tratar o problema nos territórios da ética desportiva e evitem abordagens legais mais complexas. Poderiam aproveitar este episódio lamentável para contrariar a cultura que deixaram crescer nos últimos 40 anos e dar o sinal de que tudo vale para falsificar a verdade do que se joga lá dentro das quatro linhas.»

Vamos todos esperar sentados!...

Leoninamente,
Até à próxima

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