quinta-feira, 26 de outubro de 2017

"Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não"!...



Com a devida vénia ao Mister do Café, descobridor do caminho digital para as "índias" de Fernando Gomes, fica por aqui um pequeno excerto das "velas" a que este senhor costuma recorrer para navegar nas águas turvas dos mares poluídos que serão o seu habitat natural e que lhe conferem toda a legitimidade e mais alguma para na Casa da República não ter pruridos de fazer as exigências que teve a hipocrisia, a lata e a pouca vergonha de fazer!...



Trova do Vento que Passa


Pergunto ao vento que passa/notícias do meu país/e o vento cala a desgraça/o vento nada me diz. 

Pergunto aos rios que levam/tanto sonho à flor das águas/e os rios não me sossegam/levam sonhos deixam mágoas. 

Levam sonhos deixam mágoas/ai rios do meu país/minha pátria à flor das águas/para onde vais? Ninguém diz. 

Se o verde trevo desfolhas/pede notícias e diz/ao trevo de quatro folhas/que morro por meu país. 

Pergunto à gente que passa/por que vai de olhos no chão/Silêncio - é tudo o que tem/quem vive na servidão. 

Vi florir os verdes ramos/direitos e ao céu voltados/E a quem gosta de ter amos/vi sempre os ombros curvados. 

E o vento não me diz nada/ninguém diz nada de novo./Vi minha pátria pregada/nos braços em cruz do povo. 

Vi meu poema na margem/dos rios que vão pró mar/como quem ama a viagem/mas tem sempre de ficar. 

Vi navios a partir/(Portugal à flor das águas)/vi minha trova florir/(verdes folhas verdes mágoas). 

Há quem te queira ignorada/e fale pátria em teu nome./Eu vi-te crucificada/nos braços negros da fome. 

E o vento não me diz nada/só o silêncio persiste./Vi minha pátria parada/à beira de um rio triste. 

Ninguém diz nada de novo/se notícias vou pedindo/nas mãos vazias do povo/vi minha pátria florindo. 

E a noite cresce por dentro/dos homens do meu país./Peço notícias ao vento/e o vento nada me diz. 

Mas há sempre uma candeia/dentro da própria desgraça/há sempre alguém que semeia/canções no vento que passa. 

Mesmo na noite mais triste/em tempo de servidão/há sempre alguém que resiste/há sempre alguém que diz não.
(Manuel Alegre, in 'Praça da Canção')

"Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não"!... 

Leoninamente,
Até à próxima

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