Sebastian Brant, um obscuro escritor alsaciano de expressão alemã, idealizou e produziu, decorria o longíquo ano de 1494, uma obra sem grande mérito literário, mas cuja repercussão ultrapassou fronteiras e séculos e chegou a todo o mundo e aos nossos dias. Para um escritor menor, ser recordado ao longo dos quinhentos anos que se seguiram à sua morte, algum mérito a obra tinha de possuir.
A ideia central do livro é muito simples. Numa era de navegações, a simbologia náutica era uma constante. Assim, Brant fez embarcar numa nave – a Sultifera navis – diversos tipos de loucos, 112 ao todo, originários de um fantástico país da abundância e fê-la atravessar um imaginário oceano de loucura, representando os passageiros todas as classes desses tempos: clérigos, nobres, mercadores, poetas, camponeses e artífices.
A Nave dos Loucos era, portanto, uma mística barca representando a «Civitas christiana» à deriva num mar de loucura e de inovações «sacrílegas», filhas do Renascimento, concebidas a partir das cinzas profanas da Grécia e de Roma e onde a cada um dos seus imaginários 112 loucos, Brant dedica um capítulo específico e pormenorizado, sendo que em cada um retrata um vício humano nele personificado: o louco da moda, o da avareza, o da discórdia, o da luxúria, o da gula, o da inveja, etc.
Estes últimos tempos conturbados que se vão vivendo em Alvalade fizeram-me, desgraçadamente, estabelecer uma triste analogia entre a obra de Brant e... o Sporting Clube de Portugal.
Navega nos mares da loucura de Alavalade, uma autêntica Nave dos Loucos. A alguns "passageiros", pela verborreia e intenções suspeitas, venho chamando de forma ligeira e demasiado superficial, de "papagaios". A outros, também pecadores da palavra, até poderei dar algum benefício da dúvida quanto às intenções, mas terei poucas reservas sobre a efectiva contraproducência das mesmas. Outros ainda, apesar de silenciosos e discretos, pergunto-me muitas vezes se o pecado de omissão que lhes é subjacente e a forma como quase secreta e insidiosamente se movimentam nos bastidores, não conduzirão muitas vezes a consequências tão ou mais nefastas que o espalhafato palavroso dos primeiros.
Mas tanto papagaios, como andorinhas, corvos ou cucos, significarão bem mais do que as suas acções ou atitudes possam fazer sugerir . Serão porventura todos eles, exactamente comparáveis aos 112 loucos de Brant.
Hoje, João Pedro Varandas, aqui referido e Pedro Venâncio cujas palavras aqui foram sublinhadas, acrescentaram o seu nome ao extenso rol de "loucos" da famigerada "Nave dos Loucos" que se me afigura ver navegar nas águas do "oceano de loucura" em que se tornou Alvalade.
De Godinho Lopes e Nobre Guedes a Luís Duque e Carlos Freitas, de Ernesto Ferreira da Silva, Miguel Salema Garção, Dias Ferreira e Bruno de Carvalho a Vicente Moura, José Eduardo, Carlos Xavier, Augusto Inácio e Marco Caneira, de mais uns quantos até outros tantos, ninguém estará a salvo de se ver incluído nessa gigantesca onda de loucura que parece varrer o Sporting!...
Pobre Sporting Clube de Portugal a quem todos parecem querer, cada um à sua maneira, fazer mal e nunca mais encontras quem te desvie desta dramática rota de navegação em círculo, no "mar de loucura" para onde te empurraram os ventos da desfortuna!...
Continua a saga do treinador que há muito deveria estar em Alcochete a juntar e a colar os cacos que todos terão provocado em processo doloroso de que ninguém terá saído inocente. Porque não há um líder, porque não há um rumo, porque não há quem decida, porque se estouraram milhões e agora se discutem tostões!...
Ai Sporting, se todos eles soubessem o mal que te estão a fazer !!!...
Leoninamente,
Até à próxima
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