Lavam-se com muito custo os cestos. A vindima acabou. E as mãos gretadas com que vamos escovando e preparando os vimes já gastos de tantas safras de insucesso, são a imagem do que vai cá dentro de cada um de nós, sportinguistas.
Não adianta chorar sobre leite derramado. Nem sequer acreditar na trágica sina que ano após ano, sinistramente, muitos pretendem ver desenhada na palma das nossas mãos. O destino do Sporting é ser grande e se ultimamente temos deixado empalidecer a nossa estrela, deveremos tão só, reflectir séria e profundamente nas causas subjacentes a tão confrangedor insucesso. E encontrarmos, juntos o vau que nos permita cruzar seguros, o rio que ameaça quase permanentemente a segurança que desejamos.
Ricardo Sá Pinto teve uma semana para esquecer e o corolário que ontem se abateu sobre os seus ombros, devendo necessariamente servir-lhe de lição, não lhe belisca o mérito do que conseguiu neste tão curto espaço de tempo em que liderou a equipa do Sporting. Não está em causa a continuação do seu trabalho, na exacta medida em que o tem vindo a fazer, mas terá esgotado ontem, como qualquer debutante, o período de graça e de comovente e acrítica idolatria com que os adeptos o receberam. Porque revelou as primeiras falhas em termos comunicacionais. Porque falhou estrondosamente na preparação anímica da equipa para um jogo com a importância desta final da Taça. E porque estendeu esse seu falhanço aos aspectos tácticos e de escolha do colectivo que fez entrar no Jamor.
Entre todas essas tão inabituais quanto surpreendentes falhas, destacarei aquela que em termos de comunicação terá cometido e que não pode nem deve ser jamais o ponto de partida para a criação de um desadequado e de todo desaconselhável ódio de estimação, tão habitual num seu antecessor, hoje promovido à responsabilidade máxima da selecção, mas que continua inflexível nos ódios. O assunto que abordou em termos menos felizes, na conferência de imprensa que conjuntamente fez com Pedro Emanuel no lançamento desta final, sobre Adrien Silva e que determinou uma muito apropriada resposta do seu homólogo, poderá muito bem determinar a criação de um desses famigerados e perniciosos ódios, que nunca conduzirão um treinador para a melhor posição, a da defesa intransigente da instituição que representa e deverá defender em todas as circunstâncias. Inadmissível que a ferida aberta por Sá Pinto - sendo certo que o silêncio respeitoso de Adrien teria sido preferível - possa beliscar, minimamente que seja, o regresso do promissor médio a Alvalade. Se Sá Pinto tivesse preferido uma boa gestão do silêncio, Adrien não se teria sentido espicaçado a tal ponto de ter sido considerado o melhor jogador em campo no Jamor. E por tabela ou solidariedade, outros leões que o acompanharam na glória, que poderia e deveria ter sido nossa.
No final do jogo, nova falha de Ricardo Sá Pinto. Afirmar que quando sofremos o golo que ditou a vitória dos estudantes estávamos a dominar, é uma fuga para a frente que todos os que estavam no Jamor sabem que não corresponde minimamente à verdade. E dizer que durante a semana a equipa lhe tinha dado indicações de que estava bem preparada, soa a defesa exagerada, que a má prestação da equipa não fez por merecer. E o jogo veio a demonstrar que, ou as indicações terão sido falaciosas ou a análise pouco profunda, ou o grau de exigência demasiado baixo, muito provavelmente porque até o corpo técnico terá interiorizado um pernicioso excesso de confiança.
Ricardo Sá Pinto deixou a impressão neste jogo que, passado que está o efeito galvanizador dos primeiros meses e à semelhança do seu antecessor, está a deixar que se instale na equipa o terrível "síndrome dos pequenos", que é uma coisa parecida com a linguagem dos bêbados: gaguez, repetição compulsiva e soluços, muitos soluços. Quanto mais débil é o adversário e mais reforçada e recuada na defesa a equipa adversária se exibe, mais dificuldades se nos apresentam. A equipa tem demonstrado uma qualidade de jogo muito superior quando defronta adversários com uma categoria mais próxima ou mesmo igual ou superior à nossa. Isto representa a negação pura da essência de um desporto colectivo como é o futebol. Se acontece, algo estará errado na preparação anímica, física ou táctica desse colectivo. O nosso Sá Pinto deverá reflectir nesse "pormaior" e promover um arranque da nova época, completamente desligado desses vícios que lhe poderão minar o futuro. No futebol poderão pontualmente acontecer excepções, mas a regra será sempre o mais forte sair vencedor e afirmar inequivocamente essa supremacia.
Adrien Silva e Cedric Soares, "berraram" em alto e bom som que o seu lugar é no Sporting. Ai de Ricardo Sá Pinto se entender o contrário do que todos os sportinguistas ontem viram no Jamor. E o contrário, ficou também clara e definitivamente demonstrado por alguns jogadores do Sporting. Polga e João Pereira assinaram a carta de renúncia: o primeiro porque os anos não perdoam e o futebol sul-americano pode disfarçar as suas já demasiado notórias deficiências, o segundo porque aos sportinguistas afirmou em definitivo que é irrecuperável e que é urgente uma mudança de ares, para bem do Sporting e dele próprio. Matias, Onyewu, Jeffrén e Elias, colheram apenas o benefício da dúvida para uma nova época, mas sob vigilância apertada: ou se decidem e atingem os pressupostos do "rendimento mínimo" ou terão de procurar um novo emprego já em Janeiro. Em todos os restantes foi notório o sub-rendimento determinado por uma época em que foram claramente espremidos até à úlima gota: constituirão o núcleo duro da próxima época, a menos que a voracidade do mercado o impeça.
O prometido prémio de vitória e a anunciada festa de Alvalade, revelaram-se duas más opções dos responsáveis. Significaram, o primeiro, desmotivação e a segunda, excesso de confiança. Ambos com uma carga negativa tremenda, que deverá servir de lição para o futuro.
Um central de elevadíssima e comprovada categoria, um ponta de lança para pegar "autenticamente" de estaca, os regressos de Nuno Reis e Wilson Eduardo e uma " super" equipa B, treinada por um "monstro sagrado" da formação jovem, mestre de táctica e capaz de estabelecer com Ricardo Sá Pinto todas as pontes possíveis e imagináveis, será tudo o que peço para a nova época. O dinheiro é curto e a vida está difícil. E já agora, um investidor com muito dinheiro e bom feitio. Alguém conhece?!...
A Taça?!... Já era! Parabéns à Associação Académica de Coimbra!!!...
Leoninamente,
Até à próxima
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